quinta-feira, 28 de abril de 2016

A vida em preto e branco

A luz que me ilumina enche o quarto de um branco assustador. As sombras formam-se gradualmente ao longe, mas não conseguem chegar perto e envolver-me.
Fui ensinado a temer a escuridão ao mesmo tempo em que desenvolvia um pensamento de acolher o que era rejeitado. A escuridão passou a ser um fetiche, uma busca insaciável do ato de apagar a luz.
Desenvolvi uma rejeição natural à iluminação, passei a planejar o momento de pressionar o interruptor; o difícil é parecer não ter motivo.
Gradualmente, os tons de cinza mais escuros prevalecem. Falta coragem de apagar a luz.
O negócio é fechar os olhos: ao me acostumar com o breu total, jogar uma pedra na lâmpada será tão natural quanto respirar.
Na ausência de luz, a parede mais branca é tão negra quanto petróleo.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Agradecimentos

Não tenho crenças em seres divinos. Sou uma pessoa extremamente negativa e pessimista, ao menos, eu acho. Mas o tempo vai passando, e a capacidade de observar coisas parece aumentar; você, ao ficar mais velho, parece ganhar um poder analítico sabe-se lá de onde.
E foi com essa mania de reflexão que me tomou de assalto agora, que estou beirando os 30 anos de idade, que percebi que há um poder na natureza, um poder muito forte, pelo qual devo agradecer, todos os dias de minha vida.
Não, não é a bondade humana, não acredito nisso; não, não é a "natureza", estamos matando a natureza. É o simples fato de existir mulher que gosta de piroca. Sejam quais forças naturais ou sobrenaturais existentes nessa porra, muito obrigado, porque acho que as mulheres podiam se fechar em grupos de amazonas, e os homens iam morrer desesperados na busca pela buceta, porque puta que pariu, buceta é bom demais!
BUCETA É BOM DEMAIS. Os lábios, a baba, por dentro, por fora, peluda, lisinha, o grelo... TUDO!
Era só esse meu manifesto. Ainda bem que algumas mulheres gostam de rola e aceitam fazer essa troca injusta prá caralho - realmente, prá caralho.
Obrigado.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Sobrinha Atenta

Fui de Topper para uma festa. Ok, me falaram que não era legal ir de Topper (sabe, aqueles tênis de futebol de salão, todo preto, com uma borracha branca rodeando todo ele na parte de baixo?) em uma festa, mas que se foda, não é legal ir em festa às vezes.
Estava de boa, comendo e bebendo, tudo normal. Minha sobrinha estava dançando; ela tem 5 anos e acha que sabe dançar "passinho" de funk, mas ela fica parecendo uma maluca dando estrela e botando a perna aleatoriamente esticada e dobrada em vários lugares, quase chutando tudo o que tem ao redor. Certamente essa porra cansa, e em dado momento, ela parou, toda suada, e sentou no sofá, a uns 10 metros de mim. Fiz um joinha pra ela, fingindo que ela estava arrasando dançando (ela é super vaidosa e liga muito pra essa merda), mas eu tava interessado mesmo era em salgadinho e bebida (porque tava calor pra caralho! Eu tava suando, e nem tinha dado "passinho"). Depois que eu fiz o joinha, devo ter dado uma bicada no copo, e quando olho pra ela de novo, tá ela olhando pra baixo da minha mesa. Olhei também, não vi nada. Ela estava olhando fixamente para baixo da minha mesa. Olhei de novo, nada. Olhei para ela, e ela, feito uma maluca, veio, meio abaixada, sem piscar, olhando para o mesmo ponto fixo, passando por todo mundo, obstinada. Chegou próximo a mim, esticou a mão e foi direto para o meu tênis.
Um detalhe que não contei: meu Topper estava rasgado, e meu dedinho saía para fora. Para evitar esse vexame, peguei fita isolante e mandei ver na parte preta, afinal, era da mesma cor, ninguém ia perceber, pensei eu. Giovanna tirou minhas 3 camadas de fita isolante, deixando uma ponta branca desabrochar (meu dedinho de meia) no solo fértil do meu Topper. Ela arrancou de uma vez.
- Giovanna! Tá maluca? Olha meu dedinho ali!
- Ih, titio, desculpa! Eu olhei e vi que tinha um negócio todo pendurado aí, achei que era pra tirar...
Nessas horas que eu percebo que, nem tudo o que a gente acha que passa batido, passa batido...

Pseudonarcolepsia

Gosto de sonhos loucos, acordo bem, tentando lembrar tudo e impressionado com a história que meu inconsciente criou, geralmente frustrado por ter acordado antes do desfecho da história. Enfim, curto mesmo!
Mas se tem uma coisa que eu tenho medo, é o que me aconteceu hoje; chamarei de psuedonarcolepsia.
Estava eu tirando um cochilo (programei o despertador para tocar uma hora após deitar), quando meu sonho veio em primeira pessoa, e era eu sendo esmagado por um ser com pelo preto, sentado em cima da minha cabeça, e eu só conseguia ver o lençol da cama onde eu dormi ( era o mesmo local, eu estava na mesma posição da cama, e enxergava apenas o que enxergaria se estivesse acordado, e sei disso pela distância entre onde minha cabeça estava e a parede, já que meu rosto encontrava-se prensado contra o colchão; e o pior, eu ouvia o ambiente ao redor, como se fosse o real) e um rabo, como se fosse de um gato, que agitava-se próximo à minha cara. Eu comecei a pensar, no sonho: "preciso acordar! Isso é um sonho!", mas a criatura sentava com mais força e afundava minha cabeça no colchão. Eu não conseguia me mexer, tentei olhar para a criatura, e não conseguia. Fiz força para acordar, e não consegui. E comecei a pensar que podia não ser sonho, era muito real para ser sonho. Comecei a sufocar, sem ar, e a pensar que eu dei mole em ter deixado a porta aberta, pois uns demônios entraram pra me matar. Comecei a ter certeza que era realidade, nenhum sonho replicava o ambiente em que se estava com tamanha perfeição... Aceitei a minha morte, visto que estava paralisado, e embora tentasse mexer os braços para atingir de alguma forma o ser que estava sentado em minha cabeça, mas não conseguia. Então acordei, e minha vista era exatamente igual à do sonho, com a diferença que consegui levantar a cabeça, desesperadamente.
Suava feito um porco. Mexi os braços, para provar pra mim mesmo que eu podia mexê-los; tudo OK.
Fui beber um guaraná natural... E por via das dúvidas, tranquei a porta.
Detesto esse tipo de sonho.

Fila de Banco

Chego no Banco do Brasil. São 15:31, diz a minha senha, e tenho que pagar a conta hoje - deixei para o último momento para ter um pouco de tensão. Ao passar pela porta giratória - milagrosamente sem parar -, percebo que há um porquê de ter passado direto, com celular no bolso, um molho de 37 chaves da casa do meu avô (que taca cadeado até em janela), e um pote de doce de leite (com tampa de metal!): os seguranças não estavam olhando pra mim, mas para uma leve confusão armada: dois senhores gritam e apontam nervosamente, enquanto um funcionário tenta acalmar, e os 3 seguranças ficam por perto - deixando de apertar o botão para barrar minha entrada. Cheguei perto dos exaltados - lógico - e comecei a botar pilha:
- É foda, o gerente desvia os funcionários para atividades mais lucrativas e deixa a gente mofando aqui...
Resmungos de aprovação ressoam ao meu redor. Senti-me vitorioso.
- Pior que por ser banco público, nem adianta reclamar, vai dar em nada... Mesmo com a lei dos 15 minutos pro atendimento...
Minha tentativa de mostrar o quão atados estamos, acabou resultando em explosão: um dos exaltados me mostra a senha dele, aos berros:
- Pois é!!! É lei!! É lei!!! Eu tô aqui desde duas e doze ( ele falou " doooouuuuze", para enfatizar), mais de uma hora!!! E é lei!!
Ele fez uma pausa, respirou, olhou pra mim, e mandou:
- Olha aqui, chama a porra do gerente que eu tô com um homem-bomba aqui!! Vou jogar o homem-bomba prá vocês se eu não for atendido!
Olhou pra min, abaixou a cabeça com um leve sorriso, triste até, e me deu tapinha no ombro, que dizia, sem palavra alguma, "desculpa te zoar, mas eu precisava aliviar". E eu ri; e o clima amenizou; e todos voltaram para a fila, conformados.
Cara, esse espírito HUE HUE BR não é algo da internet. É a única coisa que me faz pensar em identidade nacional, e, embora anti-nacionalista, me faz ter orgulho de ser brasileiro.
Sério.