quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Nota sobre "Light my fire"

Pode parecer bobagem o que estou escrevendo (e geralmente, realmente, é!), mas ouvir essa música do The Doors na rádio me trouxe mil reflexões. Mentira, uma só. Mas a epifania é essa:

"Por mais genial que seja a música / texto / idéia / filme / pessoa, as pessoas só querem conviver com aquilo a que estão acostumadas."

Explico agora. A música é foda, e tem um solo de teclado de, sei lá, uns dois minutos, nunca parei para contar, e faz parte da música, foi composta como parte da música, onde ao menos para mim, suspende tua animação por um tempo - mas faz parte daquele ambiente da música. Foda-se, não sou crítico musical, mas o lance é que editam pra tocar na rádio e cortam o solo de teclado.
"Ah, é rock... Rock se faz com guitarra, não com teclado..."
E acho que as pessoas estão querendo vidas apenas editadas - cortem as "partes ruins", que, diga-se de passagem, geralmente são as partes mais lentas; pessoal tá viciado em rapidez, instantaneidade, essas merdas que a publicidade de internet banda larga trouxe às nossas vidas.
Se alguém está mal, melhor arrumar outra companhia e quando / se a pessoa voltar a ficar legal, volta a companhia (tira a parte amuada do teclado e bota logo as guitarras). Lê só a parte do livro que você pesquisou na internet que é do seu interesse, foda-se o livro como obra... Pula a parte do filme que as árvores ficam andando sem parar com os hobbits, passa logo pra guerra...
Todo mundo tá sem tempo pra partes lentas, tristes... Tá todo mundo cheirado de informações e respostas rápidas. Idéias novas são rapidamente repelidas por não fazerem parte de um padrão já consolidado. Livros são trocados por resumos de internet. Pessoas mais contidas são consideradas chatas porque ninguém tem paciência mais de tentar ganhar confiança alheia - é tudo na base de atirar "e aí, beleza?" para trinta pessoas simultaneamente em um recinto, "se dar bem com todo mundo" - mas assim como o jornalista que sabe um pouco de tudo, não sabe de nada, ninguém conhece ninguém.
Processos lentos podem valer mais a pena.
Por mais solos tristes de teclado. Por mais tristeza na vida. Por uma desaceleração.
Tô nessa.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Pintura de Gênio


Quando a segunda vira terceira pessoa
E da primeira invade-se um branco sem vida
Torna obscura a existência que era boa
É necessário, então, deixá-la colorida.

O vazio branco cresce em invisível rede
Deixando a primeira pessoa deprimida
E é lembrada a solução quase esquecida
De colorir de vermelho a branca parede

Toque de gênio contra a opressora alvura
Afasta de uma vez perigoso vazio
Esvai-se o líquido de escarlate brilho
Mas deixa uma obra-prima, formosa pintura.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Reuniões de família - Século XXI

Saca almoço de domingo em família, quando tá todo mundo alegre, todo mundo rindo porque todo mundo fala coisas engraçadas (ou nem tanto, sempre tem os que mandan piadas idiotas...), conta os causos, e tal? Aí tem alguém que vai fazer algum comentário raso (geralmente, babaca) sobre política, e o revoltado da família vai soltar algo sarcástico e causar aquela tensão... E aí vai rolar papo de espiritualidade, e sempre tem o descrente que, mesmo sem se pronunciar, vai ter quem fale: "ihh, o fulaninho não gosta desse papo... Oh, ele fica irritado", e aí o fulaninho fica irritado por estarem irritando ele e solta o verbo sobre a porra toda, e acaba que ninguém sabe como é que é possível almoçar em família desse jeito...
Então, atualizaram essa porra, e chamam agora de "grupo da família no Whatsapp".

Sobre folhetos religiosos

Eu de bom humor: "Não, obrigado." E passo reto.
Eu de mau humor: passo com a cara fechada resmungando.
Eu com MUITO mau humor: pego o papelzinho, rasgo na vista da pessoa e jogo na primeira lixeira que encontrar.
Eu com MUITO bom humor, nível dia de teletubbies: paro, pego o papel, olho rapidamente e devolvo "ahh, não, eu sou satanista, achei que era promoção de loja..."

O futuro cobra...

Tudo o que fazemos no passado, acaba voltando no futuro. Essa é uma história contada em três partes.

PARTE 1: Você tem pouco menos que 18 anos. Percebe que o preço dos CDs são mais baratos na internet do que nas lojas físicas. Faz um cadastro nas Lojas Americanas.com. No cadastro, além de todas as chatices cadastrais, perguntam, simpaticamente: "COMO GOSTARIA DE SER CHAMADO?". Seus olhos brilham, você começa a escrever com aquele sorriso cheio de uma pretensa maldade no rosto. Fade Out.

PARTE 2: Fade In. Mais de 10 anos depois, você vai comprar um presente da lista de casamento de um amigo seu, na Americanas.com. Compra, manda entregar. Depois de finalizado, se pergunta: "ué, onde tá a parte onde eu me identifico pra pessoa, mando uma mensagem pessoal?" Não tem... Você olha para cima, do alto dos seus 29 anos, a sociedade cobrando um amadurecimento, seus amigos casando... Fade Out.

PARTE 3: Fade In. Você percebe que não tem jeito... tem que contactar seu amigo, dizendo que, caso chegue algo com o nome de Fabiano, "é o presente que eu e Luciana compramos pra vocês". Mas assim, se por acaso, apenas por acaso, chegar uma encomenda vinda de "REI DO INFERNO", assim, eu tinha pouco menos que 18 anos quando fiz o cadastro, e, sabe, me perguntaram como eu gostaria de ser chamado...