domingo, 25 de dezembro de 2016

Prioridades

Era madrugada da véspera de natal. Podia escrever Natal, mas isso é dar uma importância muito grande a uma data conhecida por mesa farta de comida, presentes, mas nada a ver com nascimento ou natalidade - é verdade que alguns cristãos até fingem ter a data a ver com o nascimento de Jesus, mas isso nunca foi nem nunca será confirmado, e eles mesmo, a ver pela cultura, preferem comemorar muito mais a morte, que foi quando o nazareno ganhou fama e importância para a humanidade, do que o nascimento, quando era apenas mais um bebê com cara de joelho (embora nascido num estábulo, mas meninos e meninas nascidas em lugares ruins tem a ver com pobreza, não com religiões). Mas como disse, era véspera de natal, e nosso protagonista, um ateu convicto e descrente de muita coisa, mas também crente em outras que não o colocavam o rótulo de crente. Zombeteiro, sem ter o que fazer, fez um post em seu facebook, com fotos de um livro de bruxaria e demônios, dizendo estar preparando o ritual natalino. Nada de importante, gerou algumas risadas, algumas curtidas, mas não mudou em nada o natal, ninguém passou a fazer uma missa satânica no dia 25 por causa de sua piada. Mas como era o primeiro natal que chamaria pessoas para passar em sua casa, recém-casado com a namorada de oito anos, ele queria fazer uma graça com os elementos anticristãos que possuía.
Quando acordou, ainda véspera de natal, checou o facebook: muitas curtidas em seu post pseudo-satânico, ficou satisfeito, parecia até que estava fazendo algo de realmente útil contra a cultura cristã, mas na verdade não bastava de mais uma gracinha que agradava alguns amigos. Feliz da vida, passou aos preparativos para a festa de mais tarde - pois sim, era ateu, mas não dispensava uma boa mesa farta, não importa se a comemoração era por deuses ou por diabos. Desfiou uma arraia e começou a fazer hamburger do exótico peixe: misturou queijo, salsinha, ovo e sal na arraia desfiada, e usando a mão, modelou os pequenos discos. Quando estava colocando-os em um tabuleiro, para congelar antes de assar, sentiu uma pontada no peito; uma dor lancinante (pois apenas lancinante passa a intensidade de uma dor dessas que não sabemos descrever, mas temos a consciência de que se escrevermos lancinante, mesmo sem a maior parte das pessoas saber o significado da palavra, alcançaremos o objetivo de descrever o quão forte foi a dor) subiu-lhe até as narinas, fazendo levar a mão ao lado esquerdo do tórax. Cansou, apoiou-se na cadeira, esbugalhou os olhos e buscou fôlego para continuar no artesanato gourmet. Voltou e tentou apressadamente terminar os dois montinhos de mistura, enquanto continuava a sentir as pontadas, e quando terminou o último - de forma mambembe, diga-se de passagem, ficou mais parecendo uma gota de chuva deformada do que um pequeno disco -, já não enxergava quase nada, uma tela preta havia quase que por completo substituído sua visão. Impulsionado pela dor que ditava o ritmo de seu caminhar, subiu as escadas para se jogar em sua cama. Ao entrar em seu quarto, passou pela mulher, que limpava o banheiro, e cuspiu desesperado algumas palavras para informar o mal que lhe acometera.
- Tô passando mal... deitar...
Encaminhou-se para a cama. A mulher veio atrás, desesperada, pois o havia visto, suando feito um porco que está prestes a ser abatido e sente o cheiro de sangue do companheiro de cela. Ela estava muito preocupada, pois ele estava realmente molhado de suor. Ela o acompanhou e gritou, alucinada:
- Na cama nãaaaaao!!! Eu acabei de trocar os lençóis!!!
Ele, perdido e com o pensamento em três mil coisas que não o quão sujo e suado ele estava, muito menos o quão limpo e novo era o lençol, ficou parado, aturdido, sem saber o que fazer. A mulher apontou-lhe um pequeno espaço de uma cama de solteiro ao lado da cama de casal, entulhada de objetos que não tinham onde ser colocados, para a casa parecer arrumada ao menos por um dia. Ele olhou e percebeu que não cabia no espaço que lhe estava sendo destinado, mas não havia jeito, melhor morrer sossegado encolhido em um canto do que com uma megera lhe enchendo os últimos momentos onde poderia pensar em oito mil coisas, entre desenhos de infância, músicas e filmes que o marcaram e mulheres a quem já homenageou na punheta desde que tinha seus sete, oito anos (era um grande rol para passar em microframes), mas teria tais memórias interrompidas por "tá sujando tudo!", "você não me ajuda", "vai lavar essa merda", etc. Caiu na cama de solteiro.
A cada respiração, seu peito parecia comprimir-se e a dor agora passava das narinas, chegava-lhe aos olhos. A namorada que casou-se com ele já havia voltado tranqüila para o banheiro, agora que a limpeza do lençol estava garantida. E o nosso protagonista, conformado com o que lhe passava, permitiu-se ter o sossego dos flashes do fim de sua vida. Em um desses momentos que duram menos que centésimos de segundos, uma das lembranças recentes foi o post da madrugada, o tal das fotos satânicas. Interromperam-se as memórias, um link havia sido feito e tomou uma decisão: não podia morrer! Não, não se achava forte de saúde, nem havia um objetivo de vida tão forte assim para manter o pensamento positivo, mas era algo pessoal: o post satânico na véspera do natal poderia ser usado como prova de que Deus (com D maiúsculo para que todos saibam de qual boi estou falando) o havia castigado; e só de pensar que, ele blasfemava quase os 365 dias do ano, e não, uma blasfêmia no dia de sua morte não podia ser utilizada para espalhar medo e boatos sobre blasfêmias e zoeiras. Ele sabia que isso nada tinha a ver: o fato de comer muita gordura e nunca fazer exame de sangue sim. Mas não, os crentes de religiões não querem saber de evidências reais; eles querem boas histórias que podem assustar o povo e parecer verídicas; querem fazer ligações entre coincidências de certa forma até engraçadas, para espalhar o pânico de seu deus (o Deus, o boi cristão...), o vingativo e cruel que pune quem faz humor com uma religião qualquer entre sei lá quantas mil. Definitivamente não podia morrer. Não hoje, enquanto aquele post estava sendo curtido e seria usado contra ele. Esforçou-se e lançou um grito de dor para a namorada (com quem casou-se), e pediu para ir ao hospital.
Foi, e aqui acontecem coisas totalmente desinteressantes à história, e podemos encurtar com a máxima: ele sobreviveu. Os memes anti-religiosos podem continuar sem medo, pessoal. Graças ao nosso mártir, o protagonista sem nome.
Que seja louvado.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Hora da Aventura




Dedo quase quebrado mas estou bem! Não agüento mais a violência urbana! Agora vem textão...
Ontem, ao sair de casa, botei uma bermuda, peguei a camisa que já tinha usado uma vez, pra usar a segunda vez e botar pra lavar depois (geralmente o modo de vestir é assim, aleatório). Só quando estava no centro é que percebi que eu tava parecido com o Finn. Beleza. Fiz tudo o que tinha que fazer, comprei uns copos vermelhos (rojo, rosso mesmo, achei bonitão), e fui, todo pimpão, voltando para casa.
Passei pela Candelária e seus locais estranhos, à noite, sempre resguardando os copos vermelhos e minha fiel companheira, senhorita Mochila. Peguei o trem. Desci em Marechal (na real desci em madureira e peguei o parador pra marechal, mas foda-se, né?). Comprei um açaí, porque não se vai a marechal sem comprar ou batata ou x-tudão ou açaí, é tipo ir a Roma e não querer ver um cristão ser comido por um leão. De açaí (de morango com paçoca, granola e, por que vocês fazem isso - mas é tão gostoso -, a gordice do chantilly) e os copos em mãos, caminho, pra chegar ao valqueire. No ponto onde marechal escurece, eu continuo pimpão, mas sobe uma trilha de background meio de suspense, meio de terror. Assustado com aquela mudança de ambiência sonora repentina, olho para trás prá ver se aconteceu algo que justificasse aquela trilha sonora, e percebi: a vida botou dois personagens, não tinham cara de figurantes, de que apenas passariam por mim, sem falar nada; aliás, esqueci de dizer, mas sou o protagonista da história. Sei que não tenho cara de protagonista, mas por se tratar da minha vida eu não tinha escolha: tinha que aceitar o papel de protagonista. Enfim, os dois sujeitos pareciam que iam interagir com o protagonista, e realmente o fizeram. Dando passos mais rápidos que os meus, me alcançaram:
- Tá carregando o que aí?
Eu estava sozinho, já que não considerava a companhia dos dois como não estar sozinho, e pensei "vou perder meus copos rojos".
- Pô, tô só com açaí e uns copos, cara... - respondi, meio trêmulo, já que o saco com os copos estavam em uma mão e o açaí na outra, sem me deixar nenhuma mão livre pra esboçar reação, mesmo de defesa, tranqüilo.
- E essa mochila aí? - perguntou, depois de constatar que eu carregava um açaí e um saco com um embrulho de jornal, indicando que comprou vidro em lugar de pobre.
- Porra, a mochila tá rasgada, cara, olhaí... Só tem um livro...
Porra, tinha acabado de começar a ler Jangada de Pedra, tomar no cu que os caras iam roubar meu livro. Os dois se entreolharam, não deu pra saber o que pensavam bem porque estava escuro e estavam de capuz. Um deles falou, então, decidido:
- Já é. Vai lá, então, mas deixa o açaí pá nóis.
Virei e pela primeira vez encarei meu interlocutor.
- Não! O açaí, não, mermão.
Ele pareceu surpreso, arregalou os olhos. Nem olhei pro outro.
- Tô indo a pé pro Valqueire pra tomar meu açaí tranqüilo, podia ter pego ônibus, tô economizando... - nesse momento recolhi meu açaí, como se ele estivesse sob minha proteção, e aguardei a merda que ia dar. Porra, logo hoje que eu tava vestido de Finn, cacete, não; tinha que ter minha aventura e lutar por alguma coisa.
Os dois vieram pra cima e eu dei um chute aleatório, no ar, demarcando meu território de defesa (a única coisa que eu podia a fazer, ou então quebraria os copos ou cagaria todo mundo de açaí, e aí não faria sentido, porque ia ficar sem açaí do mesmo jeito). Eles recuaram. Um deles riu, e foi se afastando, desistindo pelo surrealismo da batalha. O outro ficou puto, e antes de ir embora, pegou um pedaço de madeira e partiu pra cima de mim.
- Ou passa o açaí ou eu vou derrubar o copo...
Não respondi nem passei. Permaneci encarando. Ele desceu com o cabo de madeira em direção ao copo de açaí, ia pegar no chantilly e fazer uma cagada gigante. Virei a mão, o suficiente para que a inclinação não entornasse nada do copo e ao mesmo tempo para que a madeira suja não contaminasse meu açaí. Obtive sucesso no meu objetivo, mas a madeira acertou em cheio meu dedão da mão esquerda. PUTAQUIUPARIU que dor! Mas não caiu uma gota de açaí no chão. O cara que me deu a pancada jogou a madeira no chão e saiu xingando, enquanto o comparsa ria e o chamava, mais a frente.
Cheguei em casa feliz, com o açaí e os copos vermelhos, vestido de Finn, e tive minha aventura.
Massssssssss... É provável que digam que metade disso foi invenção, e o dedo roxo com vaso estourado foi conseguido com algum idiota arritmado tentando tocar bateria e acertando o dedão esquerdo com força ao tentar acertar o prato... Intriga da oposição. Você escolhe aí no que vai acreditar...

sábado, 17 de dezembro de 2016

Dalton e suas peças

Saara. Procurar uma loja que venda futon, onde a Luciana comprou dois futons marrons "para testar", gostou, e resolveu que todas as cadeiras da mesa deverão ter os mesmos futons. Bom, preciso achar a loja, a qual não tenho nome nem endereço, mas já fui à loja (foi onde ela comprou um tecido breguíssimo, natalino, pra colocar na mesa durante a festa da comilança... Enfim...), e as informações extras que tenho é de que fica ou na Rua da Alfândega, ou na Senhor dos Passos, perto da Avenida Passos. Ok.
Passeio pelo Saara, procurando a loja, mas também me encantando com as bugigangas que as lojinhas de chineses, árabes, sei lá quais mais nacionalidades, vendem por ali. Me distraio, vejo espadas samurais, máscaras de diabo, pisca-piscas. Me distraio pensando no plural de pisca-pisca também. Mas vou, volto, e enfim, acho a tal loja. Acabou o futon. "Mas tem uma filial nossa logo ali!", me aponta o vendedor, coroa simpático. Fui na filial. Nada de futon. Uma amiga do trabalho me falou de futon nas Casas Franklin. Vou lá. Acho futon. Ok! Mesmo preço, beleza! Mas o marrom que tem lá não tem os lacinhos para amarrar na cadeira... Com lacinho, só vermelho e vinho. Não, não dá... Ok. "Bom, você pode achar mais na frente, na Requinte!", me indica o vendedor da Casas Franklin, desapontado após checar o estoque e ver que não tinha o produto lá.
Vou à Requinte. Olho pr'um lado, pro outro... toalhas, lençóis... nada de futon. Uma vendedora chega e me pergunta se pode ajudar. Sai quase uma pergunta, quase um desespero desanimado da minha garganta: "futon?". Ela abriu um sorriso e pediu que a seguisse. Me apontou um mundo de futons. "Hm, tô procurando 6 marrons!" Peguei dois que achei, ela pegou mais dois. Ela olhou para os meus.
- Olha, isso não é marrom, é verde!
Eu olhei, vi marrom.
- Ah, é tudo marrom pra mim.
Ela pegou os que ela estava segurando (segundo ela, marrons), e colocou em cima dos meus. Eram meio diferentes mesmo, mas para mim, continuava tudo marrom.
- Ah, mas tem 6 marrons? - perguntei, sem largar os meus marrons, que ela dizia serem verdes.
Ela me levou à outra ponta da loja. Mais uma pilha de futons. Azuis, vermelhos e cinzas aos montes. Mas tinham apenas 2 marrons (do dela, que deixe bem claro... do meu marrom não tinha nenhum).
- É... só tenho esses 4 marrons na loja mesmo...
- Moça, eu preciso de 6 marrons, e eu estou vendo 6 marrons aqui...
- Mas esses são verd...
- Tem 6 marrons?
- ... Tem esses 4 marrons...
- Eu preciso de 6 e estou vendo 6...
Fiz uma cara de "poxa, você está atrapalhando a sua venda...". Ela entendeu.
Pegou os 6 futons marrons e levou para o caixa.
Comprei os 6 marrons, sabendo que dois eram filhos do padeiro.
Encontrei com Luciana, que chiou falando que eram diferentes. Ignorei, pois marrom ou marrom, era tudo marrom pra mim, e ia ficar na bunda... ninguém liga.
Ao chegar em casa, bela surpresa: Luciana deu conta que os futons "marrons" que ela havia comprado eram iguais aos futons que a vendedora chamou de verde. Ou seja, se ninguém sabe diferenciar marrom de verde olhando normal, que dirá com o olho do cu. Ficou tudo misturado mesmo.

Coisa véia...

Mais um post resgatado do facebook... Há 4 anos atrás...

Centro da cidade. Largo da Carioca. Pastor maluco. Placa "Você Merece o Inferno!". Megafone. "E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva ao céu. Está escrito em Mateus!", diz o maluco. Eu olho e penso: "Hmm... Mateus se amarrava num cuzinho..."

É... pensamentos de 2012...

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Festa de fim de ano do trabalho

Mesas de madeira
Copos de vidro
Taças de cristal
Pratos de porcelana
Talheres de pratas
Relacionamentos de plástico.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Pesquisas que dão no blog

Preciso fazer esse compilado.
O blog me passa as pesquisas do Google que fazem as pessoas cair no meu blog de vez em quando. E acreditem, só BIZARRICE.
Não sei por que, parece que há uma ligação entre bizarrice e meu blog... veremos...

Em julho de 2016, quando comecei a ver isso, duas pérolas, de cara:
"o Pou a privada é muito chato porque eu gosto de mim Caraca que que que que" : sério, era exatamente essa a pesquisa google que o animal fez... e porra... aparece meu blog na primeira página da pesquisa... Não sei se o pesquisador ou o meu blog é mais doente...

"imagem de pedreiro virando concreto zoação" : ...

Em agosto, mais 3:

"eu sou tão santinho" : ah, normal, normal... sai pra lá...

"haikai barba" : Uou! Esse parece até que tava me procurando.

"quanto de minhoca de lambida" : Cara, eu adoro as pessoas que caem no meu blog com essas pesquisas.

Em setembro, a pessoa pesquisa:
"estupro cunnilingua": sim, você acha isso aqui.

E dezembro vem com tudo:
"Gostosa desatolando a calsinha do cu"
DESATOLANDO CALSINHA (COM S) DO CU : Aparece o blog no google. Público refinado é isso...

P.S.: Em dezembro ainda rolou "Tae - Minha coxinha de Catupiry"

OBS: se você não acredita que essas frases aparentemente (??) sem sentido levam ao meu blog, joguem isso no Google.A maioria aparece logo na primeira página, algumas vezes na segunda... Óbvio que com o tempo talvez mude, mas enfim... acreditem, eu fiz o teste todas as vezes... e apareceu mesmo.

P.S.: Atualizando, em janeiro, mais uma pérola:
"açai imagens engraçadas sobre crente". Gostaria de entender o que tem a ver o açaí, o crente e as imagens engraçadas, mas pelo visto, consigo reunir tudo isso aqui hehehe.

P.S.: Agora, primeiro de março de 2017, mais uma, que pode ser achada na página 2 da pesquisa:
"300 tipos de bucetas em 2 minutos" HAHAHAHHAHAHA CARA, só doente.  E queria saber o que ele pretende fazer ao ver TREZENTOS TIPOS de buceta em DOIS MINUTOS!!!

P.S.: 26 de março de 2017, TRÊS PESQUISAS BIZARRAS que acabaram atraindo mais um leitor satisfeito. Segura que vem bizarrice pesada:
1) "boto no cu ela deu tremelique" - O conto "O Ódio nasce em uma foz chamada amor" aparece na primeira página.
2) "os pau mais gostozos marom bombom" - A paródia "Ânus 90" aparece na primeira página.

3) "mulhe coloca obigeto na buceta para emtra na cadeia" - Sinceramente, fiz a busca e parei na quarta página. Não entendi como essa pessoa chegou no blog através dessa pesquisa e me deu preguiça de continuar.

P.S.: 28 de março de 2017, mais uma pesquisa "erótica"...
"meteu no cu dela a força mas entrou parte1" WTF? Sim, mais uma vez, o conto "O Ódio nasce em uma foz chamada amor" aparece na primeira página.

P.S.: 31 de março de 2017, mais uma doente.
"quando uma mulher puxar a calça legging pra cima chamando atenção na sua buceta  ela  quer diz o que ?" As dúvidas dos xovens. AHHHHHHHHHHH... Infelizmente o blog aparece com um conto terrível que eu até desisti de escrever no meio... em primeiro lugar =/

P.S.: 18 de abril de 2017, só tarado, duas pesquisas...
"meninas d 14 anos com legging marcando o bucetao" . Cara, por que isso? Tara é tão doentia que só na página 3 aparece meu blog, a página de Fevereiro de 2016. Por que tem que ser de 14 anos???

"assistir videos de lambeção de xoxotas assistir agora" Novamente aparece o mês de Fevereiro de 2016 do meu blog, mas dessa vez na primeira página. Buceta é a paixão mundial mesmo.

P.S.: 25 de abril de 2017. O mundo está começando a me fazer realmente apagar um post. Um texto que eu já acho ruim (tanto que parei no meio, mas publiquei) é o que faz mais pessoas doentes virem parar aqui...

"o peão girou.na minha buceta" - Lá está, na segunda página, o blog, na parte de Novembro de 2016, trechos de "Miss Patada" aparecem...

"botar aquela música sarrando sarrando sarrando e ficando você por cima de mim com vestido levantando" - Novamente, na página 6 aparecem trechos de Miss Patada, e o blog, de Novembro de 2016.

"Abra a geladeira pega a limonada" - Beleza, aqui foi sadio. Página 2, texto LIMONADA aparece.

"menina da buceta pro cão tira foto compartilhada no grupo whatsapp" - Primeira página aparece Fevereiro de 2016, no Blog, com trechos do Ódio Nasce em uma foz chamada amor.

P.S." 4 de maio de 2017. Cara, o mundo deu errado. Muito errado.

"o pai do  chico brnto cumendo  a buceta da  professora" ??????? Que tara é essa? Primeira página... Março de 2017.

"Fotos lmagens cochudas de pernas crusadas fotos do face" . Segunda página, Fevereiro de 2016. 

P.S.: 9 de maio de 2017. Os pervertidos estão fazendo a festa.

"Mazoquismo atirando bolas de espinho na bunda porno"
Aparece na primeira página, Textos de 2009... Eta lelê...

P.S.: 12 de maio de 2017. Finalmente pesquisas "normais". Não entendi o que estava sendo pesquisado, mas ok...

"pra vc que fazer enfernum"
Aparece de cara , em primeiro lugar, Agosto de 2016, e o Google corrige o "enfernum" por "infernum" :D 

P.S.: 14 de maio de 2017. Outro mongolóide. 

"parodia voce comeu o cu do anao"
Caralho. A internet... Enfim, aparece no final da primeira página, dezembro de 2013. 

P.S.: 27 de maio de 2017.  Fazendo escola

" o q e grelo de buceta informaçoes"
PRIMEIRO LUGAR NA PESQUISA. O "Portal de Informações" aparece logo de cara! Que lindo!

Deus Sadomasoquista

Sabe como os sadomasoquistas chamam o deus deles?


De CRIA DOR! Prum Trum Txxx!!!

Durma com um barulho desses ;)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Demônios

Dieta e dezembro
Don't dialogam:
Dois dias
De diarréia.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Sonho louco - Exodus

Sonhei que estava em um show do Exodus, mas o show, que era uma forma alternativa de "show no teatro Odisséia", acontecia em um ônibus. Era um ônibus que só tinha bancos do lado esquerdo, e um corredor generoso. Todos estavam assistindo ao show sentados, mas eu e mais duas pessoas, uma delas o Ricardo Schmidt e o outro o Tiago Meneses, ficamos em pé no corredor. Curtimos o show, os caras tacavam brindes de vez em quando: tacaram camisas e um All Star preto e vermelho, logo de cara; o Ricardo pegou a camisa, o Tiago pegou o All Star, eu não peguei nada. Tudo corria bem até que uma hora eles pediram para que agitássemos e fizéssemos uma roda (fizeram aquele gesto clássico de metal, pra formar o "pit", girando o dedo). Sim, fazer uma roda em um corredor de ônibus. Ae fiquei esperando a guitarra começar, e quando começou, estava só playback. Não agitei, esperei vir o som de show mesmo... e nada. Deu merda. Os técnicos de som começaram a mexer para saber o que era. Nisso, eles tacaram umas vasilhas de mexer bolo. Eu peguei uma e joguei pra outra pessoa. O Ricardo veio reclamar comigo falando que queria. Eu fui falar com o vocalista, que não era nenhum vocal do Exodus, e ele deu uma vasilha pro Ricardo, e eu aproveitei pra fazer uma piada idiota, do tipo "ele é vegan, não bate bolo, só gosta de pinto", algo assim. Eu peguei uns box com CDs e DVDs, e guardei na minha mochila. O Shane tava tocando baixo pro Exodus, e curiosamente, estava sentado no banco ao lado da minha mochila, assistindo ao show. Na real ele parecia mais que estava dormindo. Enfim. Quando resolveram o problema técnico, o pessoal da banda voltou, e estavam vestidos como se fossem do Manowar, cueca de couro, e todo mundo riu, zoando. Mas o som não veio, continuou playback. Aí pararam o show. Pedi uma palheta pro Gary Holtz, que me deu uma palheta grande, que parecia um desenho de um cu. Depois, com o passar do sonho, no que eu fui mostrando essa palheta, ela acabou virando uma parada de plástico que era do tamanho da minha mão e formava a imagem de um leão. Enfim. Aí nesse meio tempo eu virei técnico de som e tentei ajudar o pessoal, mas aí não era mais um ônibus, já era um local e teve que tirar almanaques do He-man e várias revistas em quadrinhos de lá para ver o que estava errado.
E acordei.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Espírito natalino

Bondade, amizade, fraternidade... Chega o final de ano e embora a palavra de ordem seja "consuma", as pessoas ainda tentam se enganar com esse lance de espírito natalino e fingem de brincar de santas.
Uma regra: a vida é uma merda, e as pessoas é que fazem isso. Tudo espírito de porco que durante um mês do ano vem com o papo de "é tempo de (substantivo positivo good vibe de merda)". Meu ovo esquerdo!
O negócio é que não consigo esconder minha escrotidão em tempo nenhum, e sinto-me isolado: todo mundo querendo dar presente, participar de amigo secreto e eu sempre na busca de espíritos de porco declarados para o infame: inimigo oculto. Melhor brincadeira, você gasta dinheiro para zoar a pessoa que você tirou!! Se você gosta da pessoa, zoa! Se não gosta, zoa também (óbvio que aí pode pegar mais pesado, atingir o calcanhar de Aquiles daquele feladaputa...). Tem alguma troca de presentes mais foda? Pode vir regada a palavrão; na descrição do seu inimigo oculto para os outros tentarem adivinhar, pode começar a irritar já... Enfim.
Enquanto o clima for de amenidades o natal vai ter sempre essa aura bosta e uva passa nas comidas.

HaiCU Smartphone

De nada adianta
Ter o melhor smartphone
E ser o maior dumbfuck.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Meu dia com o Veríssimo


Escrevo para geralmente fugir da minha realidade. Mas não dessa vez. Dessa vez escrevo para agarrar-me a uma realidade que nenhum alzheimer (espero eu) poderá destruir! E sim, tive meu dia de fã sem vergonha. Quer dizer, um pouco envergonhado, sim, já que não consegui sequer dizer o que queria para o velhinho sentado à minha frente, cujos livros antigos me incentivaram (E MUITO) a escrever um monte de besteira! E há um feito no dia de ontem que quero eternizar através de meus relatos.
Veríssimo, em um papo com Zuenir Ventura e Marcelo Dunlop (jornalista que catalogou frases dele - Veríssimo -, que saíram no livro "Veríssimas"), muito contido, pouco falou, e o que disse foi naquele tom sereno, do velhinho tímido que pareceu mais animado apenas nos momentos em que falou de suas merdas da juventude e, não necessariamente animado, mas com vontade de falar, quando o assunto foi o seu Internacional. Ok, foi bacana, mas foi meio corrido, com o Zuenir tomando conta do papo, falando muito mais do que ele. Mas... fim do papo, e corre-se para o canto dos autógrafos, onde Veríssimo estaria autografando seus livros, e o Zuenir também - confesso rapidamente que nunca li a Cidade Partida, nem o livro da série Pecados Capitais dele, a Inveja... Enfim, estão na minha eterna lista de livros a se ler, e pretendo ler um dia... mas fui pra ver o Veríssimo mesmo.
Eis que lá estava à venda o novo livro, o "Veríssimas", e a grande maioria estava comprando o livro ao lado do canto do autógrafo, para ter o que ele autografar. No entanto, do alto de seus 80 anos, após o susto que deu em todos no início do ano, o bom velhinho (foda-se o Papai Noel!) para enfrentar a bateria de autógrafos que teria que dar, sabiamente preparou 3 carimbos de autógrafos, onde um deles era apenas um desenho. Fiquei um pouco amuado, pois aquele cara é realmente importante pra caralho na minha vida literária: comecei lendo suas crônicas que saíam no jornal, depois as tirinhas das Cobras, e depois procurei os textos do Analista de Bagé, e outros personagens fodas que ele criou. Quando eu lia os livros dos contos do Analista, ou do Velhinha de Taubaté e outros contos, eu pensava comigo mesmo: como é que aquele velhinho na dele, com aquele sorriso sereno, podia escrever aquelas grosserias - que me davam raiva por não conseguir expressar as mesmas idéias com a mesma genialidade, mas ao mesmo tempo me deixava feliz pra caralho de conhecer tal literatura, genialmente boa!-? Como eu queria gritar pra todo mundo "O Veríssimo que vocês adoram, e compartilham só frases idiotas que nem são dele na internet, tem um ogro por dentro e já escreveu frases que deixariam vocês com vergonha, seus merdas!", para todos os amantes da falsa literatura. "É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata..." é mi verga, carajo!!! Como já dei bronca em sogro e pai no Whatsapp por compartilhar texto nada a ver (alguns anti-PT inclusive) como se fosse de autoria dele...
Mas eu estava falando dos carimbos. Pois tinha que me contentar com o que havia, e se o autógrafo era carimbo, carimbo seria! Pois na hora de entregar os livros, entreguei "A Velhinha de Taubaté", um livro antigo que comprei num sebo, e que é bruto feito gaúcho, "tchê!", e a antologia das Cobras. Quando botei o "Velhinha de Taubaté" na mesa, o tal Marcelo, que fez a compilação dos aforismos dele pra esse livro, e deve ter lido a porra toda, ainda botou uma pilha: "Nossa, esse é raridade, hein!"; mas o Veríssimo apenas sorriu ao ver, e carimbou a antigüidade. Quando pegou a antologia das Cobras, veio a surpresa. Pegou um carimbo, mas pediu ao Marcelo, que estava ao lado dele:
- Me arruma uma caneta...
Eu queria falar com ele, mas havia uma fila de pessoas, e minha timidez também não deixou. Queria falar exatamente dos textos grosseiros, tchê; do rosto sereno de velhinho simpático, daqueles que não dá nem para reclamar quando estamos há duas horas no banco, esperando, e mal ele entra é atendido na hora... Que aparecia na propaganda do Globo, falando tão lentamente, numa calma tão zen, que parecia um bicho preguiça. Aquele velhinho já foi um jovem que deixou os mais velhos "de cabelo em pé", na época em que até as bucetas ficavam de cabelo em pé, pois ainda tinham cabelos. Mas não disse nada. Mas fiquei em êxtase ao vê-lo pegando a caneta, puxando um balãozinho na primeira página das Cobras, e escreveu, meio tremido, um "Oi!". Eu poderia ter aproveitado aquele momento, onde com um gesto, ele mostrou que havia um mínimo de cumplicidade entre ele, o bom velhinho, e aquele rapaz estranho com uma camisa com o Papa Bento XVI com uma montagem tomando ecstasy. Mas eu preferi eternizar o momento com uma foto e deixando-o em paz, sem falar besteiras para o escritor que deve estar cansado de ouvir que foi inspiração para tantos pseudo-escritores.  E ao terminar de escrever, devolveu a caneta ao Marcelo.
E assim terminei um dia feliz! Luciana pegou autógrafo (carimbo) com um livro meu de contos do Veríssimo, que emprestei a ela há tempos para pegar gosto por leitura, todo mundo levou carimbadas. Luciana foi ao banheiro, eu fiquei ali, ao lado, vigiando se ele ia assinar mais algum com caneta. Não pediu mais a companheira azul... apenas carimbos. Apenas eu tive algo escrito do Veríssimo a caneta naquele dia. Só eu recebi um "Oi!". Fiquei ao lado, olhando os outros tietes; eu feito a mulher ciumenta, vendo se o escritor vai fazer graça com outra pessoa. Ninguém; apenas carimbadas.
Sim, texto fútil, idiota, de fã mesmo. Mas respeitem, é Veríssimo. E ESCRITO A CANETA, PORRA!!!!

Prova de que ele usou a caneta em meu livro e minha cara de "YEAH, PORRA!!!"
O autógrafo a mão!!

Promessa para Giovanna

Encontro minha sobrinha, coisa mais linda do titio babão, que acabou de fazer um desenho para mim e um para "tia Lu": o dela, um desenho da Luciana com a Frozen; o meu, um desenho meu olhando uma garota apavorada sendo atacada por um tubarão.
Converso com ela algumas coisas, e quando estava indo embora, ela pediu para eu ficar mais. Não podia, mas prometi pegá-la durante a semana para dar um passeio.
- Você jura?
- Juro - respondi.
- Diabo, Diabo?
Olhei pra ela, estranhando e comecei a rir. Minha mãe se intrometeu na conversa:
- Que isso, não fala isso, que coisa horrível.
Giovanna calmamente explicou:
- Ué, vovó, meu tio não gosta de Deus, aí se eu perguntar "Deus, Deus?", ele vai falar "Não!". Aí eu tenho que perguntar "Diabo, Diabo?"...
Ri mais ainda, fiz "toca aí" com ela e respondi.
- Diabo, Diabo.

Agora está prometido, não posso descumprir!

Rio Water Planet

Sábado ensolarado, tava de bobeira no Rio Water Planet. "Ora, ninguém fica de bobeira no Rio Water Planet", pensarei eu, leitor único e fiel desse blog, quando, anos depois, reler esse texto, totalmente esquecido do que se trata. Mas o negócio é que eu achei que estava de bobeira, mas eu fui na piscina... Numas descidas lá de tobogã... Ok, pouco o suficiente para me achar "tava de bobeira", até que avistei-a. Era uma mulher. Não, o que me chamou a atenção não foi seu biquini sensual, nem sua marquinha, nem sua bunda ou peitos; foi o hábito que ela usava. Sim, uma porra de uma freira, com hábito, no Rio Water Planet. Sentada. Fazendo tricô. Caralho, pensei, ela sim está de bobeira aqui. Ela sim deveria estar em casa, na igreja, na puta que o pariu, mas não aqui. Dissonante, intrigante. Olhei durante uns dois minutos, hipnotizado, para aquela mulher, num calor infernal, cercada de águas, mas em um hábito longo e enclausurador, tricotando, sentada em uma mesa. Ela não me viu, concentrada que estava em suas tarefas. Comentei com Luciana, que riu, mas estava mais querendo aproveitar as águas do que ficar intrigada com um pensamento que me perseguiria por dias: o que faz uma freira no Rio Water Planet?", além da óbvia resposta, tricotar.
Fui para a água, passei mais alguns momentos me refrescando. Quando voltei à mesa, a freira agora estava dobrando papéis. Muitos papéis. Ela dobrava-os ao meio. Fiquei parado por mais alguns momentos olhando aquilo. Por que isso?
Só queria dizer que eu não estava de bobeira no Rio Water Planet. Eu estava me divertindo moderadamente. Aquela freira, sim, estava de bobeira.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

The most efficient psychopath introduce (A apresentação mais eficiente para um psicopata)

- Hi, my name is John.
I like to kill people who says "Why, John?"
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Oi, meu nome é Pedro.
Eu gosto de matar pessoas que dizem "Por que, Pedro?"


Não sei o porquê essa merda surgiu na minha cabeça em inglês e pareceu melhor em inglês. "Why, John?" soa melhor que "Por que, Pedro?". Eu acho. Foda-se.

Felicidade não se alcança com padrões

Viviam discutindo. Ele, um rapaz que achava que a felicidade seria alcançada se simplesmente seguisse os passos de um "Jogo da vida": nasce, estuda, se casa, tem filhos, o bode come uma orquídea rara, acha petróleo no quintal de casa, é julgado e se aposenta milionário. Ela, achando que a vida era um "Banco Imobiliário": você nasce, começa a pagar por tudo, e morre pobre, sem ter tempo de fazer o que queria. Por conta disso, ela era de aproveitar qualquer momento, enquanto ele queria crescer e ser o modelo de adulto que o mundo esperava.
Mais uma vez discutiam por alguma besteira. Cruzaram belos cenários, em um lindo pôr-do-sol, solenemente ignorados por conta do foco ser algo que sequer se lembram hoje em dia. Novamente, não se lembram por motivos diferentes: ele, por conta de um trauma causado após a discussão; ela... Bom, chegaremos a esse ponto, voltando um pouco para contar. Vamos a uma fala dele da última discussão, enquanto andavam:
- Mas nosso bode está lá no quintal, solto, e acabou comendo a orquídea rara do nosso vizinho! E onde você estava quando isso aconteceu?
Ela fica muda, pois não faz idéia de onde ou o que estava fazendo. Lendo, talvez, ouvindo música, talvez, cagando... enfim, qualquer coisa que não seja olhando para um bode no quintal. Após o silêncio urbano, que de silêncio só tem o nome, ela arrisca:
- Tá... Mas isso não vai mudar agora.
- Nada vai mudar agora, nada.
Ela não entendia o porquê de as pessoas esperarem mudanças sempre no sentido da "responsabilidade", de deixar o entretenimento de lado. Isso a cansava.
Caminharam, mudos, trocando poucas palavras, gradualmente cada vez mais ríspidas e menores.
Separaram-se no ponto de ônibus. Ele deu um beijo quase que obrigatório, porque a sociedade pedia - por serem um casal.
- Tchau - disse, seco, e embarcou em seu ônibus, que estava parado no ponto final.
Ela não conseguiu falar nada. Apenas seguiu seu caminho, olhando fixamente para pontos aleatórios da calçada. Uma folha. Uma guimba de cigarro. Dois pés aproximando-se e passando lateralmente por ela. Outra guimba de cigarro. Um copo de plástico rasgado em forma de florzinha. Dois pés aproximando-se, frontalmente a ela. Vai bater. Pararam.
- Passa a bolsa e o celular.
Ela levantou a cabeça. O ônibus que ele pegara, há uns cem metros atrás, fecha as portas para sair. Ela olha, sem saber o que fazer, ainda perdida em seus pensamentos, para o homem, baixinho, seu rosto com cicatriz, altamente clichê, e a mão na altura da cintura segurando o que parece ser uma arma de fogo.
- Tá surda? Passa a porra da bolsa e o celular!
Pensa o que tem na bolsa. Um livro, papéis amassados, provavelmente uma banana que deve estar há uns dois dias esquecida, modess, e mais algumas porcarias. O celular, foda-se. Todo mundo perde celular hoje em dia. Racionalmente, era entregar a bolsa e o celular e seguir o caminho, com olhar perdido, talvez um pouco mais perdido por conta da violência surpresa, mas nada que mudasse o mundo. Vida que segue. O ônibus do rapaz saiu do ponto. Mas ela enxerga nesse assalto cotidiano uma oportunidade, sim, uma visão empreendedora: onde parecer algo ruim, veja todos os lados e procure tomar vantagem da situação. Talvez essa era uma oportunidade única (única é forçar a barra... isso poderia acontecer muito mais vezes) para ela. Quem sabe esse sujeito não fora colocado em seu caminho por um motivo? Seria ele um anjo? Talvez ele pudesse ajudá-la a concretizar um antigo sonho que, ironicamente, só precisava de um gatilho (prum trum txx!) para ser realizado.
Ele tentou puxar a bolsa com a mão que não estava segurando o revólver. Ela decidiu que reagiria, e segurou a bolsa. Ele tentou puxar novamente, visivelmente irritado. Ela segurou de novo.
- Não vai levar nada, seu merda!
Ela gritou isso, consciente de estar provocando. Havia um sorriso surgindo em seu rosto, ao mesmo tempo em que passava em sua cabeça milhões de imagens de sua vida. Nem eram milhões, mas faz parecer mais dramático e mais poético do que dizer que ela travou as memórias de sua vida tentando lembrar da cena em que Patrick Swayze é morto em Ghost, e ela nem lembrava tão bem assim. Olhava atentamente para a mão com o revólver, quando ele foi puxado. O ônibus em que o rapaz estava passava próximo ao local do assalto nesse momento, em que ela, agarrada à bolsa, tentava ganhar o cabo de guerra do assaltante. Pessoas no ônibus levantaram de seus assentos para ver a ação.
- Ih, ali, a vagabundagem - disse um passageiro, chamando mais ainda a atenção dos passageiros.
O rapaz olhou, curioso de saber do que se tratava, e viu sua parceira agarrada à sua bolsa, viu o assaltante fazer um movimento brusco com um dos braços, e viu 3 clarões, seguidos de um som característico (metropolitanos sabem diferenciar bem sons de tiros e de fogos), seco.
- Eita! Mete o pé, piloto, que a coisa tá braba! - disse o mesmo passageiro que gritou acima, um narrador nato do caos urbano.
O rapaz fez sinal para descer. Olhava atônito a cena. Viu o líquido jorrar da cabeça da menina. Viu os tiros. Viu-a ser impulsionada para a cerca com os tiros. Mas ele não viu na hora foi o sorriso de satisfação dela. Finalmente, conseguia vencer a covardia que era empecilho para tonar o mundo mais agradável. Ao menos para ela, o único jeito de não ver mais com pessimismo o futuro: não tê-lo.
E os dois tiveram um mesmo pensamento, sincronia mesmo - depois que ela conseguiu livrar-se da cena de Ghost- : o "tchau" seco, o último beijo. Os dois quiseram mudar isso, mas o personagem do revólver estava cagando, aliás, ele nem tinha acesso aos pensamentos deles, como eu, narrador privilegiado, tenho. 
E todos foram felizes para sempre.

A Little Juego

Somente um idiota conseguiria ignorar: dor, ironia, ódio.

domingo, 20 de novembro de 2016

Miss Patada

Ela era apenas uma garota, com seus 15 anos. O corpo começava a moldar-se para mulher, e por ser gordinha, os peitos já se faziam ver, mesmo que não tão grandes. No momento da descoberta, acabava de sair de sua aula de dança, com uma calça legging justíssima, que acentuava as curvinhas incipientes de seu corpo, que indicavam a tendência pro formato "pêra"; mas a calça evidenciava algo além das curvas: a cavidade.
Gabriela fez o mesmo caminho rotineiro para chegar em casa, mas havia começado uma obra nessa rota, e ao passar em frente, um dos pedreiros que não haviam sequer sido notados pela menina, falou:
- Bucetão...
Demorou uns cinco segundos para Gabriela notar que era com ela, e mais uns dois para assimilar que sim, aquele cara havia falando "bucetão", e referindo-se a ela. Olhou para trás, e viu o peão rindo, cutucando o amigo do lado com o cotovelo. Voltou-se para si mesma. Olhou para baixo. Percebeu que a calça marcava-lhe a cavidade, e que isso "era feio". Caminhou os quinze minutos restantes envergonhada, tentando tapar a região pélvica como dava. Chegou em casa roxa de vergonha.
Revirando suas roupas, passou a perceber, no espelho, que tudo o que usava, ou quase tudo, realçava aquela parte de seu corpo. Jogou na internet: descobriu que chamavam de "pata de camelo", e lembrou-se de já ouvir essa expressão antes em sala de aula; provavelmente estavam zombando dela, e ela nem sabia. Passou a pensar em métodos para diminuir a atenção daquela parte: preenchia as partes laterais da pata, mas em vão, parecia chamar mais atenção ainda. Eram olhares de desconhecidos na rua, de amigos na escola, de pessoas na balada, eram palavras obscenas ditas a todo o momento na rua. Como as pessoas conseguem ser tão escrotas a ponto de não conseguir se conter e externar essas "cantadas"?
Após tentativas frustradas, e os anos passando, cada vez mais ganhava destaque, e ganhava admiradores broncos, e apelidos nojentos. E agora, a bunda estava maior também, e os assédios eram com menos pudor: não só verbal, mas alguns físicos. Teve momentos de não querer sair de casa, por conta das palavras e das passadas de mão, sarradas... Sarradas. Tinha raiva de como podia alguém achar legal passar o pau esfregando na pessoa. Era prazeroso? Não podia ficar na punheta em casa? Queria se vingar, mas sempre que reclamava, ouvia a desculpa: "O ônibus tá cheio!"; "Ué, quer conforto, vai de táxi", e outras desculpas esfarrapadas, pois sim, ela sabia que havia bastante espaço para esses tarados passarem sem esbarrar o pau (e se fosse pau mole pelo menos... mas era muita coincidência estar de pau duro num ônibus lotado, o que tinha de excitante nisso?).
Após mais uma discussão em um trem, onde, além do sujeito ter ficado olhando para sua "perseguida" (sim, tinha muito sentido esse apelido, infelizmente) o tempo todo, fez questão de, no lugar de sair pela porta que estava mais próximo, passar por trás dela, virando obviamente o lado do pau para esfregar em sua bunda, Gabriela foi para casa pensando em possibilidades de não passar mais por isso.
Sarrada. Sarrada. Isso a incomodava demais. Gabriela começou a esfregar levemente a mão em sua buceta, pensando que ela é quem controla o que pode passar por aqui ou não, e as palavras começaram a girar em sua cabeça, sarrada, pata de camelo, bunda, sarrada, pata, bucetão, sarrada... Cada vez mais com um pouco de raiva da humanidade por permitirem tais abusos com garotas, mulheres, ela foi se tocando, mas ao mesmo tempo, o ritmo foi ficando bom, e o que era antes apenas um toque de reconhecimento da área como sua, virou um frenesi gostoso, um mix de empoderamento e prazer, e ela não parou. E as palavras continuavam: sarrada, esfregar, buceta, minha, pata de camelo, sarrada, patada... É isso, patada! Em uma espécie de epifania, causada pelo furor do orgasmo e a raiva sentida, Gabriela viu claramente: o contrário de sarrada é patada. E no exato momento do orgasmo, enquanto dois dedos de uma mão ocupavam-se de fazer chegar la petit mort, no outro extremo, a ponta de um dos dedos segurava-se a um fio do abajur, e com a aproximação do momento máximo, a mão do fio foi deslizando, deslizando, e no momento do gozo, a mão trocou descargas elétricas com uma parte desencapada do fio, o que ocasionou um leve inchaço na buceta de Gabriela, e a fez morrer. Após quarenta e cinco segundos morta, Gabriela levantou como se acordasse de um pesadelo, ainda sentindo o prazer do gozo, com dois dedos ainda na buceta. Começou a ouvir vozes emboladas, que pareciam distantes, e também a sentir um cheiro estranho, como se o cheiro a alertasse para algo, mas decidiu que o acordar e o gozo máximo haviam sido o suficiente pelo dia de hoje.  Esqueceu até do ódio que sentia e foi dormir tranqüila, relaxada, do jeito que se dorme após um belo orgasmo.
No dia seguinte, ao sair para a rua, Gabriela percebeu que o cheiro estranho que sentiu na noite anterior era muito forte quando ela passava próximo a rodas de homens. Começou a prestar atenção que no momento que sentia o olfato mais sensível, sua audição começava a pegar vozes e isso a atormentava um pouco. Parou para relaxar, pois estava com dor de cabeça. Sentou-se em uma praça, e apenas permaneceu ali, de cabeça baixa. De repente, sentiu o cheiro novamente, e fechando os olhos, pôde identificar as vozes que surgiram: "que rabo dessa mina! Botava três vezes sem tirar!" Ao levantar a cabeça, espantada, percebeu que não havia ninguém próximo a ela, mas dois rapazes aproximavam-se dela, e olhavam para uma mulher que fazia alongamento em uma árvore próxima à Gabriela. Ao passarem, ela ouviu, como um déjà-vu: "que rabo dessa mina! Botava três vezes sem tirar!" E sentiu sua vagina inchar, a ponto de ficar marcando na calça onde ela estava. O barulho e o volume atraíram os olhares dos garotos, e um deles falou: "Mano! Que pata de camelo!!!" Gabriela instintivamente levantou-se, correu até o garoto, que esticou a mão e gesticulou com o dedo do meio. Gabriela pulou na mão do garoto, fechou a perna e sentiu que sua buceta esmagou o que antes chamava-se mão. Gritando apavorado, o menino saiu correndo, junto com o amigo, que embasbacado, não sabia sequer o que pensar do ocorrido. Gabriela não sabia, mas nascia a Miss Patada. O autor também não sabia, mas partiria firmemente para avacalhar mais um texto que poderia ter sido sério.
A jovem decidiu então treinar arduamente, fortalecer a musculatura. Fez algumas compras em sex shops, pesquisou um pouco na internet e em pouco tempo já estava praticando (e mestra em) pompoarismo hardcore agressivo, e ficou totalmente consciente dos poderes que tinha. Comprou shorts vermelhos em látex com elastano, que faziam mostrar quase que detalhadamente como em um mapa o desenho de seus lábios vaginais; e tops da mesma cor e material. Sim, qualquer super heroína deve obrigatoriamente ter seu uniforme, assim como qualquer autor deve saber a hora de parar um texto.
Gabriela matou diversas pessoas com patadas de camelo na cabeça, esmigalhou braços, pernas, castrou diversos homens, muitos paus castrados na patada. Mas era uma violência sexy, e... ei, o que é isso? TAUN! Pessoas, Gabriela está aqui, e acho que vou ter as mãos arrancadas por ter falado da buceta dela. TAUN! Ei! Calma, não sente na minha cara, é apenas literatura, de baixa qualidade, mas... HMMF... HMMMMF... Hmf... hmmmmm
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O autor na realidade, encheu o saco de escrever e espera, sinceramente, que vocês tenham enchido o saco de ler antes de chegar aqui, nesse ponto decadente. A vida não é fácil nem para heroínas e nem para quem não tem heroína para fugir da realidade.

Estatísticas

Já ganhei uma tranqueira em bingo, e na pedra maior.
Já ganhei um perfume numa rifa de 50 números.
Já ganhei ingressos pra shows.
Já ganhei um videogame em um sorteio de álbum de figurinhas.
Estatisticamente, ganhar uma bala perdida no Rio de Janeiro não está tão difícil assim, né?#Wishlist2017


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Sobre balé

Balé me lembra The Sims, quando dava bug e os personagens faziam uns movimentos errados... Balé é dança pra quem é meio bugado...
Sério, é cada braço esticado e depois o braço passa por cima da cabeça e a pessoa sai andando igual caranguejo. Não consigo compreender a beleza desses movimentos. Estilo os defeitos do Shrek sendo animado. Enfim.

Pequenas reclamações da minha vida.

Anjos e Demônios

Tem o anjinho que sopra seu rosto e você fica vesgo se você estiver zoando um vesgo...
E qual o nome da porra do demônio que ceifa teu cabelo se você zoar um careca cabeludo que tá tentando disfarçar a calvície penteando o cabelo pro lado?

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Sobre pessoas e panetones

Um mundo de gente, de indivíduos. Mas nesse mar de diferenças, uma receita básica: carne e secreções. Todos, todos... bolos de carne, água e secreções. Uns saem mais perfeitinhos, outros mais tortinhos, pendendo para um lado, mas enfim, panetones.
Cada um com sua uva passa, com suas frutas cristalizadas (talvez desde a infância): defeitos que sabemos que não combinam com aquele panetone, mas que estão ali, sem saber o porquê. Nenhum panetone é perfeito. A massa pode ser deliciosa; mas terá uva passa.
A consciência de ter essas frutinhas indesejadas é um primeiro passo para tornar-se chocotone: aceitar os defeitos, e aos poucos, tentar livrar-se deles.
É muita falta do que fazer ficar tentando criar analogias com panetones, mas hoje é um dia chuvoso, realmente não tenho nenhum compromisso. Além disso, acabo de comer chocotone. E nessa alegoria, gostaria muito de conseguir me tornar um chocotone, de chocolate amargo, porque eu sou ranzinza.
E assim eu aceito mais uma uva passa minha: a incapacidade de reconhecer um texto ruim quando ele surge na cabeça.
Acho que sou um panetone com muita uva passa e frutas cristalizadas, e algumas gotas de chocolate amargo 85%. Porque a vida não é doce, nunca é. Se você acha, você é o mongolóide que, enquanto todo mundo se fode, não entendeu nada.

sábado, 12 de novembro de 2016

Ode à 5ª série

- Pô, tô mó saudosista... Vontade de pegar várias paradas que fizeram parte da minha infância... tava mó afim de jogar uns jogos de videogames antigos...
- Tipo o que?
- Ah, jogo de super nintendo, mega... Alex kidd, Sonic, Mario...
- Ih... Me amarrava também!
- Inclusive a edição mais difícil do Mario eu já zerei...
- Qual Mario?
- Aquele que te comeu atrás do armário! Hahahaha
- ... Tá. Sério, tá falando de qual Mario?
- Daquele... Que te comeu atrás do armário! Hahahaha
- ... Idiota... Percebe que não é saudosismo de jogos, e sim da sua mentalidade 5ª série, né?
- Desculpa, tô num nível quase patológico mesmo...
- Mas já perdeu a graça, né?
- Ah cara, tô zoando... Mas não pergunte mais do Mario, porque meio que pede essa resposta... Mas eu quero relembrar esses jogos antigos mesmo... Tipo aquele de tiro, que tinha pra 64... 
- ...
- Que tinha filme... Do espião... É...
- Zero zero sete?
- Cê dá a bunda e depois paga boquete! Hahahaha!!
- ...
- Hahahaha!
- ... Você tem problemas...

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Da série "não aconteceu, mas poderia ter acontecido".

É o Tchan x Mamonas Assassinas

P.S.: Lembrete após escrever o texto: Fabiano Alzheimer, não releia. Contem música chiclete que se você ler vai se pegar cantarolando do nada nos lugares mais inoportunos.

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A história é triste. Muito triste.
Para quem passou pelos anos 90, deve lembrar de muita coisa legal, muita coisa bizarra também... Dentre elas - as coisas bizarras -, É o Tchan (sim, sim, Carla Perez, altas punhetas, antigo GeraSamba, etc., etc.). E aí, tá, música merda, tinha alguma graça, os adultos achavam legal (!!!) botar as crianças com shortinho ficar ralando na boquinha da garrafa... enfim. Anos 90. Mas uma coisa, uma música, deve ser salientada:
"Roda no dedinho (bambolê)
Vai no pescocinho (bambolê)
Passa no ombrinho (bambolê)
Cai pra cinturinha..."

Lembrou da infame música-chiclete do Bambolê, né? Sim, agora essa merda vai ficar no seu cérebro por algumas semanas... Mas enfim, logo após essa parte, vinha o que é intrigante. Desculpe, mas terei que fazer de novo... :

"Uma RRRRoda-diiii-nhaaaa
Uma quebRa-diiii-nhaaaa
Mexe a trasei-riiii-nhaaaa
Minha Pitchu-liii-nhaaaa"

A parte acima, cantada com um quê de "Vira-Vira", dos Mamonas Assassinas, e se a referências não ficasse clara musicalmente, ainda tem a menção a "Pitchulinha", da música "Pelados em Santos". Então, sim: tratava-se de uma "homenagem" aos Mamonas Assassinas.

Após tudo isso, quero deixar os pontos que me causam indignação:

1) O que, na porra do cérebro do pessoal do É o Tchan, a buceta do bambolê tem a ver com Mamonas Assassinas??? Por que depois de rodar no dedinho e cair pro ombrinho, pescocinho e cinturinha, a merda do bambolê passa a uma homenagem (???) aos Mamonas? Bambolê... Mamonas... Que ácido foi esse?

2) Por que, POR QUE, P O R  Q U E, eu me pego pensando nessas relações que a maior parte do mundo já tentou e conseguiu se esquecer? Por que eu sinto necessidade de trazer isso à tona? Isso deveria ser como casos de suicídio: é melhor não divulgar, para não incentivar (no caso, que as pessoas voltem a ouvir É o Tchan).

Seria eu além de meio aleatório, anti-ético?
Bom, boas 3 semanas de "É na pegada do bambo, do bambo bambo, do bambo, do bambolê" pra vocês...

E para que eu não releia esse pensamento e fique com a música grudada de novo quando eu esquecer sobre o que é o texto e abrir novamente, colocarei lá em cima um lembrete para mim.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Sonho louco de 2011

Visitando facebook, sonho de 2011... Aí vai:

Sonho louco do dia: Peguei um ônibus com meu pai, e falei que se ele tivesse RioCard eu não precisava pagar passagem. Aí descemos num shopping estilo Barra, todo mundo de fraque ou terno, não sei a diferença... e tínhamos que passar por esse shopping para chegar no hospital. Chegamos e fomos visitar pessoal da minha família no hospital (tinham 3 pessoas internadas!!), aí o quarto tava uma zona só. Parecia festa. Não sei como saí com meu pai ( Fabio Soares) e meu irmão (Fabrício Soares) e fomos pegar a Giovanna. Chegando na rua dela, um coroa (bigodón) e uma coroa (pelancuda) estavam soltando morteiros, mas apontando para nós, na rua. O primeiro tiro chegou perto, e no que estourou, nem foi forte, mas meu pai desmaiou. Meu irmão continuou andando e eu fiquei ao lado do meu pai, caído. E os velhos continuaram tacando morteiros, e eu ficava pegando e jogando pra perto deles, ou desviando para longe. Até que deu merda no morteiro deles, eu levantei meu pai e continuamos a andar. Então eu estava com amigos ( Fabio Apu Rossello e uns amigos dele) e fui comprar uma caixa de bombons para aLuciana Kani. Mas eis que os amigos do Fabio tinham combinado para fingir um assalto, mas eu nem me abalei, porque eles repetiram a cena no lugar errado, e o soco falso do falso mendigo foi muito falso, e eu percebi que, além de ser falso o soco, a cena que eles fizeram na primeira vez foi diferente do local da segunda vez (foram mais para frente). Aí eu ri, confiante, tipo, sou-foda-ninguém-me-engana, e falei com ele que a atuação dos amigos dele foi pífia! Comprei uma caixa de Ferrero Manderly que eu achava que era Cacaushow (??) e na volta, o Fabio virou o Felipe Dantas e passamos no viaduto da Penha, onde estava tendo uma tenda de horror para crianças, onde lia-se o preço: "R$ 48 pra GERAL". Achei caro e resolvi atravessar para o outro lado, por baixo. No que estava descendo, tinha umas pessoas falando de Halloween com um monte de chocolate exposto, e eram representantes de alguma marca de chocolate. Eu estava com uma caixa de Ferrero, e uma expositora chegou, pegou um bombom da minha caixa (sendo que lá embaixo era uma exposição, as paredes estavam abarrotadas de caixas de bombons, bombons, trufas, etc. Inclusive tinham muitas caixas IGUAIS a que eu comprei, mas ela pegou o meu bombom... Aí eu falei que era pra presente, fiquei puto, e pedi pra ela uma caixa fechada. Ela, com a boca cheia, falou que não podia. Aí eu vi que podia pegar Sonho de Valsa, aí fingi que ia pegar Sonho de Valsa (e peguei mesmo, dois), mas com a caixinha que era para colocar um Sonho de Valsa só, roubei um monte de chocolate e saí correndo. Do nada, surge Taiane Linhares e grita que lá era para pegar qualquer coisa mesmo. Fiquei sem-graça de ter roubado algo que era pra pegar, e voltei para pegar mais, fingindo que eu sabia que era para pegar, e estava brincando só. No que eu voltei e comecei a encher mais a caixinha, um cara japonês apareceu e falou: "quem é Fabiano Soares?". Eu falei que era eu e ele disse: "apitou ali, vou ter que te levar pra polícia!" Aí eu senti que não era pra pegar porra nenhuma! Aí eu disse que não podia, porque a filha da puta da loira comeu um bombom que eu comprei, e eu falei que era pra presente, e o cara era dono de um restaurante japonês em Curitiba, olhou pra minha caixa de bombom, que eu segurava como uma criança segura a bola quando não escolhem ela pra time nenhum, ou quando não quer ser o goleiro, e ele disse que na loja dele tinha uma igual, e que ele me daria a caixa e ficaria tudo certo. E no que ele virava para verificar algumas coisas, os chocolates sem papel que eu tinha roubado, e meio amargos, eu comia escondido, para não ter que devolver. Aí eu acordei sentindo o gosto meio amargo da minha baba no travesseiro. Engraçado que no sonho o gosto tava bom pacaralho...

sábado, 6 de agosto de 2016

Aniversário Giovanna 6 anos

Após eu postar um texto no facebook para Giovanna, ela ditou para Joyce uma resposta. Reproduzo aqui para deixar gravado o meu texto e o dela.

Eu: "Ontem foi aniversário dela, a coisinha mais bonita do titio!
Sou babão mesmo por causa dela, ela sabe que com o titio ela pode fazer bagunça, pode falar besteira, afinal, o adulto mais legal, que ela não sabe se é adulto ou se é criança ("você é adulto, tem 30 anos, mas tem um monte de brinquedo, titio!"), o único que deixa ela ver filme de terror escondido... E o único que sabe dar comida pra ela, fazendo boca de bicho, de monstro que come avião e mata todo mundo...
Enfim, uma sobrinha que espero que cresça sendo muito minha amiga!
Faz ela ler isso aí, Joyce!
BEIJÃO, CRIATURINHA MAIS LINDINHA DO TITIO!"

Joyce: " Li agora pra ela, ela disse "Onw, amei! Titio vc não sabe quanto eu te amo e vc não sabe quando eu olho em vc meu cérebro quase explode e vc é o tio mais lindo do mundo e vc é a criatura mais linda do mundo, um beijão pra vc e tia Lu tb! E o titio não pense q foi a minha mãe q escreveu isso pra você e pra tia Lu, tá bom? Foi eu q escrevi, não foi minha mãe e nem meu pai, nem ninguém... E pra vc tb tia Lu (Luciana Kani), a mesma coisa q escrevi pro titio é pra vc tb. Beijão!"

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Facebugs

27 de junho de 2016

Hoje finalmente entendi, na prática, uma teoria da física.
Estava eu em casa, com uma puta duma vontade de fazer comida boa: usar cebola, três tipos de queijo, salame, ovo, faZer um molho... Enfim, estava com vontade 1000 de fazer comida boa.
Ao mesmo tempo, estava com nenhuma vontade de lavar panela. Duas panelas já na pia há uma semana, uma semana que não tenho vontade de lavar panela, só lavando talheres, pratos, copos... Enfim, vontade -1000 de lavar panela.
E duas forças, de igual intensidade mas opostas, se anulam!
E foi assim que comi bife de fígado gelado e resto de sopa. Acho que isso se chama inércia, mas nunca fui bom em física...
True Story
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28 de junho de 2016

Falo que não fumo e o cara me chama de "geração saúde".
Vem cá, filho da puta, você me conhece? Sabe a quantidade de bacon que tá entupindo minhas artérias? Sabe o quanto de Cheetos e Ki-Suco eu já consumi na infância? Sabe os distúrbios que Solar de España, Cantina da Serra, Ice Syn e similares trouxeram pro meu fígado??
Não fode, rapá! Geração saúde é o caralho, vou morrer antes de você, porra...

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28 de junho de 2016

Eu não acreditava em Deus, nem em milagres, mas contra fatos, não há argumentos!
Eu sozinho não gosto de fazer arroz, feijão... Gosto de fazer só bombas calóricas. Ok! Mas meus pais deixaram uma panela de feijão e um pouquinho de arroz há umas três semanas atrás, para mim. Acabei com a panela de arroz, mas sobrou feijão. Me neguei a cozinhar arroz, e passei a comer só feijão. Como sei que isso poderia ocasionar falta de alguma coisa no organismo, após o almoço, completava com arroz doce. Ok! Mas acabou o arroz doce também e passei a me alimentar praticamente de feijão e luz. Desejei, muito, muito a noite, enquanto olhava para uma estrela brilhante: "se existe Deus, por favor, amanhã eu quero comer feijão e arroz, só isso que te peço!" E aconteceu!!!! O feijão amanheceu com o que me parece serem pequenos blocos de arroz!! É um milagre!! Expliquem essa, ateus!!!
Agora licença, que vou rangar!!!


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7 de julho de 2016

Queria interromper os memes de "amanhã é sexta!" e as imagens de "boa noite" da galera mais coroa para informá-los que estou com um casaco com bolso no peito e com alzheimer. "Fabiano, o que tem a ver o cu com as calças?". Bom, as calças impedem que vejam seu cu, mas calma. Meu fone de ouvido está perdido e tô usando um que é curto, não chega até o bolso da calça, então hoje achei maneiro que usei o bolso do casaco, não deixei o celular preso entre a calça e a cueca. E aí entra o motivo da minha interrupção: mesmo eu ouvindo música (ou seja, tendo uma prova real de que meu celular está comigo), já tive 6 mini infartos porque botei a mão no bolso da calça esquerda e não senti o celular ali...
Podem voltar a seus afazeres cotidianos. 

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Munderrado

Os filmes que eu gosto
dizem que são ruins;
As músicas que eu curto
chamam de barulho;
As poesias que adoro
não falam de flores.

O mundo anda cada vez mais errado
E não consigo deixar de ser infeliz.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Sorte do dia

Sorte possui aquele que é ignorante
Que assemelha-se a bicho ruminante
Que não pertence à elite dominante
Que é abatido por  enfarte fulminante.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

A Linha da Vida

Marcelo havia acordado, e ainda zonzo de sono, uma imagem o fez arregalar os olhos: a linha da vida de sua mão aparecia cortada por outra linha. Desesperou-se, pois acreditava piamente em quiromancia, e via a morte interrompendo sua vida abruptamente antes do fim que deveria ser. E sim, conhecia bem sua própria mão para saber que aquela linha nunca estivera ali.
Naquela manhã não conseguiu tomar café: pegar uma faca para passar manteiga no pão parecia assustadoramente ameaçador; tirar o rótulo do iogurte, daquele metal fino, podia fazer um corte em sua mão que o faria esvair-se em sangue - é bizarro, mas existem mortes bizarras; não tinha copo de plástico, e copo de vidro, quebrando, sabe-se lá onde os estilhaços podem parar... Era melhor não tomar café.
Pensou em ligar para alguém, mas lembrou das notícias de mortes porque o celular estourou na cabeça da pessoa. Tirou tudo de casa da tomada, para evitar um curto-circuito e eventual incêndio. Deitou-se na cama para não levantar e acabou dormindo. Quando acordou, de bruços, percebeu que poderia ter sufocado caso vomitasse, já que estava tonto de fraqueza, por não ter comido o dia inteiro. Levantou-se e foi tomar um banho para manter-se acordado. Já nu, a idéia de passar sabonete, com a água, podia acabar escorregando e morrendo ao bater a cabeça na parede ou no registro do chuveiro. Melhor não tomar banho. Queria comer algo. Olhou a geladeira, desligada, e não sentiu-se firme para pegar nada lá que não o pudesse matar. Sair de casa, nem pensar: assalto, seqüestro-relâmpago, bala perdida. Voltou para a cama e cercou-se de travesseiros para que não pudesse virar de bruços.
Foi acordando e voltando a dormir... fraco. Acordando e voltando a dormir, sem levantar. Sua geladeira, que havia deixado levemente aberta, estava com moscas e vermes nas carnes, fungos, totalmente tomada por vida podre. Marcelo estava um caco, magricelo, com olheiras profundas e sem levantar da cama, quase atrofiado pelos dias em que passou, imóvel. Olhou mais uma vez para a palma da mão. A linha que cortava a linha da vida estava mais forte, marcada profundamente, e com um formato peculiar. Reuniu todas as suas forças e levantou-se, com dificuldade. Caminhou, trôpego, até a cozinha. Pegou um facão e olhou, reflexivo. Realmente, era o mesmo formato do corte na linha da vida: a lâmina do facão. Esfaqueou sua barriga até não mais conseguir. Esvaiu-se em sangue, cuspiu sangue, e jogou o facão longe, e caiu sentado na cozinha. Em poucos minutos moscas varejeiras pousavam em sua ferida. Marcelo não tinha forças nem para espantá-las. Sorriu, e a cabeça foi caindo, próximo à geladeira.
A metamorfose não foi em borboleta, mas em uma casa de vermes, que no final, virou apenas milhões de vermes disforme. Lindo de se ver, com um cheiro pútrido inigualável.
A quiromancia não mente.

Sonho filme

Tentarei escrever aqui o máximo de um sonho que tive hoje. Acho que sonhei o mesmo sonho durante 2 ou 3 horas. Foi longo, e não acordei durante. Lá vai.
Esatav comendo em um restaurante, normal, com amigos e a Luciana. Ao sairmos do restaurante e tentar atravessar a rua, dois carros estavam impedindo de caminhar na rua; tivemos que dar a volta nos carros, e saíram dois homens altos, vestidos de terno e com armas na mão. Assustado, corri para trás de um carro, escondendo-me, e a arma do cara soltou bolhas em direção a um prédio, e o prédio sumiu. A arma acabava com as coisas sem demolição, sem nenhum vestígio. Se uma pessoa fosse alvejada, simplesmente sumiria. Sabendo disso, soube que poderia morrer a qualquer momento, pois escondido atrás do carro, o cara podia com uma bolha sumir com o carro, e com outra bolha, comigo. Fiquei deitado, só vendo o que aconteceria. Aparentemente fizeram o serviço deles, e saíram. Preocupado com isso, corri para minha casa, que na verdade, era um apartamento, e avisei meus pais. Morava com a gente um cara que tinha essa arma, e suspeitava-se que ele fazia parte do grupo que havia tomado conta do poder. Ficava implícito que havia agora um pessoal no poder que estava exterminando todos os que não se enquadravam mais na sociedade. Então começamos a vasculhar a parte de fora do apartamento, buscando não sei o quê, eu e meus pais, e isso foi durante um bom tempo, descendo e subindo escadas, revirando escombros, tomando conta pro cara não acordar. O cara acordou e começou a andar pelo apartamento, e lembro que meus pais podiam entrar tranqüilos, mas ele não podia me ver lá, então me escondi até que uma hora dei de cara com ele. Nada aconteceu. Depois foi organizado inclusive uma festa com a família e muitas outras pessoas, Luciana e meus pais estavam. Lembro de um personagem que toda hora se perguntava pelo copo dele, que era um que tinha uma rachadura, e eu mostrava que ele sempre deixava o copo longe dele... E então em certo momento, os caras que controlavam o poder agora (e as armas de bolha) iam chegar, e todos da festa eram procurados, começaram a se esconder. Nesse momento acabei separando-me dos meus pais, fiquei na parte de fora do apartamento, e eles na cozinha. As pessoas da cozinha foram todas pegas, e o pior: não era mais a arma de bolha. Para acabar com as pessoas (e não ficou claro se as pessoas morriam ou se apenas iam viver com uma forma diferente de corpo), chegava um pingüim gigante, com cara de retardado, que chupava as pessoas para dentro dele, não sei se pelo cu ou por uma entrada na barriga, mas as pessoas entravam deformando-se, sendo chupadas, mas inteiras, não em pedaços. Para não ter esse mesmo final, pulei fora do prédio, e acabei caindo próximo ao restaurante do início do sonho. Eu, alguns amigos e a Luciana, novamente. O dono do bar me reconheceu como uma pessoa que deveria ter sido exterminada, e eu mandei ele tomar no cu, tive uma leve briga física com ele, e falei que eu comi naquela merda mais cedo, que ele devia respeitar os clientes. Ele falou que eu devia ter sido exterminado. Eu virei, mandei o dedo do meio pra ele e falei "vai tomar no cu, português filho da puta!". Acho que ele nem era português, mas na hora fez sentido falar isso. E virei as costas para ele, cheio de medo que houvesse uma arma bolha com alguém próximo a ele. Seguimos o caminho, atravessei a rua, e acabei sendo capturado, junto com a Luciana, indo parar numa casa onde os prisioneiros seriam exterminados. Nisso, o desespero começou a bater e bolei um plano para matar as pessoas que tinham o poder agora, e queriam matar-nos: eu tinha que matá-los primeiro. Óbvio. Chegou uma carga, e roubei uma tesoura e escondi na manga da camisa comprida. Comecei a pensar que deveria dar tesouradas profundas nas gargantas das pessoas, em uma ordem, para que não pudessem falar para pedir ajuda enquanto morressem, e tinha que chegar até alguém que tinha a arma, porque aí eu sairia matando todos eles. Quando me infiltrei em um vagão (sim, dentro do apartamento havia um vagão) com as pessoas que deveria matar, vi que eram muitas, e provavelmente eu ia acabar morrendo antes de matar todas; chegou então uma garota com uma notícia de que chegaram pulseiras para quem não precisava mais morrer, e ela tinha duas. Entregou-me uma, mas a outra não era pra Luciana. Então comecei a repensar se mataria ainda as pessoas que controlavam, e morreria tentando matá-las; ou se mataria uma pessoa que foi salva com a pulseira, para roubar a pulseira para a Luciana. Nessa crise ética, acordei, desesperado.

O Trem que Não Passou

Felipe entrou na estação às 4:17 da tarde; ao menos era o que marcava o grande e esdrúxulo relógio da estação de trem. Era domingo e ele estava sozinho na plataforma, o que fazia parecer que um trem devia ter acabado de passar, para seu desespero. O trem demora mais no domingo, "mas há de chegar", pensou ele.
Para variar, estava atrasado, e nessa condição, cada minuto perdido é um lamento. Podia começar a pensar em mentiras para justificar o atraso - o que geralmente fazia - , mas preferiu começar a refletir sobre sua vida. Próximo de completar 40 anos, afinal, sentia-se maduro e com experiência o suficiente para analisar sua trajetória. E óbvio, automaticamente, quase que instintivamente, separava um tempo para reclamar da porra do trem que não passava (mesmo tendo passado da roleta há menos de 30 segundos), como que em um intervalo da análise.
O fato de estar atrasado fazia-o pensar de cara em seu trabalho: ambiente que já o encheu de alegrias, mas que recentemente virava um fardo em sua vida. E lá estava, Felipe na estação, pensando em como passaram rápidos os 15 anos de firma, e como foi rápida sua ascensão; mas também foi rápida e duradoura sua estagnação.
- Merda de trem que não passa!
Felipe chutou um copo de Guaravita que estava no chão em direção à linha do trem, mas o copo parou ainda na plataforma, bem longe de cair. Lembrou de ter sido o destaque entre os estagiários por sua percepção e capacidade de repensar rotas rapidamente; e de quando deu uma sugestão sobre como economizar com envios de catálogos aos clientes - o que economizou muito dinheiro da empresa -, e seu chefe o promoveu direto a supervisor de logística. Foi apresentado ao dono da empresa como "um possível gerente daqui a dois ou três anos", por conta da sagacidade e perspicácia. Hoje, 14 anos após a promoção, continuava um supervisor, e mediano até, com suas "glórias" esquecidas. O relógio marcava 4:23.
- Eu devia ter pego um táxi!
Não parava quieto; sentou por menos de um minuto e agitava-se, como um animal selvagem em jaula, andando de um lado para o outro. Chutou novamente o copinho de Guaravita, que parou, obedientemente, atrás da linha amarela. Pensou em sua vida em família, o amor por crianças e a expectativa que desse um bom pai e um bom marido. No entanto, trocou de amores como quem trocava de cueca, e nunca teve um filho. Sobrava vontade de ter uma criança, mas não tinha como pensar nisso, e realmente deixava para lá. A família tinha outras fontes de bebês, e podiam dormir sem isso, afinal, anos 2000, superem essa idéia de que é preciso uma família para sentir-se realizado. Olhou para o relógio: 4:29.
- Domingo é foda. Ainda vou chegar lá, vai estar passando a porra do Faustão...
Um novo bico e o copo de Guaravita finalmente caiu na linha de trem. Olhou para as pedras e na hora pensou em seu hobby, pintar pedrinhas e montar cenários em pequenas caixas de vidro. Começou quando adolescente, e fazia cenários toscos e pobres que remetiam a filmes B ou séries como Chaves, Chapolin. Fazia um sucesso entre os amigos, e foi aperfeiçoando. Teve uma época em que chegou a fazer cenários de séries que estavam em voga - e realmente, trabalhos bonitos que chamavam a atenção -, e apareceu em uma matéria de um jornal popular. Os amigos e familiares ficaram empolgados, pessoas entraram em contato para encomendar cenários específicos, mas ele recusou. Era apenas um hobby e não estava afim de comercializar o que fazia para se divertir. Com a cobrança, passou a fazer menos e menos, até que parou de fazer e jogou muitos dos antigos fora. O relógio estava cravado em 4:35.
- O trem que não passou... - resmungou, com o olhar apático, olhando para o horizonte, quando a linha férrea encontrava um muro.
Não era mais o único na estação, mas, domingo, a estação continuava relativamente vazia. Todos aguardavam o trem, muitos sentados, serenos e com a tranqüilidade que o domingo permite. Felipe estava novamente aguardando, ansioso, porém, quieto. Apenas mexia umas pedrinhas em sua mão, rodando-as em loop, para cima e para baixo. O trem surgiu no horizonte e veio aproximando-se. A velocidade do trem; é isso que o faz ser ainda escolhido, e óbvio, o fato de não pegar engarrafamento.
- O trem que não passou... - balbuciou Felipe, com um olhar perdido, e ao mesmo tempo, decidido.
O trem aproximava-se da estação. Aqueles que iam embarcar no veículo levantavam dos bancos, espreguiçavam-se, tomavam lentamente suas posições - atrás da linha amarela. Felipe posicionou-se, ajeitando-se para que as pedras não o incomodassem nesse momento. Olhou para o lado direito e viu o trem crescendo gradualmente; virou a cabeça para a frente e viu o céu, e em seu campo de visão, a borda da plataforma. Sorriu.
- Eu sou o trem que não passou...
Felipe falou isso, sem berrar, mas audível o suficiente para chamar a atenção de um senhor sonolento que aguardava o trem, que desesperou-se e passou a abanar os braços descoordenadamente para o trem, que chegava, imponente, e a gritar:
- Homem na linha!!! Pára!!! Homem na linha!!
O trem obviamente ia parar, afinal, para isso servem as estações, e esse foi um erro de cálculo de Felipe, que em seu desespero, só pensou na capacidade de destruição do trem a partir de sua velocidade total, e não de sua velocidade quando chega na estação: deitado na linha férrea, achou que o trem passaria a toda, cortando-lhe a cabeça e o corpo com a facilidade com que um sushiman destroça um salmão; no entanto, uma roda do trem, que vinha freando para parar na estação, agarrou-se ao osso de sua saboneteira, enquanto a outra, paralela, cravava em sua bacia e arrastou-o por uns 50 metros, enquanto Felipe sentia a pele do pescoço repuxar e arder, fazendo-o conhecer sete níveis do inferno antes de morrer. A primeira parte a ser separada do corpo foram as pernas, já que a
bacia foi facilmente destrinchada, espalhando sangue, tripa e bosta pela linha do trem. E o pouco que o cérebro conseguia fazer era trincar os dentes e desejar a morte, embora o instinto natural, mesmo em casos de suicídio, busque manter nossa vida: o ombro direito de Felipe estava sendo fatiado pela roda, pois levantava, tentando dar um apoio além da saboneteira para parar a dor de puxar a pele do pescoço. Mas enfim, antes do trem parar, uma parte da pele e do couro cabeludo foram arrancadas, deixando os músculos da face à mostra por pouco tempo, pois logo após a roda conseguiu desviar do osso que a impedia, e separou a cabeça do torso de Felipe. A cabeça bateu nas pedras, ricocheteou na parte de baixo do trem, nas rodas, nas pedras de novo e foi assim até o trem parar. Irreconhecível, nosso protagonista estava arrasado, em pedaços. Literalmente.
E foi assim que o trem passou sobre "o trem que não passou".

quinta-feira, 28 de abril de 2016

A vida em preto e branco

A luz que me ilumina enche o quarto de um branco assustador. As sombras formam-se gradualmente ao longe, mas não conseguem chegar perto e envolver-me.
Fui ensinado a temer a escuridão ao mesmo tempo em que desenvolvia um pensamento de acolher o que era rejeitado. A escuridão passou a ser um fetiche, uma busca insaciável do ato de apagar a luz.
Desenvolvi uma rejeição natural à iluminação, passei a planejar o momento de pressionar o interruptor; o difícil é parecer não ter motivo.
Gradualmente, os tons de cinza mais escuros prevalecem. Falta coragem de apagar a luz.
O negócio é fechar os olhos: ao me acostumar com o breu total, jogar uma pedra na lâmpada será tão natural quanto respirar.
Na ausência de luz, a parede mais branca é tão negra quanto petróleo.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Agradecimentos

Não tenho crenças em seres divinos. Sou uma pessoa extremamente negativa e pessimista, ao menos, eu acho. Mas o tempo vai passando, e a capacidade de observar coisas parece aumentar; você, ao ficar mais velho, parece ganhar um poder analítico sabe-se lá de onde.
E foi com essa mania de reflexão que me tomou de assalto agora, que estou beirando os 30 anos de idade, que percebi que há um poder na natureza, um poder muito forte, pelo qual devo agradecer, todos os dias de minha vida.
Não, não é a bondade humana, não acredito nisso; não, não é a "natureza", estamos matando a natureza. É o simples fato de existir mulher que gosta de piroca. Sejam quais forças naturais ou sobrenaturais existentes nessa porra, muito obrigado, porque acho que as mulheres podiam se fechar em grupos de amazonas, e os homens iam morrer desesperados na busca pela buceta, porque puta que pariu, buceta é bom demais!
BUCETA É BOM DEMAIS. Os lábios, a baba, por dentro, por fora, peluda, lisinha, o grelo... TUDO!
Era só esse meu manifesto. Ainda bem que algumas mulheres gostam de rola e aceitam fazer essa troca injusta prá caralho - realmente, prá caralho.
Obrigado.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Sobrinha Atenta

Fui de Topper para uma festa. Ok, me falaram que não era legal ir de Topper (sabe, aqueles tênis de futebol de salão, todo preto, com uma borracha branca rodeando todo ele na parte de baixo?) em uma festa, mas que se foda, não é legal ir em festa às vezes.
Estava de boa, comendo e bebendo, tudo normal. Minha sobrinha estava dançando; ela tem 5 anos e acha que sabe dançar "passinho" de funk, mas ela fica parecendo uma maluca dando estrela e botando a perna aleatoriamente esticada e dobrada em vários lugares, quase chutando tudo o que tem ao redor. Certamente essa porra cansa, e em dado momento, ela parou, toda suada, e sentou no sofá, a uns 10 metros de mim. Fiz um joinha pra ela, fingindo que ela estava arrasando dançando (ela é super vaidosa e liga muito pra essa merda), mas eu tava interessado mesmo era em salgadinho e bebida (porque tava calor pra caralho! Eu tava suando, e nem tinha dado "passinho"). Depois que eu fiz o joinha, devo ter dado uma bicada no copo, e quando olho pra ela de novo, tá ela olhando pra baixo da minha mesa. Olhei também, não vi nada. Ela estava olhando fixamente para baixo da minha mesa. Olhei de novo, nada. Olhei para ela, e ela, feito uma maluca, veio, meio abaixada, sem piscar, olhando para o mesmo ponto fixo, passando por todo mundo, obstinada. Chegou próximo a mim, esticou a mão e foi direto para o meu tênis.
Um detalhe que não contei: meu Topper estava rasgado, e meu dedinho saía para fora. Para evitar esse vexame, peguei fita isolante e mandei ver na parte preta, afinal, era da mesma cor, ninguém ia perceber, pensei eu. Giovanna tirou minhas 3 camadas de fita isolante, deixando uma ponta branca desabrochar (meu dedinho de meia) no solo fértil do meu Topper. Ela arrancou de uma vez.
- Giovanna! Tá maluca? Olha meu dedinho ali!
- Ih, titio, desculpa! Eu olhei e vi que tinha um negócio todo pendurado aí, achei que era pra tirar...
Nessas horas que eu percebo que, nem tudo o que a gente acha que passa batido, passa batido...

Pseudonarcolepsia

Gosto de sonhos loucos, acordo bem, tentando lembrar tudo e impressionado com a história que meu inconsciente criou, geralmente frustrado por ter acordado antes do desfecho da história. Enfim, curto mesmo!
Mas se tem uma coisa que eu tenho medo, é o que me aconteceu hoje; chamarei de psuedonarcolepsia.
Estava eu tirando um cochilo (programei o despertador para tocar uma hora após deitar), quando meu sonho veio em primeira pessoa, e era eu sendo esmagado por um ser com pelo preto, sentado em cima da minha cabeça, e eu só conseguia ver o lençol da cama onde eu dormi ( era o mesmo local, eu estava na mesma posição da cama, e enxergava apenas o que enxergaria se estivesse acordado, e sei disso pela distância entre onde minha cabeça estava e a parede, já que meu rosto encontrava-se prensado contra o colchão; e o pior, eu ouvia o ambiente ao redor, como se fosse o real) e um rabo, como se fosse de um gato, que agitava-se próximo à minha cara. Eu comecei a pensar, no sonho: "preciso acordar! Isso é um sonho!", mas a criatura sentava com mais força e afundava minha cabeça no colchão. Eu não conseguia me mexer, tentei olhar para a criatura, e não conseguia. Fiz força para acordar, e não consegui. E comecei a pensar que podia não ser sonho, era muito real para ser sonho. Comecei a sufocar, sem ar, e a pensar que eu dei mole em ter deixado a porta aberta, pois uns demônios entraram pra me matar. Comecei a ter certeza que era realidade, nenhum sonho replicava o ambiente em que se estava com tamanha perfeição... Aceitei a minha morte, visto que estava paralisado, e embora tentasse mexer os braços para atingir de alguma forma o ser que estava sentado em minha cabeça, mas não conseguia. Então acordei, e minha vista era exatamente igual à do sonho, com a diferença que consegui levantar a cabeça, desesperadamente.
Suava feito um porco. Mexi os braços, para provar pra mim mesmo que eu podia mexê-los; tudo OK.
Fui beber um guaraná natural... E por via das dúvidas, tranquei a porta.
Detesto esse tipo de sonho.

Fila de Banco

Chego no Banco do Brasil. São 15:31, diz a minha senha, e tenho que pagar a conta hoje - deixei para o último momento para ter um pouco de tensão. Ao passar pela porta giratória - milagrosamente sem parar -, percebo que há um porquê de ter passado direto, com celular no bolso, um molho de 37 chaves da casa do meu avô (que taca cadeado até em janela), e um pote de doce de leite (com tampa de metal!): os seguranças não estavam olhando pra mim, mas para uma leve confusão armada: dois senhores gritam e apontam nervosamente, enquanto um funcionário tenta acalmar, e os 3 seguranças ficam por perto - deixando de apertar o botão para barrar minha entrada. Cheguei perto dos exaltados - lógico - e comecei a botar pilha:
- É foda, o gerente desvia os funcionários para atividades mais lucrativas e deixa a gente mofando aqui...
Resmungos de aprovação ressoam ao meu redor. Senti-me vitorioso.
- Pior que por ser banco público, nem adianta reclamar, vai dar em nada... Mesmo com a lei dos 15 minutos pro atendimento...
Minha tentativa de mostrar o quão atados estamos, acabou resultando em explosão: um dos exaltados me mostra a senha dele, aos berros:
- Pois é!!! É lei!! É lei!!! Eu tô aqui desde duas e doze ( ele falou " doooouuuuze", para enfatizar), mais de uma hora!!! E é lei!!
Ele fez uma pausa, respirou, olhou pra mim, e mandou:
- Olha aqui, chama a porra do gerente que eu tô com um homem-bomba aqui!! Vou jogar o homem-bomba prá vocês se eu não for atendido!
Olhou pra min, abaixou a cabeça com um leve sorriso, triste até, e me deu tapinha no ombro, que dizia, sem palavra alguma, "desculpa te zoar, mas eu precisava aliviar". E eu ri; e o clima amenizou; e todos voltaram para a fila, conformados.
Cara, esse espírito HUE HUE BR não é algo da internet. É a única coisa que me faz pensar em identidade nacional, e, embora anti-nacionalista, me faz ter orgulho de ser brasileiro.
Sério.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

20 de junho de 2013

Rio de Janeiro, avenida Presidente Vargas. Uma passeata reúne quase um milhão de pessoas, que protestam contra o governo. No país, em diversas cidades, cidadãos inconformados com os políticos do Brasil vão às ruas para reclamar da situação política, pedir o fim da violência policial nos protestos, mostrar a insatisfação com a corrupção, o descontentamento com as promessas não cumpridas de um governo que se dizia de esquerda e que preocupa-se apenas em abrir as pernas para a FIFA, gastando bilhões com a Copa do Mundo e cortando verba da saúde e da educação. No Rio, a manifestação irá até a prefeitura, órgão responsável por muitos roubos, e que certamente lucrará tanto com obras no Maracanã, da copa de 2014, quanto com as Olimpíadas de 2016; e que esmaga cada vez mais os cariocas.
J. está no meio dessa multidão. Ele é relativamente jovem, e tem um propósito muito forte além de todos os citados acima. A questão dele é pessoal. Ele está decepcionado com a presidenta - como pode uma ex-guerrilheira não manifestar-se sobre os excessos policiais cometidos nas manifestações passadas? - e com todo o corpo político brasileiro. Ele quer mudanças estruturais, deseja que nem a Copa  nem as Olimpíadas sejam realizadas no Brasil, quer mais transparência para evitar roubos astronômicos na esfera pública. Mas não hoje.
Hoje, J. só deseja realizar uma vingança pessoal, e planejou por muito tempo para isso. Observou as câmeras presentes na avenida Presidente Vargas; o posicionamento de patrulhas policiais; separou uma máscara para cobrir o rosto. J. via a necessidade dos black blocks, mas sabia que não pertencia àquele grupo. No entanto, para cumprir sua missão, acabaria tendo que passar por um deles. E teria que sujar suas mãos, mas estava preparado para isso. A revolução não vem com flores e nem de terno e gravata; ela vem com violência e manchada.
J. aguardava pacientemente em uma rua paralela à avenida principal, onde desde as 18 horas já passava muita gente. Ele fumava um cigarro e bebericava um vinho vagabundo que já estava até quente, enquanto uma touca estava em sua cabeça. Quando deu 19 horas, resolveu que era hora de agir: jogou a guimba de cigarro no chão e pisou; respirou fundo e abaixou a touca, que revelava-se ser do tipo que chamam "ninja", com buracos nos olhos e na boca, e saiu. Voltou, pegou a guimba do chão e jogou na lixeira que encontrava-se perto dele, já que queria uma cidade mais limpa, e sujá-la era incoerente. Partiu para a avenida, com o rosto coberto.
O caminho para chegar à presidente vargas era exatamente a Marquês de Sapucaí, rua em que há o desfile das escolas de samba no carnaval carioca. Refletiu brevemente sobre isso enquanto caminhava: estava "fantasiado", na Marquês de Sapucaí, e as pessoas olhavam para ele enquanto ele avançava, decidido. Decidiu dar uns passinhos de samba enquanto andava, para diminuir a tensão de quem o olhava, e dele próprio: estava muito tenso, pois sabia que era arriscado o que faria. Alguns sorrisos brotaram ao ver o falso black block sambando; dava mais humanidade, identificavam-se mais ao personagem sem rosto. Parou de sambar e seguiu em frente.
Quando J. virou à direita, estava próximo ao ponto que desejava; colocou a mão dentro do casaco, e de um bolso interno retirou um pequeno saco com pólvora espremida. Pegou a bomba caseira com cuidado, pois não queria que estourasse antes da hora, pois só tinha duas, e precisava atingir o alvo. Passou horas desenrolando malvinas e depositando toda a pólvora em um saco, para depois dividir o enorme montante em dois, cada um o suficiente para causar um estrago bonito. O inimigo instalava-se aos poucos no Rio de Janeiro, e parecia que ninguém percebia, ou pouco se importavam com isso; mas J. sabia o mal que isso faria ao longo dos anos, com as pessoas acostumando-se àquilo. Não, ele tinha que acabar com aquela aberração!
Ao chegar na esquina que precisava chegar, percebeu que o local parecia um ponto de encontro, e precisou pensar rápido para esvaziar o lugar; seu polegar não parava de esfregar, por ansiedade, o saco de pólvora que estava em sua mão direita. Parou em frente à parede. Olhou para cima; a grandiosidade daquela merda era imensa! Era a hora!
J. gritou, gesticulando: "Sai todo mundo, porra!!! Vou matar esse terrorista!!!"
Os gritos repetidos três vezes por J. fizeram surgir um clarão em meio ao tumulto, e a parede que ele queria ficou vazia, limpa para sentir o seu ódio. Vendo-se sozinho no espaço, atirou a primeira bomba contra o mural multicolorido que o enchia de tristeza toda vez que passava por ali, de ônibus. A bomba estourou um bom pedaço da parede, fazendo voar pedaços de pedras coloridas por ali. J. estava com o rosto virado na hora da explosão, e sentiu o deslocamento de ar e o som (um grave maravilhoso, carregado de sentimentos para ele). Ao virar-se para o antigo mural, sentiu uma alegria invadir-lhe o peito quando percebeu que o desenho estava desfigurado; mas não estava satisfeito. O ódio não satisfaz-se com o aleijamento; ele quer a morte! J. pegou a segunda bomba e lançou na parte da direita do "quadro", que tinha permanecido intacto. Segundo estrondo. Um sorriso brotou do rosto de J., que no momento estava virado para o lado oposto, para proteger os olhos das pedras que voavam, estraçalhadas. Olhou para a parede: apenas resquícios do que fora um dia; agora sim, uma obra de arte! Ficou feliz e sentiu o coração acelerar de emoção. Algumas enzimas que eu não saberei dizer quais eram, estavam a toda, correndo pelo corpo de J., e surgiram mais algumas para a festa quando ele ouviu a sirene da polícia e viu uma viatura tentando, lentamente, chegar ao local, enquanto a multidão a atrapalhava.
J. saiu correndo de volta pela Marquês de Sapucaí. Sentia-se um destaque de escola de samba, todos olhavam para ele. Mas ele conhecia o poder da multidão: ele havia destacado-se antes, mas poderia voltar a ser apenas mais um. Gritou: "Gás! Não respira!!", enquanto corria. E óbvio, começou um tumulto de correria e as pessoas tapavam a boca e o nariz, mesmo sem ver ou sentir qualquer evidência de gás lacrimogêneo. J. tirou a touca do rosto, guardou no bolso. Continuou correndo, ele e mais outros milhares. Havia escapado, sem sombra de dúvidas.
No dia seguinte, ao acordar, pegou o jornal que seu pai havia comprado, na mesa. Abaixo da manchete, que falava da manifestação, uma foto da parede que destruíra na noite anterior anunciando uma notícia:
"Mural de Romero Britto destruído na manifestação por vândalos"
O sorriso parecia não caber no rosto de J., tamanha a felicidade. Respirou fundo e foi comer algo. A corrupção continuaria, a Copa e as Olimpíadas certamente ocorreriam... Mas sentia algo que poucos já sentiram: consciência de que tinha feito um bem à humanidade.