quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Sonho louco - Exodus

Sonhei que estava em um show do Exodus, mas o show, que era uma forma alternativa de "show no teatro Odisséia", acontecia em um ônibus. Era um ônibus que só tinha bancos do lado esquerdo, e um corredor generoso. Todos estavam assistindo ao show sentados, mas eu e mais duas pessoas, uma delas o Ricardo Schmidt e o outro o Tiago Meneses, ficamos em pé no corredor. Curtimos o show, os caras tacavam brindes de vez em quando: tacaram camisas e um All Star preto e vermelho, logo de cara; o Ricardo pegou a camisa, o Tiago pegou o All Star, eu não peguei nada. Tudo corria bem até que uma hora eles pediram para que agitássemos e fizéssemos uma roda (fizeram aquele gesto clássico de metal, pra formar o "pit", girando o dedo). Sim, fazer uma roda em um corredor de ônibus. Ae fiquei esperando a guitarra começar, e quando começou, estava só playback. Não agitei, esperei vir o som de show mesmo... e nada. Deu merda. Os técnicos de som começaram a mexer para saber o que era. Nisso, eles tacaram umas vasilhas de mexer bolo. Eu peguei uma e joguei pra outra pessoa. O Ricardo veio reclamar comigo falando que queria. Eu fui falar com o vocalista, que não era nenhum vocal do Exodus, e ele deu uma vasilha pro Ricardo, e eu aproveitei pra fazer uma piada idiota, do tipo "ele é vegan, não bate bolo, só gosta de pinto", algo assim. Eu peguei uns box com CDs e DVDs, e guardei na minha mochila. O Shane tava tocando baixo pro Exodus, e curiosamente, estava sentado no banco ao lado da minha mochila, assistindo ao show. Na real ele parecia mais que estava dormindo. Enfim. Quando resolveram o problema técnico, o pessoal da banda voltou, e estavam vestidos como se fossem do Manowar, cueca de couro, e todo mundo riu, zoando. Mas o som não veio, continuou playback. Aí pararam o show. Pedi uma palheta pro Gary Holtz, que me deu uma palheta grande, que parecia um desenho de um cu. Depois, com o passar do sonho, no que eu fui mostrando essa palheta, ela acabou virando uma parada de plástico que era do tamanho da minha mão e formava a imagem de um leão. Enfim. Aí nesse meio tempo eu virei técnico de som e tentei ajudar o pessoal, mas aí não era mais um ônibus, já era um local e teve que tirar almanaques do He-man e várias revistas em quadrinhos de lá para ver o que estava errado.
E acordei.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Espírito natalino

Bondade, amizade, fraternidade... Chega o final de ano e embora a palavra de ordem seja "consuma", as pessoas ainda tentam se enganar com esse lance de espírito natalino e fingem de brincar de santas.
Uma regra: a vida é uma merda, e as pessoas é que fazem isso. Tudo espírito de porco que durante um mês do ano vem com o papo de "é tempo de (substantivo positivo good vibe de merda)". Meu ovo esquerdo!
O negócio é que não consigo esconder minha escrotidão em tempo nenhum, e sinto-me isolado: todo mundo querendo dar presente, participar de amigo secreto e eu sempre na busca de espíritos de porco declarados para o infame: inimigo oculto. Melhor brincadeira, você gasta dinheiro para zoar a pessoa que você tirou!! Se você gosta da pessoa, zoa! Se não gosta, zoa também (óbvio que aí pode pegar mais pesado, atingir o calcanhar de Aquiles daquele feladaputa...). Tem alguma troca de presentes mais foda? Pode vir regada a palavrão; na descrição do seu inimigo oculto para os outros tentarem adivinhar, pode começar a irritar já... Enfim.
Enquanto o clima for de amenidades o natal vai ter sempre essa aura bosta e uva passa nas comidas.

HaiCU Smartphone

De nada adianta
Ter o melhor smartphone
E ser o maior dumbfuck.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Meu dia com o Veríssimo


Escrevo para geralmente fugir da minha realidade. Mas não dessa vez. Dessa vez escrevo para agarrar-me a uma realidade que nenhum alzheimer (espero eu) poderá destruir! E sim, tive meu dia de fã sem vergonha. Quer dizer, um pouco envergonhado, sim, já que não consegui sequer dizer o que queria para o velhinho sentado à minha frente, cujos livros antigos me incentivaram (E MUITO) a escrever um monte de besteira! E há um feito no dia de ontem que quero eternizar através de meus relatos.
Veríssimo, em um papo com Zuenir Ventura e Marcelo Dunlop (jornalista que catalogou frases dele - Veríssimo -, que saíram no livro "Veríssimas"), muito contido, pouco falou, e o que disse foi naquele tom sereno, do velhinho tímido que pareceu mais animado apenas nos momentos em que falou de suas merdas da juventude e, não necessariamente animado, mas com vontade de falar, quando o assunto foi o seu Internacional. Ok, foi bacana, mas foi meio corrido, com o Zuenir tomando conta do papo, falando muito mais do que ele. Mas... fim do papo, e corre-se para o canto dos autógrafos, onde Veríssimo estaria autografando seus livros, e o Zuenir também - confesso rapidamente que nunca li a Cidade Partida, nem o livro da série Pecados Capitais dele, a Inveja... Enfim, estão na minha eterna lista de livros a se ler, e pretendo ler um dia... mas fui pra ver o Veríssimo mesmo.
Eis que lá estava à venda o novo livro, o "Veríssimas", e a grande maioria estava comprando o livro ao lado do canto do autógrafo, para ter o que ele autografar. No entanto, do alto de seus 80 anos, após o susto que deu em todos no início do ano, o bom velhinho (foda-se o Papai Noel!) para enfrentar a bateria de autógrafos que teria que dar, sabiamente preparou 3 carimbos de autógrafos, onde um deles era apenas um desenho. Fiquei um pouco amuado, pois aquele cara é realmente importante pra caralho na minha vida literária: comecei lendo suas crônicas que saíam no jornal, depois as tirinhas das Cobras, e depois procurei os textos do Analista de Bagé, e outros personagens fodas que ele criou. Quando eu lia os livros dos contos do Analista, ou do Velhinha de Taubaté e outros contos, eu pensava comigo mesmo: como é que aquele velhinho na dele, com aquele sorriso sereno, podia escrever aquelas grosserias - que me davam raiva por não conseguir expressar as mesmas idéias com a mesma genialidade, mas ao mesmo tempo me deixava feliz pra caralho de conhecer tal literatura, genialmente boa!-? Como eu queria gritar pra todo mundo "O Veríssimo que vocês adoram, e compartilham só frases idiotas que nem são dele na internet, tem um ogro por dentro e já escreveu frases que deixariam vocês com vergonha, seus merdas!", para todos os amantes da falsa literatura. "É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata..." é mi verga, carajo!!! Como já dei bronca em sogro e pai no Whatsapp por compartilhar texto nada a ver (alguns anti-PT inclusive) como se fosse de autoria dele...
Mas eu estava falando dos carimbos. Pois tinha que me contentar com o que havia, e se o autógrafo era carimbo, carimbo seria! Pois na hora de entregar os livros, entreguei "A Velhinha de Taubaté", um livro antigo que comprei num sebo, e que é bruto feito gaúcho, "tchê!", e a antologia das Cobras. Quando botei o "Velhinha de Taubaté" na mesa, o tal Marcelo, que fez a compilação dos aforismos dele pra esse livro, e deve ter lido a porra toda, ainda botou uma pilha: "Nossa, esse é raridade, hein!"; mas o Veríssimo apenas sorriu ao ver, e carimbou a antigüidade. Quando pegou a antologia das Cobras, veio a surpresa. Pegou um carimbo, mas pediu ao Marcelo, que estava ao lado dele:
- Me arruma uma caneta...
Eu queria falar com ele, mas havia uma fila de pessoas, e minha timidez também não deixou. Queria falar exatamente dos textos grosseiros, tchê; do rosto sereno de velhinho simpático, daqueles que não dá nem para reclamar quando estamos há duas horas no banco, esperando, e mal ele entra é atendido na hora... Que aparecia na propaganda do Globo, falando tão lentamente, numa calma tão zen, que parecia um bicho preguiça. Aquele velhinho já foi um jovem que deixou os mais velhos "de cabelo em pé", na época em que até as bucetas ficavam de cabelo em pé, pois ainda tinham cabelos. Mas não disse nada. Mas fiquei em êxtase ao vê-lo pegando a caneta, puxando um balãozinho na primeira página das Cobras, e escreveu, meio tremido, um "Oi!". Eu poderia ter aproveitado aquele momento, onde com um gesto, ele mostrou que havia um mínimo de cumplicidade entre ele, o bom velhinho, e aquele rapaz estranho com uma camisa com o Papa Bento XVI com uma montagem tomando ecstasy. Mas eu preferi eternizar o momento com uma foto e deixando-o em paz, sem falar besteiras para o escritor que deve estar cansado de ouvir que foi inspiração para tantos pseudo-escritores.  E ao terminar de escrever, devolveu a caneta ao Marcelo.
E assim terminei um dia feliz! Luciana pegou autógrafo (carimbo) com um livro meu de contos do Veríssimo, que emprestei a ela há tempos para pegar gosto por leitura, todo mundo levou carimbadas. Luciana foi ao banheiro, eu fiquei ali, ao lado, vigiando se ele ia assinar mais algum com caneta. Não pediu mais a companheira azul... apenas carimbos. Apenas eu tive algo escrito do Veríssimo a caneta naquele dia. Só eu recebi um "Oi!". Fiquei ao lado, olhando os outros tietes; eu feito a mulher ciumenta, vendo se o escritor vai fazer graça com outra pessoa. Ninguém; apenas carimbadas.
Sim, texto fútil, idiota, de fã mesmo. Mas respeitem, é Veríssimo. E ESCRITO A CANETA, PORRA!!!!

Prova de que ele usou a caneta em meu livro e minha cara de "YEAH, PORRA!!!"
O autógrafo a mão!!

Promessa para Giovanna

Encontro minha sobrinha, coisa mais linda do titio babão, que acabou de fazer um desenho para mim e um para "tia Lu": o dela, um desenho da Luciana com a Frozen; o meu, um desenho meu olhando uma garota apavorada sendo atacada por um tubarão.
Converso com ela algumas coisas, e quando estava indo embora, ela pediu para eu ficar mais. Não podia, mas prometi pegá-la durante a semana para dar um passeio.
- Você jura?
- Juro - respondi.
- Diabo, Diabo?
Olhei pra ela, estranhando e comecei a rir. Minha mãe se intrometeu na conversa:
- Que isso, não fala isso, que coisa horrível.
Giovanna calmamente explicou:
- Ué, vovó, meu tio não gosta de Deus, aí se eu perguntar "Deus, Deus?", ele vai falar "Não!". Aí eu tenho que perguntar "Diabo, Diabo?"...
Ri mais ainda, fiz "toca aí" com ela e respondi.
- Diabo, Diabo.

Agora está prometido, não posso descumprir!

Rio Water Planet

Sábado ensolarado, tava de bobeira no Rio Water Planet. "Ora, ninguém fica de bobeira no Rio Water Planet", pensarei eu, leitor único e fiel desse blog, quando, anos depois, reler esse texto, totalmente esquecido do que se trata. Mas o negócio é que eu achei que estava de bobeira, mas eu fui na piscina... Numas descidas lá de tobogã... Ok, pouco o suficiente para me achar "tava de bobeira", até que avistei-a. Era uma mulher. Não, o que me chamou a atenção não foi seu biquini sensual, nem sua marquinha, nem sua bunda ou peitos; foi o hábito que ela usava. Sim, uma porra de uma freira, com hábito, no Rio Water Planet. Sentada. Fazendo tricô. Caralho, pensei, ela sim está de bobeira aqui. Ela sim deveria estar em casa, na igreja, na puta que o pariu, mas não aqui. Dissonante, intrigante. Olhei durante uns dois minutos, hipnotizado, para aquela mulher, num calor infernal, cercada de águas, mas em um hábito longo e enclausurador, tricotando, sentada em uma mesa. Ela não me viu, concentrada que estava em suas tarefas. Comentei com Luciana, que riu, mas estava mais querendo aproveitar as águas do que ficar intrigada com um pensamento que me perseguiria por dias: o que faz uma freira no Rio Water Planet?", além da óbvia resposta, tricotar.
Fui para a água, passei mais alguns momentos me refrescando. Quando voltei à mesa, a freira agora estava dobrando papéis. Muitos papéis. Ela dobrava-os ao meio. Fiquei parado por mais alguns momentos olhando aquilo. Por que isso?
Só queria dizer que eu não estava de bobeira no Rio Water Planet. Eu estava me divertindo moderadamente. Aquela freira, sim, estava de bobeira.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

The most efficient psychopath introduce (A apresentação mais eficiente para um psicopata)

- Hi, my name is John.
I like to kill people who says "Why, John?"
-----------------------------
Oi, meu nome é Pedro.
Eu gosto de matar pessoas que dizem "Por que, Pedro?"


Não sei o porquê essa merda surgiu na minha cabeça em inglês e pareceu melhor em inglês. "Why, John?" soa melhor que "Por que, Pedro?". Eu acho. Foda-se.

Felicidade não se alcança com padrões

Viviam discutindo. Ele, um rapaz que achava que a felicidade seria alcançada se simplesmente seguisse os passos de um "Jogo da vida": nasce, estuda, se casa, tem filhos, o bode come uma orquídea rara, acha petróleo no quintal de casa, é julgado e se aposenta milionário. Ela, achando que a vida era um "Banco Imobiliário": você nasce, começa a pagar por tudo, e morre pobre, sem ter tempo de fazer o que queria. Por conta disso, ela era de aproveitar qualquer momento, enquanto ele queria crescer e ser o modelo de adulto que o mundo esperava.
Mais uma vez discutiam por alguma besteira. Cruzaram belos cenários, em um lindo pôr-do-sol, solenemente ignorados por conta do foco ser algo que sequer se lembram hoje em dia. Novamente, não se lembram por motivos diferentes: ele, por conta de um trauma causado após a discussão; ela... Bom, chegaremos a esse ponto, voltando um pouco para contar. Vamos a uma fala dele da última discussão, enquanto andavam:
- Mas nosso bode está lá no quintal, solto, e acabou comendo a orquídea rara do nosso vizinho! E onde você estava quando isso aconteceu?
Ela fica muda, pois não faz idéia de onde ou o que estava fazendo. Lendo, talvez, ouvindo música, talvez, cagando... enfim, qualquer coisa que não seja olhando para um bode no quintal. Após o silêncio urbano, que de silêncio só tem o nome, ela arrisca:
- Tá... Mas isso não vai mudar agora.
- Nada vai mudar agora, nada.
Ela não entendia o porquê de as pessoas esperarem mudanças sempre no sentido da "responsabilidade", de deixar o entretenimento de lado. Isso a cansava.
Caminharam, mudos, trocando poucas palavras, gradualmente cada vez mais ríspidas e menores.
Separaram-se no ponto de ônibus. Ele deu um beijo quase que obrigatório, porque a sociedade pedia - por serem um casal.
- Tchau - disse, seco, e embarcou em seu ônibus, que estava parado no ponto final.
Ela não conseguiu falar nada. Apenas seguiu seu caminho, olhando fixamente para pontos aleatórios da calçada. Uma folha. Uma guimba de cigarro. Dois pés aproximando-se e passando lateralmente por ela. Outra guimba de cigarro. Um copo de plástico rasgado em forma de florzinha. Dois pés aproximando-se, frontalmente a ela. Vai bater. Pararam.
- Passa a bolsa e o celular.
Ela levantou a cabeça. O ônibus que ele pegara, há uns cem metros atrás, fecha as portas para sair. Ela olha, sem saber o que fazer, ainda perdida em seus pensamentos, para o homem, baixinho, seu rosto com cicatriz, altamente clichê, e a mão na altura da cintura segurando o que parece ser uma arma de fogo.
- Tá surda? Passa a porra da bolsa e o celular!
Pensa o que tem na bolsa. Um livro, papéis amassados, provavelmente uma banana que deve estar há uns dois dias esquecida, modess, e mais algumas porcarias. O celular, foda-se. Todo mundo perde celular hoje em dia. Racionalmente, era entregar a bolsa e o celular e seguir o caminho, com olhar perdido, talvez um pouco mais perdido por conta da violência surpresa, mas nada que mudasse o mundo. Vida que segue. O ônibus do rapaz saiu do ponto. Mas ela enxerga nesse assalto cotidiano uma oportunidade, sim, uma visão empreendedora: onde parecer algo ruim, veja todos os lados e procure tomar vantagem da situação. Talvez essa era uma oportunidade única (única é forçar a barra... isso poderia acontecer muito mais vezes) para ela. Quem sabe esse sujeito não fora colocado em seu caminho por um motivo? Seria ele um anjo? Talvez ele pudesse ajudá-la a concretizar um antigo sonho que, ironicamente, só precisava de um gatilho (prum trum txx!) para ser realizado.
Ele tentou puxar a bolsa com a mão que não estava segurando o revólver. Ela decidiu que reagiria, e segurou a bolsa. Ele tentou puxar novamente, visivelmente irritado. Ela segurou de novo.
- Não vai levar nada, seu merda!
Ela gritou isso, consciente de estar provocando. Havia um sorriso surgindo em seu rosto, ao mesmo tempo em que passava em sua cabeça milhões de imagens de sua vida. Nem eram milhões, mas faz parecer mais dramático e mais poético do que dizer que ela travou as memórias de sua vida tentando lembrar da cena em que Patrick Swayze é morto em Ghost, e ela nem lembrava tão bem assim. Olhava atentamente para a mão com o revólver, quando ele foi puxado. O ônibus em que o rapaz estava passava próximo ao local do assalto nesse momento, em que ela, agarrada à bolsa, tentava ganhar o cabo de guerra do assaltante. Pessoas no ônibus levantaram de seus assentos para ver a ação.
- Ih, ali, a vagabundagem - disse um passageiro, chamando mais ainda a atenção dos passageiros.
O rapaz olhou, curioso de saber do que se tratava, e viu sua parceira agarrada à sua bolsa, viu o assaltante fazer um movimento brusco com um dos braços, e viu 3 clarões, seguidos de um som característico (metropolitanos sabem diferenciar bem sons de tiros e de fogos), seco.
- Eita! Mete o pé, piloto, que a coisa tá braba! - disse o mesmo passageiro que gritou acima, um narrador nato do caos urbano.
O rapaz fez sinal para descer. Olhava atônito a cena. Viu o líquido jorrar da cabeça da menina. Viu os tiros. Viu-a ser impulsionada para a cerca com os tiros. Mas ele não viu na hora foi o sorriso de satisfação dela. Finalmente, conseguia vencer a covardia que era empecilho para tonar o mundo mais agradável. Ao menos para ela, o único jeito de não ver mais com pessimismo o futuro: não tê-lo.
E os dois tiveram um mesmo pensamento, sincronia mesmo - depois que ela conseguiu livrar-se da cena de Ghost- : o "tchau" seco, o último beijo. Os dois quiseram mudar isso, mas o personagem do revólver estava cagando, aliás, ele nem tinha acesso aos pensamentos deles, como eu, narrador privilegiado, tenho. 
E todos foram felizes para sempre.

A Little Juego

Somente um idiota conseguiria ignorar: dor, ironia, ódio.

domingo, 20 de novembro de 2016

Miss Patada

Ela era apenas uma garota, com seus 15 anos. O corpo começava a moldar-se para mulher, e por ser gordinha, os peitos já se faziam ver, mesmo que não tão grandes. No momento da descoberta, acabava de sair de sua aula de dança, com uma calça legging justíssima, que acentuava as curvinhas incipientes de seu corpo, que indicavam a tendência pro formato "pêra"; mas a calça evidenciava algo além das curvas: a cavidade.
Gabriela fez o mesmo caminho rotineiro para chegar em casa, mas havia começado uma obra nessa rota, e ao passar em frente, um dos pedreiros que não haviam sequer sido notados pela menina, falou:
- Bucetão...
Demorou uns cinco segundos para Gabriela notar que era com ela, e mais uns dois para assimilar que sim, aquele cara havia falando "bucetão", e referindo-se a ela. Olhou para trás, e viu o peão rindo, cutucando o amigo do lado com o cotovelo. Voltou-se para si mesma. Olhou para baixo. Percebeu que a calça marcava-lhe a cavidade, e que isso "era feio". Caminhou os quinze minutos restantes envergonhada, tentando tapar a região pélvica como dava. Chegou em casa roxa de vergonha.
Revirando suas roupas, passou a perceber, no espelho, que tudo o que usava, ou quase tudo, realçava aquela parte de seu corpo. Jogou na internet: descobriu que chamavam de "pata de camelo", e lembrou-se de já ouvir essa expressão antes em sala de aula; provavelmente estavam zombando dela, e ela nem sabia. Passou a pensar em métodos para diminuir a atenção daquela parte: preenchia as partes laterais da pata, mas em vão, parecia chamar mais atenção ainda. Eram olhares de desconhecidos na rua, de amigos na escola, de pessoas na balada, eram palavras obscenas ditas a todo o momento na rua. Como as pessoas conseguem ser tão escrotas a ponto de não conseguir se conter e externar essas "cantadas"?
Após tentativas frustradas, e os anos passando, cada vez mais ganhava destaque, e ganhava admiradores broncos, e apelidos nojentos. E agora, a bunda estava maior também, e os assédios eram com menos pudor: não só verbal, mas alguns físicos. Teve momentos de não querer sair de casa, por conta das palavras e das passadas de mão, sarradas... Sarradas. Tinha raiva de como podia alguém achar legal passar o pau esfregando na pessoa. Era prazeroso? Não podia ficar na punheta em casa? Queria se vingar, mas sempre que reclamava, ouvia a desculpa: "O ônibus tá cheio!"; "Ué, quer conforto, vai de táxi", e outras desculpas esfarrapadas, pois sim, ela sabia que havia bastante espaço para esses tarados passarem sem esbarrar o pau (e se fosse pau mole pelo menos... mas era muita coincidência estar de pau duro num ônibus lotado, o que tinha de excitante nisso?).
Após mais uma discussão em um trem, onde, além do sujeito ter ficado olhando para sua "perseguida" (sim, tinha muito sentido esse apelido, infelizmente) o tempo todo, fez questão de, no lugar de sair pela porta que estava mais próximo, passar por trás dela, virando obviamente o lado do pau para esfregar em sua bunda, Gabriela foi para casa pensando em possibilidades de não passar mais por isso.
Sarrada. Sarrada. Isso a incomodava demais. Gabriela começou a esfregar levemente a mão em sua buceta, pensando que ela é quem controla o que pode passar por aqui ou não, e as palavras começaram a girar em sua cabeça, sarrada, pata de camelo, bunda, sarrada, pata, bucetão, sarrada... Cada vez mais com um pouco de raiva da humanidade por permitirem tais abusos com garotas, mulheres, ela foi se tocando, mas ao mesmo tempo, o ritmo foi ficando bom, e o que era antes apenas um toque de reconhecimento da área como sua, virou um frenesi gostoso, um mix de empoderamento e prazer, e ela não parou. E as palavras continuavam: sarrada, esfregar, buceta, minha, pata de camelo, sarrada, patada... É isso, patada! Em uma espécie de epifania, causada pelo furor do orgasmo e a raiva sentida, Gabriela viu claramente: o contrário de sarrada é patada. E no exato momento do orgasmo, enquanto dois dedos de uma mão ocupavam-se de fazer chegar la petit mort, no outro extremo, a ponta de um dos dedos segurava-se a um fio do abajur, e com a aproximação do momento máximo, a mão do fio foi deslizando, deslizando, e no momento do gozo, a mão trocou descargas elétricas com uma parte desencapada do fio, o que ocasionou um leve inchaço na buceta de Gabriela, e a fez morrer. Após quarenta e cinco segundos morta, Gabriela levantou como se acordasse de um pesadelo, ainda sentindo o prazer do gozo, com dois dedos ainda na buceta. Começou a ouvir vozes emboladas, que pareciam distantes, e também a sentir um cheiro estranho, como se o cheiro a alertasse para algo, mas decidiu que o acordar e o gozo máximo haviam sido o suficiente pelo dia de hoje.  Esqueceu até do ódio que sentia e foi dormir tranqüila, relaxada, do jeito que se dorme após um belo orgasmo.
No dia seguinte, ao sair para a rua, Gabriela percebeu que o cheiro estranho que sentiu na noite anterior era muito forte quando ela passava próximo a rodas de homens. Começou a prestar atenção que no momento que sentia o olfato mais sensível, sua audição começava a pegar vozes e isso a atormentava um pouco. Parou para relaxar, pois estava com dor de cabeça. Sentou-se em uma praça, e apenas permaneceu ali, de cabeça baixa. De repente, sentiu o cheiro novamente, e fechando os olhos, pôde identificar as vozes que surgiram: "que rabo dessa mina! Botava três vezes sem tirar!" Ao levantar a cabeça, espantada, percebeu que não havia ninguém próximo a ela, mas dois rapazes aproximavam-se dela, e olhavam para uma mulher que fazia alongamento em uma árvore próxima à Gabriela. Ao passarem, ela ouviu, como um déjà-vu: "que rabo dessa mina! Botava três vezes sem tirar!" E sentiu sua vagina inchar, a ponto de ficar marcando na calça onde ela estava. O barulho e o volume atraíram os olhares dos garotos, e um deles falou: "Mano! Que pata de camelo!!!" Gabriela instintivamente levantou-se, correu até o garoto, que esticou a mão e gesticulou com o dedo do meio. Gabriela pulou na mão do garoto, fechou a perna e sentiu que sua buceta esmagou o que antes chamava-se mão. Gritando apavorado, o menino saiu correndo, junto com o amigo, que embasbacado, não sabia sequer o que pensar do ocorrido. Gabriela não sabia, mas nascia a Miss Patada. O autor também não sabia, mas partiria firmemente para avacalhar mais um texto que poderia ter sido sério.
A jovem decidiu então treinar arduamente, fortalecer a musculatura. Fez algumas compras em sex shops, pesquisou um pouco na internet e em pouco tempo já estava praticando (e mestra em) pompoarismo hardcore agressivo, e ficou totalmente consciente dos poderes que tinha. Comprou shorts vermelhos em látex com elastano, que faziam mostrar quase que detalhadamente como em um mapa o desenho de seus lábios vaginais; e tops da mesma cor e material. Sim, qualquer super heroína deve obrigatoriamente ter seu uniforme, assim como qualquer autor deve saber a hora de parar um texto.
Gabriela matou diversas pessoas com patadas de camelo na cabeça, esmigalhou braços, pernas, castrou diversos homens, muitos paus castrados na patada. Mas era uma violência sexy, e... ei, o que é isso? TAUN! Pessoas, Gabriela está aqui, e acho que vou ter as mãos arrancadas por ter falado da buceta dela. TAUN! Ei! Calma, não sente na minha cara, é apenas literatura, de baixa qualidade, mas... HMMF... HMMMMF... Hmf... hmmmmm
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O autor na realidade, encheu o saco de escrever e espera, sinceramente, que vocês tenham enchido o saco de ler antes de chegar aqui, nesse ponto decadente. A vida não é fácil nem para heroínas e nem para quem não tem heroína para fugir da realidade.

Estatísticas

Já ganhei uma tranqueira em bingo, e na pedra maior.
Já ganhei um perfume numa rifa de 50 números.
Já ganhei ingressos pra shows.
Já ganhei um videogame em um sorteio de álbum de figurinhas.
Estatisticamente, ganhar uma bala perdida no Rio de Janeiro não está tão difícil assim, né?#Wishlist2017


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Sobre balé

Balé me lembra The Sims, quando dava bug e os personagens faziam uns movimentos errados... Balé é dança pra quem é meio bugado...
Sério, é cada braço esticado e depois o braço passa por cima da cabeça e a pessoa sai andando igual caranguejo. Não consigo compreender a beleza desses movimentos. Estilo os defeitos do Shrek sendo animado. Enfim.

Pequenas reclamações da minha vida.

Anjos e Demônios

Tem o anjinho que sopra seu rosto e você fica vesgo se você estiver zoando um vesgo...
E qual o nome da porra do demônio que ceifa teu cabelo se você zoar um careca cabeludo que tá tentando disfarçar a calvície penteando o cabelo pro lado?

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Sobre pessoas e panetones

Um mundo de gente, de indivíduos. Mas nesse mar de diferenças, uma receita básica: carne e secreções. Todos, todos... bolos de carne, água e secreções. Uns saem mais perfeitinhos, outros mais tortinhos, pendendo para um lado, mas enfim, panetones.
Cada um com sua uva passa, com suas frutas cristalizadas (talvez desde a infância): defeitos que sabemos que não combinam com aquele panetone, mas que estão ali, sem saber o porquê. Nenhum panetone é perfeito. A massa pode ser deliciosa; mas terá uva passa.
A consciência de ter essas frutinhas indesejadas é um primeiro passo para tornar-se chocotone: aceitar os defeitos, e aos poucos, tentar livrar-se deles.
É muita falta do que fazer ficar tentando criar analogias com panetones, mas hoje é um dia chuvoso, realmente não tenho nenhum compromisso. Além disso, acabo de comer chocotone. E nessa alegoria, gostaria muito de conseguir me tornar um chocotone, de chocolate amargo, porque eu sou ranzinza.
E assim eu aceito mais uma uva passa minha: a incapacidade de reconhecer um texto ruim quando ele surge na cabeça.
Acho que sou um panetone com muita uva passa e frutas cristalizadas, e algumas gotas de chocolate amargo 85%. Porque a vida não é doce, nunca é. Se você acha, você é o mongolóide que, enquanto todo mundo se fode, não entendeu nada.

sábado, 12 de novembro de 2016

Ode à 5ª série

- Pô, tô mó saudosista... Vontade de pegar várias paradas que fizeram parte da minha infância... tava mó afim de jogar uns jogos de videogames antigos...
- Tipo o que?
- Ah, jogo de super nintendo, mega... Alex kidd, Sonic, Mario...
- Ih... Me amarrava também!
- Inclusive a edição mais difícil do Mario eu já zerei...
- Qual Mario?
- Aquele que te comeu atrás do armário! Hahahaha
- ... Tá. Sério, tá falando de qual Mario?
- Daquele... Que te comeu atrás do armário! Hahahaha
- ... Idiota... Percebe que não é saudosismo de jogos, e sim da sua mentalidade 5ª série, né?
- Desculpa, tô num nível quase patológico mesmo...
- Mas já perdeu a graça, né?
- Ah cara, tô zoando... Mas não pergunte mais do Mario, porque meio que pede essa resposta... Mas eu quero relembrar esses jogos antigos mesmo... Tipo aquele de tiro, que tinha pra 64... 
- ...
- Que tinha filme... Do espião... É...
- Zero zero sete?
- Cê dá a bunda e depois paga boquete! Hahahaha!!
- ...
- Hahahaha!
- ... Você tem problemas...

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Da série "não aconteceu, mas poderia ter acontecido".

É o Tchan x Mamonas Assassinas

P.S.: Lembrete após escrever o texto: Fabiano Alzheimer, não releia. Contem música chiclete que se você ler vai se pegar cantarolando do nada nos lugares mais inoportunos.

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A história é triste. Muito triste.
Para quem passou pelos anos 90, deve lembrar de muita coisa legal, muita coisa bizarra também... Dentre elas - as coisas bizarras -, É o Tchan (sim, sim, Carla Perez, altas punhetas, antigo GeraSamba, etc., etc.). E aí, tá, música merda, tinha alguma graça, os adultos achavam legal (!!!) botar as crianças com shortinho ficar ralando na boquinha da garrafa... enfim. Anos 90. Mas uma coisa, uma música, deve ser salientada:
"Roda no dedinho (bambolê)
Vai no pescocinho (bambolê)
Passa no ombrinho (bambolê)
Cai pra cinturinha..."

Lembrou da infame música-chiclete do Bambolê, né? Sim, agora essa merda vai ficar no seu cérebro por algumas semanas... Mas enfim, logo após essa parte, vinha o que é intrigante. Desculpe, mas terei que fazer de novo... :

"Uma RRRRoda-diiii-nhaaaa
Uma quebRa-diiii-nhaaaa
Mexe a trasei-riiii-nhaaaa
Minha Pitchu-liii-nhaaaa"

A parte acima, cantada com um quê de "Vira-Vira", dos Mamonas Assassinas, e se a referências não ficasse clara musicalmente, ainda tem a menção a "Pitchulinha", da música "Pelados em Santos". Então, sim: tratava-se de uma "homenagem" aos Mamonas Assassinas.

Após tudo isso, quero deixar os pontos que me causam indignação:

1) O que, na porra do cérebro do pessoal do É o Tchan, a buceta do bambolê tem a ver com Mamonas Assassinas??? Por que depois de rodar no dedinho e cair pro ombrinho, pescocinho e cinturinha, a merda do bambolê passa a uma homenagem (???) aos Mamonas? Bambolê... Mamonas... Que ácido foi esse?

2) Por que, POR QUE, P O R  Q U E, eu me pego pensando nessas relações que a maior parte do mundo já tentou e conseguiu se esquecer? Por que eu sinto necessidade de trazer isso à tona? Isso deveria ser como casos de suicídio: é melhor não divulgar, para não incentivar (no caso, que as pessoas voltem a ouvir É o Tchan).

Seria eu além de meio aleatório, anti-ético?
Bom, boas 3 semanas de "É na pegada do bambo, do bambo bambo, do bambo, do bambolê" pra vocês...

E para que eu não releia esse pensamento e fique com a música grudada de novo quando eu esquecer sobre o que é o texto e abrir novamente, colocarei lá em cima um lembrete para mim.