terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Hora da Aventura




Dedo quase quebrado mas estou bem! Não agüento mais a violência urbana! Agora vem textão...
Ontem, ao sair de casa, botei uma bermuda, peguei a camisa que já tinha usado uma vez, pra usar a segunda vez e botar pra lavar depois (geralmente o modo de vestir é assim, aleatório). Só quando estava no centro é que percebi que eu tava parecido com o Finn. Beleza. Fiz tudo o que tinha que fazer, comprei uns copos vermelhos (rojo, rosso mesmo, achei bonitão), e fui, todo pimpão, voltando para casa.
Passei pela Candelária e seus locais estranhos, à noite, sempre resguardando os copos vermelhos e minha fiel companheira, senhorita Mochila. Peguei o trem. Desci em Marechal (na real desci em madureira e peguei o parador pra marechal, mas foda-se, né?). Comprei um açaí, porque não se vai a marechal sem comprar ou batata ou x-tudão ou açaí, é tipo ir a Roma e não querer ver um cristão ser comido por um leão. De açaí (de morango com paçoca, granola e, por que vocês fazem isso - mas é tão gostoso -, a gordice do chantilly) e os copos em mãos, caminho, pra chegar ao valqueire. No ponto onde marechal escurece, eu continuo pimpão, mas sobe uma trilha de background meio de suspense, meio de terror. Assustado com aquela mudança de ambiência sonora repentina, olho para trás prá ver se aconteceu algo que justificasse aquela trilha sonora, e percebi: a vida botou dois personagens, não tinham cara de figurantes, de que apenas passariam por mim, sem falar nada; aliás, esqueci de dizer, mas sou o protagonista da história. Sei que não tenho cara de protagonista, mas por se tratar da minha vida eu não tinha escolha: tinha que aceitar o papel de protagonista. Enfim, os dois sujeitos pareciam que iam interagir com o protagonista, e realmente o fizeram. Dando passos mais rápidos que os meus, me alcançaram:
- Tá carregando o que aí?
Eu estava sozinho, já que não considerava a companhia dos dois como não estar sozinho, e pensei "vou perder meus copos rojos".
- Pô, tô só com açaí e uns copos, cara... - respondi, meio trêmulo, já que o saco com os copos estavam em uma mão e o açaí na outra, sem me deixar nenhuma mão livre pra esboçar reação, mesmo de defesa, tranqüilo.
- E essa mochila aí? - perguntou, depois de constatar que eu carregava um açaí e um saco com um embrulho de jornal, indicando que comprou vidro em lugar de pobre.
- Porra, a mochila tá rasgada, cara, olhaí... Só tem um livro...
Porra, tinha acabado de começar a ler Jangada de Pedra, tomar no cu que os caras iam roubar meu livro. Os dois se entreolharam, não deu pra saber o que pensavam bem porque estava escuro e estavam de capuz. Um deles falou, então, decidido:
- Já é. Vai lá, então, mas deixa o açaí pá nóis.
Virei e pela primeira vez encarei meu interlocutor.
- Não! O açaí, não, mermão.
Ele pareceu surpreso, arregalou os olhos. Nem olhei pro outro.
- Tô indo a pé pro Valqueire pra tomar meu açaí tranqüilo, podia ter pego ônibus, tô economizando... - nesse momento recolhi meu açaí, como se ele estivesse sob minha proteção, e aguardei a merda que ia dar. Porra, logo hoje que eu tava vestido de Finn, cacete, não; tinha que ter minha aventura e lutar por alguma coisa.
Os dois vieram pra cima e eu dei um chute aleatório, no ar, demarcando meu território de defesa (a única coisa que eu podia a fazer, ou então quebraria os copos ou cagaria todo mundo de açaí, e aí não faria sentido, porque ia ficar sem açaí do mesmo jeito). Eles recuaram. Um deles riu, e foi se afastando, desistindo pelo surrealismo da batalha. O outro ficou puto, e antes de ir embora, pegou um pedaço de madeira e partiu pra cima de mim.
- Ou passa o açaí ou eu vou derrubar o copo...
Não respondi nem passei. Permaneci encarando. Ele desceu com o cabo de madeira em direção ao copo de açaí, ia pegar no chantilly e fazer uma cagada gigante. Virei a mão, o suficiente para que a inclinação não entornasse nada do copo e ao mesmo tempo para que a madeira suja não contaminasse meu açaí. Obtive sucesso no meu objetivo, mas a madeira acertou em cheio meu dedão da mão esquerda. PUTAQUIUPARIU que dor! Mas não caiu uma gota de açaí no chão. O cara que me deu a pancada jogou a madeira no chão e saiu xingando, enquanto o comparsa ria e o chamava, mais a frente.
Cheguei em casa feliz, com o açaí e os copos vermelhos, vestido de Finn, e tive minha aventura.
Massssssssss... É provável que digam que metade disso foi invenção, e o dedo roxo com vaso estourado foi conseguido com algum idiota arritmado tentando tocar bateria e acertando o dedão esquerdo com força ao tentar acertar o prato... Intriga da oposição. Você escolhe aí no que vai acreditar...

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