quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

20 de junho de 2013

Rio de Janeiro, avenida Presidente Vargas. Uma passeata reúne quase um milhão de pessoas, que protestam contra o governo. No país, em diversas cidades, cidadãos inconformados com os políticos do Brasil vão às ruas para reclamar da situação política, pedir o fim da violência policial nos protestos, mostrar a insatisfação com a corrupção, o descontentamento com as promessas não cumpridas de um governo que se dizia de esquerda e que preocupa-se apenas em abrir as pernas para a FIFA, gastando bilhões com a Copa do Mundo e cortando verba da saúde e da educação. No Rio, a manifestação irá até a prefeitura, órgão responsável por muitos roubos, e que certamente lucrará tanto com obras no Maracanã, da copa de 2014, quanto com as Olimpíadas de 2016; e que esmaga cada vez mais os cariocas.
J. está no meio dessa multidão. Ele é relativamente jovem, e tem um propósito muito forte além de todos os citados acima. A questão dele é pessoal. Ele está decepcionado com a presidenta - como pode uma ex-guerrilheira não manifestar-se sobre os excessos policiais cometidos nas manifestações passadas? - e com todo o corpo político brasileiro. Ele quer mudanças estruturais, deseja que nem a Copa  nem as Olimpíadas sejam realizadas no Brasil, quer mais transparência para evitar roubos astronômicos na esfera pública. Mas não hoje.
Hoje, J. só deseja realizar uma vingança pessoal, e planejou por muito tempo para isso. Observou as câmeras presentes na avenida Presidente Vargas; o posicionamento de patrulhas policiais; separou uma máscara para cobrir o rosto. J. via a necessidade dos black blocks, mas sabia que não pertencia àquele grupo. No entanto, para cumprir sua missão, acabaria tendo que passar por um deles. E teria que sujar suas mãos, mas estava preparado para isso. A revolução não vem com flores e nem de terno e gravata; ela vem com violência e manchada.
J. aguardava pacientemente em uma rua paralela à avenida principal, onde desde as 18 horas já passava muita gente. Ele fumava um cigarro e bebericava um vinho vagabundo que já estava até quente, enquanto uma touca estava em sua cabeça. Quando deu 19 horas, resolveu que era hora de agir: jogou a guimba de cigarro no chão e pisou; respirou fundo e abaixou a touca, que revelava-se ser do tipo que chamam "ninja", com buracos nos olhos e na boca, e saiu. Voltou, pegou a guimba do chão e jogou na lixeira que encontrava-se perto dele, já que queria uma cidade mais limpa, e sujá-la era incoerente. Partiu para a avenida, com o rosto coberto.
O caminho para chegar à presidente vargas era exatamente a Marquês de Sapucaí, rua em que há o desfile das escolas de samba no carnaval carioca. Refletiu brevemente sobre isso enquanto caminhava: estava "fantasiado", na Marquês de Sapucaí, e as pessoas olhavam para ele enquanto ele avançava, decidido. Decidiu dar uns passinhos de samba enquanto andava, para diminuir a tensão de quem o olhava, e dele próprio: estava muito tenso, pois sabia que era arriscado o que faria. Alguns sorrisos brotaram ao ver o falso black block sambando; dava mais humanidade, identificavam-se mais ao personagem sem rosto. Parou de sambar e seguiu em frente.
Quando J. virou à direita, estava próximo ao ponto que desejava; colocou a mão dentro do casaco, e de um bolso interno retirou um pequeno saco com pólvora espremida. Pegou a bomba caseira com cuidado, pois não queria que estourasse antes da hora, pois só tinha duas, e precisava atingir o alvo. Passou horas desenrolando malvinas e depositando toda a pólvora em um saco, para depois dividir o enorme montante em dois, cada um o suficiente para causar um estrago bonito. O inimigo instalava-se aos poucos no Rio de Janeiro, e parecia que ninguém percebia, ou pouco se importavam com isso; mas J. sabia o mal que isso faria ao longo dos anos, com as pessoas acostumando-se àquilo. Não, ele tinha que acabar com aquela aberração!
Ao chegar na esquina que precisava chegar, percebeu que o local parecia um ponto de encontro, e precisou pensar rápido para esvaziar o lugar; seu polegar não parava de esfregar, por ansiedade, o saco de pólvora que estava em sua mão direita. Parou em frente à parede. Olhou para cima; a grandiosidade daquela merda era imensa! Era a hora!
J. gritou, gesticulando: "Sai todo mundo, porra!!! Vou matar esse terrorista!!!"
Os gritos repetidos três vezes por J. fizeram surgir um clarão em meio ao tumulto, e a parede que ele queria ficou vazia, limpa para sentir o seu ódio. Vendo-se sozinho no espaço, atirou a primeira bomba contra o mural multicolorido que o enchia de tristeza toda vez que passava por ali, de ônibus. A bomba estourou um bom pedaço da parede, fazendo voar pedaços de pedras coloridas por ali. J. estava com o rosto virado na hora da explosão, e sentiu o deslocamento de ar e o som (um grave maravilhoso, carregado de sentimentos para ele). Ao virar-se para o antigo mural, sentiu uma alegria invadir-lhe o peito quando percebeu que o desenho estava desfigurado; mas não estava satisfeito. O ódio não satisfaz-se com o aleijamento; ele quer a morte! J. pegou a segunda bomba e lançou na parte da direita do "quadro", que tinha permanecido intacto. Segundo estrondo. Um sorriso brotou do rosto de J., que no momento estava virado para o lado oposto, para proteger os olhos das pedras que voavam, estraçalhadas. Olhou para a parede: apenas resquícios do que fora um dia; agora sim, uma obra de arte! Ficou feliz e sentiu o coração acelerar de emoção. Algumas enzimas que eu não saberei dizer quais eram, estavam a toda, correndo pelo corpo de J., e surgiram mais algumas para a festa quando ele ouviu a sirene da polícia e viu uma viatura tentando, lentamente, chegar ao local, enquanto a multidão a atrapalhava.
J. saiu correndo de volta pela Marquês de Sapucaí. Sentia-se um destaque de escola de samba, todos olhavam para ele. Mas ele conhecia o poder da multidão: ele havia destacado-se antes, mas poderia voltar a ser apenas mais um. Gritou: "Gás! Não respira!!", enquanto corria. E óbvio, começou um tumulto de correria e as pessoas tapavam a boca e o nariz, mesmo sem ver ou sentir qualquer evidência de gás lacrimogêneo. J. tirou a touca do rosto, guardou no bolso. Continuou correndo, ele e mais outros milhares. Havia escapado, sem sombra de dúvidas.
No dia seguinte, ao acordar, pegou o jornal que seu pai havia comprado, na mesa. Abaixo da manchete, que falava da manifestação, uma foto da parede que destruíra na noite anterior anunciando uma notícia:
"Mural de Romero Britto destruído na manifestação por vândalos"
O sorriso parecia não caber no rosto de J., tamanha a felicidade. Respirou fundo e foi comer algo. A corrupção continuaria, a Copa e as Olimpíadas certamente ocorreriam... Mas sentia algo que poucos já sentiram: consciência de que tinha feito um bem à humanidade.

Ciclo da Timidez

Você entra em um círculo de amigos, tentando ser notado(a) o mínimo possível.
Algum amigo fala uma merda sua que você tenta fingir que não liga, mas sente vergonha.
Você começa a ficar levemente rosado(a) na bochecha, de vergonha, enquanto quer que desviem o assunto para outra pessoa.
As pessoas começam a falar APENAS de você, por você estar rosa.
Você começa a ficar vermelho(a) de vergonha, e quer sumir.
As pessoas falam mais ainda de você, pois agora está vermelho!
Você começa a ficar roxo(a) de vergonha, suando feito um(a) porco(a) e quer que o mundo acabe.
O mundo nunca acaba nessas horas.
Infelizmente.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Meu cu

Meu cu é estagiário:
só serve para fazer merda.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Marchinha de Carnaval

Eu estava na maior monotonia
Com minha namorada e meu cunhado chato
Na minha vida eu só quero putaria
Peguei o meu dinheiro e fui pra Quatro por Quatro

Que gente mais alegre
Aqui só tem curtição!
As putas são bonitas
E o boquete é muito bom!

Que gente mais alegre
Equipe fenomenal!
Com as gatas daqui como
Buceta e faço anal!

Olelê oi!

P.S.: fiz uma marchinha para a Luciana e depois parodiei minha própria marchinha...

Poesia crônica de Carnaval

Ônibus lotado. Uma fadinha ruiva, uma Mulher Maravilha (com pomo-de-adão), um Mario (aquele que fez você-sabe-o-quê-e-onde), e outras fantasias, todos gritando em coro e batendo no teto do busão: 
"Rema, rema, rema, remadô-or!
Vou botar no cu d..."
 Eis que surge o Vincent Vega confuso, carregando GIF na mão, e todos param de cantar, pois vêem que não há cobrador.
Uma menina com um humor duvidoso gritou, lá do fundo:
"Já que a gente já tá na pista..."
E a galera entendeu, e continuou batendo no teto e cantando:
"Vou botar no cu do motorista!
Se o motorista for viado..."
Nesse momento há um grito absurdo que faz silenciar depois de uns três segundos (até os retardatários perceberem que todos pararam de cantar), e olharam para a fonte do grito: um aparente mendigo, sentado, maltrapilho, com uma garrafa de plástico de vinho vagabundo na mão, olhava seriamente para a platéia que havia conseguido. Respirou fundo e com o olhar e a voz graves, falou:
"Bando de quizumbeiro do caralho, se vocês tão botando no cu de alguém, e o motorista for viado, por que vocês vão procurar a porra do delegado pra botar no cu? Pergunta se o motorista tá afim, buçanha frita! E para com essa merda de querer botar no cu de quem tá trabalhando... o motorista já tá sem cobrador, a empresa bota no cu dele todo dia, ônibus de merda pra ele dirigir, calor de suar saco e o cara de calça nesses ônibus sem ar condicionado... Ainda tem que agüentar um monte de gente batendo no ônibus e gritando que se ele for viado, vai botar no cu do delegado! Não fode! Vai todo mundo enfiar o remo no cu, cambada de escroto!"
E nesse momento as pessoas começaram a refletir. Uns chegaram à conclusão que o motorista podia ser viado, mas ativo, e não gostar de dar o cu, então botar no cu dele não seria certo; outros pensaram que é mesmo, se o motorista é viado, por que não botar no cu dele e todo mundo sai feliz, quem quer botar no cu do motorista e o motorista, que é viado; e teve quem pensou que o motorista poderia não ser viado, e aí sim faria sentido buscar o cu do delegado. Mas o negócio é que o silêncio foi instaurado naquele veículo, e as pessoas foram refletindo até descerem do ônibus. Alguns inclusive desistiram do carnaval depois disso.
E o mendigo ficou feliz que foi em silêncio para onde ia.