Chego no Banco do Brasil. São 15:31, diz a minha senha, e tenho que
pagar a conta hoje - deixei para o último momento para ter um pouco de
tensão. Ao passar pela porta giratória - milagrosamente sem parar -, percebo que há um porquê de ter passado direto, com celular no bolso, um molho de 37 chaves da casa do meu avô (que taca cadeado até em janela), e um pote de doce de leite (com tampa de metal!): os seguranças não estavam olhando pra mim, mas para uma leve confusão armada: dois senhores gritam e apontam
nervosamente, enquanto um funcionário tenta acalmar, e os 3 seguranças
ficam por perto - deixando de apertar o botão para barrar minha entrada. Cheguei perto dos exaltados - lógico - e comecei a
botar pilha:
- É foda, o gerente desvia os funcionários para atividades mais lucrativas e deixa a gente mofando aqui...
Resmungos de aprovação ressoam ao meu redor. Senti-me vitorioso.
- Pior que por ser banco público, nem adianta reclamar, vai dar em nada... Mesmo com a lei dos 15 minutos pro atendimento...
Minha tentativa de mostrar o quão atados estamos, acabou resultando em explosão: um dos exaltados me mostra a senha dele, aos berros:
- Pois é!!! É lei!! É lei!!! Eu tô aqui desde duas e doze ( ele falou "
doooouuuuze", para enfatizar), mais de uma hora!!! E é lei!!
Ele fez uma pausa, respirou, olhou pra mim, e mandou:
- Olha aqui, chama a porra do gerente que eu tô com um homem-bomba
aqui!! Vou jogar o homem-bomba prá vocês se eu não for atendido!
Olhou pra min, abaixou a cabeça com um leve sorriso, triste até, e me
deu tapinha no ombro, que dizia, sem palavra alguma, "desculpa te zoar,
mas eu precisava aliviar". E eu ri; e o clima amenizou; e todos voltaram para a fila, conformados.
Cara, esse espírito
HUE HUE BR não é algo da internet. É a única coisa que me faz pensar em
identidade nacional, e, embora anti-nacionalista, me faz ter orgulho de
ser brasileiro.
Sério.
ROBOTS 5.2 : 1985-1989
Há 2 meses
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