quarta-feira, 27 de junho de 2018

Resultados da Copa do Mundo

Poucos resultados me interessam... Mas ano passado um resultado de jogo entre países mudou minha vida.

Peru x República Tcheca.

Campo molhado, Peru deslizou e entrou com bola e tudo.
Tô indo, porque o resultado mais lindo do mundo tá chorando aqui, tá na hora do papá...

sábado, 12 de maio de 2018

O celular do ladrão

Rio de Janeiro, Saara, sexta-feira anterior ao dia das mães.
Essa porra tá cheia, acabei me atrasando pra uma reunião. Ando rápido, quase correndo, para que o atraso seja menos sentido.
Passando pela rua dos Andradas, tenho a idéia: vou cortar caminho pelo largo de São Francisco, porque a Uruguaiana tá cheia de gente caminhando e travando a rua, procurando um presente para as mamães. Beleza, boa idéia a minha.
Caminho, com pressa, e no espaço escuro da praça, uma pessoa caminha ao meu lado. Menos mal, duas pessoas caminhando juntas podem afastar possíveis assaltos. O pensamento é esse, isso é Rio de Janeiro. Mas talvez esse meu pensamento tenha sido ingênuo demais. O rapaz ao meu lado puxou papo:
- Aê, playboy!
Ignorei, já que não me considero playboy e não sou obrigado a agüentar desconhecidos me chamando de playboy.
- Perdeu, playboy. Passa o celular, porra!
Puta que pariu. Foi uma falha de comunicação da minha parte. O cara não tava procurando refúgio de assalto; ele era o meio. E eu entendi a mensagem. Parei e virei para encará-lo.
- Pô, cara, faz isso não. Tô cheio de pressa e só tenho esse celular pra falar com os outros, pô.
Ele moveu uma mão na altura da cintura, por dentro da camisa. Não dava para ver nada, e ele podia estar tanto com uma arma de verdade quanto com uma daquelas galinhas de borracha que fazem um barulho engraçado, que eu não ia saber. Sou cego a noite, numa praça mal iluminada, então...
- Meu irmão, tá maluco? Quer morrer, porra???
Levantei instintivamente as mãos, me rendendo, e botei em seguida a mão esquerda no bolso para pegar o celular. Lá estava a carteira, e nem é importante, mas contarei assim mesmo. Eu costumo levar a carteira no bolso direito da bermuda (ou calça), e o celular no bolso esquerdo, mas a minha bermuda estava com o bolso esquerdo furado, um furo tão grande que se eu boto o celular lá, ele cai.
Após essa explicação esdrúxula, tateei o bolso esquerdo, vi que lá estava a carteira, e passei para o bolso direito, onde estava o celular. Entre a mão ir de um bolso a outro, lembrei do bolso furado e soltei um "ahh...", lembrando-me do bolso trocado do aparelho.
Ao pegar o celular, entreguei e fiquei no vácuo: o cara não pegou.
- Tomá no cu, mermão! Tá pensando que é malandro, seu filha da puta!
Não entendi. Nem a reação do ladrão e nem essa mania de a gente falar "filha da puta", mesmo pra homens, quando deveria ser "filho da puta". Não expus a minha última questã.
- Que foi, cara? Toma o celular!
Ele balançou ainda mais o braço que estava com algo na cintura, ameaçando.
- Eu quero o SEU celular!
Ele deu uma intensidade tão grande no "seu", que pareceu me chamar de ladrão, como se aquele aparelho não fosse o meu.
- Esse é o meu celular, cara!
Tomei um empurrão.
- Tá de sacanagem? Quer me dar o celular "do ladrão"???
Tela azul. Eu era o assaltado. Na minha mente, ele era o ladrão. O que seria o "celular do ladrão"? Seria o dele. O meu quando eu passasse para ele, seria dele. Tentei entender a piada.
Não consegui.
- Ué, o ladrão é você. Esse celular é meu. Depois vai ser seu. Do ladrão. Não é?
Ele agarrou meu pescoço. Era um pouco mais alto do que eu. Falou baixinho.
- Playboy, aqui tá tudo escuro, ninguém tá vendo nada. Um monte de parceiro meu aqui. Se você tentar fazer graça, vai ficar por aqui mesmo. E só vão te achar amanhã de manhã. Para de graça, enfia essa porra de celular do ladrão no teu cu e me passa o celular que você realmente usa.
CARALHO! O "celular do ladrão" é o aparelho zoadaço que o pessoal carrega só para, no caso de ser assaltado, não perder o oficial, entregando o outro. Um tipo de bode expiatório, mas sem fazer béeeee. Aliás, pode até fazer béeee, você pode personalizar o toque, né?
O cara achou que meu aquele telefone era zoado demais para ser meu. Não entendi o porquê. Insisti.
- Cara, esse é o meu celular, o que eu uso! Pode ver aqui, tem bom dia que eu recebi hoje, no whatsapp!
Tentei lembrar de quem me manda mensagem de bom dia. Meu pai, certamente, no grupo da família, mas a essa hora já devia estar cheio de papos nada a ver, e não queria expor. Abri o de um amigo, que sempre manda de zoeira. Os olhos do assaltante estavam vidrados no celular. Quando abri a conversa com o amigo, memes do Fabio Assunção dizendo que hoje era sexta-feira, fizeram o maluco cuspir minha tela, já fodida.
- Hahahaha. Poorra! Hoje é dia de pó legal, né? Caralho, tu usa essa porra mermo, mané! Hahahaha puta que pariu...
Ele distanciou-se um pouco, rindo. Voltou pra perto de mim.
- Guarda essa porra, guarda essa porra... Aí, playboy, vou te falar duas paradas...
Eu já estava meio rindo, aquele riso meio nervoso, mas rindo. Falei mais para quebrar o monólogo dele, pra fingir que estava interagindo.
- Coé, cara...
Ele continuou.
- Uma, que se eu tô com uma arma aqui, você morria...
E tirou finalmente a mão que estava sempre na cintura, e mostrou uma latinha de Antarctica de 269ml, toda amassada. Essa era a arma dele.
- E a outra... é que se eu tivesse metido uns celulares hoje, eu ia te dar um. Puta que pariu, tu é muito escroto andando com essa porra...
Ele se afastou definitivamente, rindo pra caralho, e eu segui meu caminho para a reunião.
Cheguei atrasado, mas contei o ocorrido e ninguém lembrou mais do atraso.
O Rio de Janeiro me surpreende a cada dia.



domingo, 1 de abril de 2018

Páscoa, renovação religiosa

Na sexta-feira santa eu comi carne .
Fiz piada com a morte de Jesus, falei da costela de cordeiro amaciada com chicotadas...
Mas para Deus nunca é tarde para o arrependimento.
Dois dias depois, acordo. Olho para o lado e vejo meu filho, e sinto a necessidade de não crer em minha descrença.
A Páscoa hoje é motivo de ressurreição.
A fé que eu tinha quando garoto, puro aos olhos Dele, estava morta.
Hoje ela renasce.
E mais forte do que nunca...
Você pode até achar isso estranho, mas uma data pode modificar o pensamento das pessoas.
Pode mudar completamente discursos...
Aconteceu hoje.
Eu adoro o 1º de abril!
666 abraços procês ;*

 PS: Postado originalmente no dia 1º de abril de 2018, domingo de páscoa.

quinta-feira, 8 de março de 2018

A carona

O carioca é foda.
Eu tô no onibus, perto da porta dos fundos.
Um maluco entrou aqui por trás, camisa branca de botão e calça azul.
Eu, o motorista e você pensamos: ou é motorista ou cobrador.
Beleza.
O tempo passa, o tempo voa, e o maluco continua do meu lado, perto da porta de saída.
Aí, chegando no campinho, alguém falou "BRT". Por algum motivo, minha mente fez eu olhar pro cordão do crachá (certamente um crachá de motorista - pensei) pendurado no pescoço do cara.
Olhei e li: Panco. Com uma carinha sorridente desenhada ao lado e tudo.
Cordão azul, Panco e o rostinho em branco.
Olhei pra cara dele, olhei pro cordão de novo.
Realmente. Panco.
O cara desceu no campinho mesmo. O motorista abriu a porta no sinal, fora do ponto, camaradagem entre os da mesma profissão, pois deixa mais próximo do BRT, só atravessar a rua.
Mas ele não atravessou a rua.
Ali onde ele desceu, no sinal, tem um Prezunic. Ele entrou no Prezunic.
Rio de Janeiro, onde representante de marca de pão dá calote no busão se aproveitando da semelhança de seu uniforme com as roupas de motorista / cobrador.
Definitivamente, isso aqui não é para amadores.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Chatsex_023


[Firestarter] oi, quer tc?
Era adolescente nos anos 2000. Internet discada, família pobre.
Sempre a mesma rotina de merda. De dia, vivia enfurnado em casa, solitário; se saía para comprar algo, evitava contato humano. Lia, escrevia, comia, olhava para a parede. Comia, batia uma punheta, lia, olhava para a parede. O relógio: onze e meia. Ligava o computador. Paciência. Perdia. Paciência. Ganhava. Campo minado. Não sabia jogar. Pasta com fotos e montagens pornográficas de mulheres famosas. Onze e cinquenta e nove. Começava a tentar conectar.
Meia-noite. Buscava avidamente contato humano digital. Não de dedo; digital, zeros e uns, essas merdas. “vc quer tc?” Previsível, baixo, sedento. Essa foi minha vida durante um tempo. No mIRC, no ICQ, e até no chat da AOL. No chat de sexo da AOL. E foi na Chatsex_023 que eu me fodi, de um jeito que não tem nada a ver com sexo.
[Firestarter] alguém do RJ?
Paty_gostoXXXinha entrou na sala
[Firestarter] e ae @Paty_gostoXXXinha
Incrível como é fácil iludir homens na internet. Bote qualquer nick que remeta a sexo e certamente vão chover conversas. Se hoje em dia homem velho cai nessas, imagine um adolescente na virada do século. Internet discada, falta de conhecimento, hormônios à flor da pele, capacidade de raciocinar prejudicada pela janela de vídeo pornô dividindo a tela com o chat. Caí fácil.
[Paty_gostoXXXinha] Oiiii @Firestarter ! pvt me!
Pvt me era chamar pra private, conversar sozinhos. Era o objetivo.
Pouparei vocês dos detalhes da conversa, mas era muito baixo. Imagina um jovem punheteiro que está conversando com alguém que se diz garota e gostosa, influenciado pelo vídeo do CumFiesta.com na mesma tela quadrada de computador. Esse era o nível de pensamento, que gerava a conversa vergonhosa. Eu escrevia as mais variadas palavras (dia bonito, praia, bolo, chuva, árvore), mas semanticamente falando, tudo poderia ser traduzido por “quero fuder sua buceta”.
Uma pausa para explicar: sempre soube escrever “foder” e “boceta”, mas certas palavras parecem que são mais bonitas quando lidas na forma oral (com todos os trocadilhos que possam imaginar sobre preferir oral de buceta). Escrever (e ler) “quero foder sua boceta” soa como uma tradução mal feita, aquelas dublagens no estilo Fucker and Sucker. Um pensamento com tesão gera a oralidade essencial.
Volto ao pvt, onde Paty e eu trocamos frases quentes. Investi pesado. Talvez porque o vídeo que estava vendo estava me empolgando; talvez pelo XXX do nick dela remeter a pornô; talvez pela junção dos fatos. Não sei responder. Só sei que enviei fotos minhas e recebi fotos dela.
As fotos não eram digitais ainda. Eu escaneava algumas fotos em que eu saía mais bonitinho.
Colocava a foto no scanner. Selecionava 300 dpi (porque não sabia ainda que para internet apenas 92 estava de bom tamanho). Cortava as fotos no Corel e exportava o jpeg. Não tinha Photoshop e eventualmente acabava tendo que fazer alguma coisa no PaintBrush. Dava trabalho, mas eu acreditava que era preciso ter uma foto sua para um encontro marcado virtualmente. Não era.
As fotos que recebi dela eram estranhas. Muito gostosa, sim, mas o rosto e o corpo pareciam brigar um pouco... como as fotos da Sandy e da Britney Spears peladas que eu tinha no computador. Pelo visto, Paty não se dava ao trabalho de escanear suas fotos e cortar em programas não tão adequados.
Mas na época... Falta de conhecimento; hormônios; CumFiesta.com. Passei a entrar sempre na Chatsex_023 da AOL, esperando a Paty entrar. Era ela aparecer e eu começava a siririca no teclado, deslizando meus dedos avidamente para falar de prazer. Meu pau ficava duro. Na minha opinião, eu era um grande escritor. Meu pau ficava tão duro ao imaginar e escrever as putarias quanto ao ver vídeos pornôs. Um escritor sólido feito uma rocha. Gosto de frisar sobre a insipiência, hormônios, pornografia gratuita. Modéstia a parte, tenho certeza que o alter ego da Paty ficava de pau duro também.
Ah, sim. A Paty não existia. Era um homem. Adiantei a história e cortei uns parágrafos. Sorte a de vocês. Enfim, pior do que essa cuspida de mudança na história foi o jeito como descobri isso. Marquei um encontro em um shopping.
Eu detestava shoppings. Detesto. Hoje, talvez, pelo trauma do ocorrido. Na época porque achava tedioso ficar andando em um lugar onde tinha tudo para comprar: livros, CDs, DVDs, comida; mas eu não tinha nenhum dinheiro. Mas buceta, de graça, eu queria. Marquei na porra do shopping.
Vocês devem imaginar que o rostinho lindo da foto que eu tinha como Paty, com aquele corpo escultural, nunca foi visto andando naquele lugar. Acho até bom isso. A cabeça era branca demais se comparada com o corpo bronzeado, não era algo tão harmonioso. Mas era um rosto bonito em um corpo feminino nu. Sério, parece ridículo (e é, na verdade), mas foi muito fácil me enganar.
Eu estava comprando uma esfiha no Habib's, pois era o que eu podia comprar com R$ 0,29, quando um careca chegou atrás de mim e me deu um esbarrão. Continuei aguardando minha esfiha, ignorando o transeunte distraído. Nem sabia que ele era careca. Ele me cutucou.
 - Tô na fila.
- Vem comigo, porra.
Eu não entendi, nem fiz questão. Já tinha pago a esfiha, eu queria comer.
- Eu mandei vir comigo, caralho!
Um cara que eu não conheço me dando ordens? Olhei pra ele. Notei nesse momento que ele era careca. Olhei para meu cupom fiscal. Olhei pro atendente estranhamente feliz que me dava boa tarde. Entreguei o cupom a ele.
- Uma de queijo.
Olhei para o careca, que suava, olhava para o relógio, olhava para os lados, olhava para mim e voltava a olhar para o relógio. Estranho. Peguei minha esfiha de queijo com quatro guardanapos. Sempre vazava um líquido daquela merda que cagava minhas roupas. Peguei mais dois guardanapos, por segurança. Meu braço quase foi arrancado pelo puxão que o careca me deu. A esfiha sambou na minha mão, e antes de perguntar o porquê de ele estar me puxando, comi metade daquela rodela. Meu dedo anelar e o mindinho já estavam engordurados.
Deixei o careca me conduzir porque estava com a boca cheia. Chegando quase à saída do shopping, já engolida a esfiha, dei um tranco pra trás com o braço.
- Quem é você, cara? Tá me levando pra onde?
O homem só deslocou uma parte do seu terno, mostrando uma pistola. Falou, sem pronunciar som algum, mas abrindo exageradamente a boca e pausadamente, como fazemos quando queremos fofocar sem som, apenas uma palavra: Paty. E assim me convenceu a segui-lo.
Na hora eu só pensava em uma coisa: essa esfiha já foi mais recheada. Realmente, que miséria de queijo estavam colocando agora. Mas lutava internamente para explicar a mim mesmo o que estava acontecendo. A Paty tinha marido e ele descobriu que marcamos? O pai dela não era muito entusiasta desses encontros de internet? Tinham mais opções, mas no momento, o fato de ter pago trinta centavos em uma esfiha quase sem recheio estava me ocupando demais, e não consegui desvendar o mistério.
Hoje penso que poderia ter saído correndo, no shopping, e ver a merda que ia dar com um maluco atirando aleatoriamente no meio da praça de alimentação. Mas a minha falta de reação por conta da maldita esfiha me fodeu. Fodeu com “o”, porque não é um fuder, com tesão; prezo muito essa diferença. Mas conformado com a merda que tinha dado, e travado por saber que o cara tinha uma arma, deixei-me levar até um carro, para onde fui empurrado brutalmente e tive a certeza de que não sairia daquele encontro vivo.
No banco de trás do carro fui abraçado (o termo técnico, acredito que seja “levei um mata-leão”, mas nunca fui bom de artes marciais) por um homem forte. Estava tudo muito escuro, então só posso descrever o que senti, porque não via nada. O careca foi na frente, no carona, apontando a arma para mim.
- Olha aí o garanhão que quer fuder a Paty! - o careca gritou.
Todos riram, e por um momento torci para ser uma pegadinha do Gugu, do Sérgio Mallandro, o que fosse. Tentei até lembrar da fisionomia do careca, para me forçar a acreditar que poderia ser o Ivo Holanda disfarçado, e eu ia meter a porrada em todo mundo no carro, sair puto e xingando, e ouviria “que isso, amigo! É pegadinha, olh'ali, oh!”, e avisaria a todos os meus amigos e família que eu passaria no SBT, e ia pedir para alguém gravar na fita, ia rir pra caralho. Mas as risadas dentro do carro duraram pouco, e logo eu tomei um soco no estômago.
- Seu punheteiro, safado! Tu acha que alguma mulher vai querer dar pra você, babaca? - o cara que me enforcava gritou isso no meu ouvido.
Além de estar preso a ele, eu sentia seu hálito de pizza. Filho da puta. Tinha comido melhor do que eu e me deu um soco que quase fez voltar minha mirrada esfiha. O mundo definitivamente não era justo, eu pensava. Para piorar, o careca começou a zombar do que eu escrevia.
- tô louco pra beber yakult direto da fonte! como é que tá a produção de lactobacilos vivos da sua caverninha? hehe”. Temos um Don Juan piadista aqui, vejam vocês. Olha o papo que o cara usa.
Mais risadas. E eu ainda sem saber que Paty não existia, o que me fazia perder tempo pensando em qual seria o relacionamento do careca com ela.
- Tem mais do nosso Bukowsky aqui: “meu pau tá latejando aqui, cansado da minha mão direita. E minha mão esquerda não é opção... ehehhe sacou?”
Mais risadas. Sei que você deve estar agora torcendo pelos caras. Mas tenham empatia: , ignorância, adolescência, internet... Eu confesso que escrevia essas diretonas, mas no meio tinha muita coisa erótica sem ser tão escroto assim. Eu acho. Mas o careca só pegou os piores trechos. Ele devia estar puto porque ficou de pau duro quando eu escrevia de lamber grelo pressionando levemente com a língua, em movimentos circulares e horizontais; deslizar a mão pelas coxas dela até enfiar o dedo na buceta e puxar a baba lá de dentro, pra cair de boca até me lambuzar todo e espalhar com a língua os fluidos até a portinha do cu, essas coisas.
Tá, você pode falar que não é excitante do modo como escrevo, mas agora nem estou empenhado nisso; naquela época era só o que eu fazia, e eu tentava melhorar as inspirações dos vídeos que eu via. Porque a pornografia, ao menos até os anos 2000, era quase 100% pensada para homens: oito minutos de punheta com boquete, oito minutos de foda vaginal, quatro minutos de foda anal e uma gozada na cara / na boca / nos peitos da atriz. Raramente via-se o homem tentando dar prazer para a mulher através de sexo oral ou dedadas estrategicamente localizadas. Era muito mecânico, frio até, apenas voltado ao prazer masculino. Por sorte minha cabeça criava filmes alternativos com as atrizes. Mas como eu disse, o foco nem é esse.
- Você gosta de putaria, né? Vai conhecer os limites com a gente, carinha.
O carro parou. Eu nem estava prestando atenção no trajeto, só pensava na pizza do cara que soltava o bafo no meu nariz, na minha esfiha e no cecê que lutava com o hálito de pizza dele. Tava foda. Abriram a porta e estava em um galpão. Acho que um hangar, pois havia dois aviões de pequeno porte. Algumas jaulas davam um tom sinistro ao ambiente, e forçando a vista percebi que atrás das grades estavam homens e mulheres, todos nus.
- Morrer virgem você não vai... Aliás, virgindade será uma palavra abolida de qualquer parte do seu corpo...
E não é que o careca manjava dumas frases de efeito sobre putaria?
- Aqui você vai trepar com mulheres, às vezes mais de uma ao mesmo tempo...
Enquanto o careca falava e eu ficava animado, ia tentando ver as mulheres nas jaulas, ver quais eram mais gatas. Mas eu não tinha ouvido tudo. Ele continuava a falar.
- mas também trepará com homens, com máquinas, sofrerá e causará algumas mutilações. Tudo isso será gravado e alimentará nosso site SeXXXtremeFuck.com.
Meus olhos abriram-se como os de um lêmuri selvagem. Transar com homens? Mutilação? Minha mente queria parar no “mais de uma ao mesmo tempo”, mas a parte sempre alerta obrigava-me a receber o resto da mensagem.
- Aqui você vai descobrir todo o prazer que você perde por puro molde social; perder a inibição de gozar a bissexualidade; libertar-se do medo do masoquismo e aproveitar as delícias do sadismo. Tudo isso, inteiramente de graça!
SeXXXtremeFuck.com. De graça meu cu, literalmente. Sempre tentei baixar vídeos deles, só dava pra ver teasers de trinta segundos. Só bizarrice. Nunca consegui ver os vídeos inteiros. Kazaa, Soulseek, tentei vários programas. Para ver, só com cartão de crédito, a bagatela de US$ 9,99 por mês. Que merda.
E a cada mulher que eu comia, a cada piroca que me estourava o rabo, cada apertão nas bolas que eu recebia, eu só pensava que não tinha prazer naquilo. Até o sexo com duas mulheres era torturante, porque não era com vontade; a maquiagem, os cortes para mudar os takes, as pausas para broncas na atuação. Tudo falso. As mulheres não queriam trepar comigo, eram obrigadas, e isso me tirava o tesão. E a cada vez que eu brochava, os sacanas me tiravam do que, há uns meses antes, seria o paraíso pra mim.
- Não quer duas mulheres esfregando a buceta em você? Isso não te excita, poetinha (esse era o meu apelido...)? Então corta que eu já sei...
E me colocavam pra ser fodido por um ou dois homens. Eu sentia meu cu tornar-se uma couve-flor, virar do avesso, mas se eu reclamasse ou parasse a cena, cortavam e mudavam o tipo de vídeo, sempre indo numa escala em direção ao que eu menos gostava: me passavam para ser a estrela de um gangbang masoquista, onde eu era esporrado enquanto alguém me cortava com giletes ou socava minha cara.
Óbvio que eu optava por fuder o máximo que podia as mulheres enjauladas comigo. Mas a empatia, cara... Na verdade, acho que era o oposto de empatia, só estou tentando me passar como bonzinho. Realmente, eu fuderia até acabar com aquelas mulheres, com um pouco de raiva. Não raiva das mulheres, mas a raiva que surge do medo; eu não queria era ser colocado no mesmo lugar que elas. Mas a cabeça é uma merda. Quando eu percebia, estava eu pensando que essas mulheres não queriam fuder comigo tanto quanto eu não queria ser fodido pelos caras – percebe a diferença entre fuder e foder? E começava meu esforço para concentrar e seguir fazendo aquelas mulheres sofrer, para que eu não fosse obrigado a botar para jogo aquele meu buraco onde só o dedinho da mamãe havia estado, e só pra passar Hipoglós... Aí pensava na mãe das garotas que também passavam Hipoglós nelas... Não era empatia porra nenhuma, apenas não há meios de segurar uma ereção se o seu cérebro está pensando em bundinha de bebê com pomada. E lá ia eu sofrer.
Até que passei a estragar todas as cenas, gritava que aquilo era um crime. E foram me passando para cenas cada vez mais extremas. Minha última cena não envolvia picas, mas me empurravam na parte mais dianteira da hélice, sem ser as pás, que estavam rodando. Enquanto a parte pontiaguda entrava na bundinha que mamãe passou talquinho, as hélices cortavam minhas pernas fora. E depois disso, gravaram, por diversão, meus braços sendo cortados pela mesma hélice e me liberaram.
Lembro de ter pensado que saí de um jeito muito bom, pois a outra possibilidade seria algum amigo meu doente que tivesse pago pelos vídeos ter me visto em um deles. Daí ele teria que alertar a polícia, minha família, e seria realmente vergonhoso. Mas eu poderia ter meus membros ainda.
Hoje, inventei uma história completamente diferente para estar desse jeito, sem braços ou pernas. Falei que foi sequestro e que resolveram me deixar assim quando descobriram que eu era pobre. No Rio de Janeiro é uma história bem viável. E escrevo essa história em um tablet, onde bato com a cabeça do meu pau em cada tecla, em um esforço absurdo para não errar. Mentira. Uso um canudo em minha boca e vou, tecla a tecla, escrevendo.
Essa minha história é bem maior. Poderia ter muito mais páginas. Mas falta-me paciência para escrever com a boca. Além do mais, falta-me tempo, pois boa parte dele passo pensando: será que o CumFiesta.com era tão cruel com as atrizes quanto o SeXXXtremeFuck.com foi comigo?
Embora meu pau, meu único membro que sobrou, consiga ter ereções normais, não consigo mais entrar em nenhum site pornográfico.
A empatia. Essa maldita empatia.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Coerências do machão

Pessoal acha que tudo que é LGBT é polêmico, não pode beijar na frente das crianças, blablabla...
Aí o cara é hétero, machão, vai votar no Bolsonaro e o caralho, faz propaganda contra novela que mostra beijo gay às 11 da noite, etc. Mas na hora que ele está entre amigos, ou as brincadeiras que ele ensina pro filho "sacanear uzamiguinhos" é:
- Chegar pro amigo e falar
"fala com meu pau na boca!"
"..."
"Iaaaaahhh! Engasgou"
ou
"eu não tô com..."
"Ahhhhhn... aprendeeeeu!"

- Gritar o amigo de longe, levantar os dedos indicadores e fazer um coraçãozinho no ar - que termina apontando para o próprio pau - e falar "iaaaaahhhhh! Vesgou!!!";
- Passar a mão na bunda do amigo ou fazer ele encostar no seu pau "de brincadeira";
- Usar rimas altamente homoeróticas pra zoar, tipo:
1) Zoeirão: - tava tentando lembrar aqui, aquele professor do tio Patinhas...
Zoado: - Prof Pardal!
Zoeirão: teu cu no meu pau! kkkkk;
2) Zoeirão: - Pô, meu pai me deu aquele dominó lá, mas não é de plástico... é de... de... aquilo que tem no corpo...
Zoado: - De osso!
Zoeirão: - Teu cu largo no meu pau grosso! Kkkkk
E a lista não acaba nunca, você sabe...
Aí o cara faz tudo isso, mas fala que beijo gay é desrespeito...
Deixa as pessoas e vai procurar coerência na vida, carai...

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Efeito Borboleta

I - SHOW COM AS BANDAS NIRVANA, SILVERCHAIR, SYSTEM OF A DOWN, SLIPKNOT, KORN E MUITO MAIS!

Assim dizia o flyer do show de rock, com alguns nomes pequenos entre parênteses, que indicavam tratar-se de bandas cover. Daniela não conhecia muitas bandas, mas achava interessante o visual dos roqueiros. Aos 17 anos, precisava encaixar-se em uma tribo, e sabia que queria ir nesse show.
- Vai ter Nirvana!
Letícia, sua melhor amiga, desconfiou:
- Você nem conhece Nirvana, garota... Mas aposto que o Marcelo vai, né...
Daniela estava experimentando uma saia de renda preta que comprou especialmente para a ocasião: um tecido preto, mole e confortável, revestido por um filó, igualmente preto, esvoaçante, que lhe passava a sensação de ser uma bruxa. Pensava na sensualidade e no poder das feiticeiras, e estava completamente absorta olhando-se no espelho; tanto que nem respondeu ao comentário maldoso da amiga.
- Vou pra esse show poderosa!

II - Rock com vinho vagabundo

Adolescentes bêbados, garotos suados batendo cabeça e covers dignos de pena no palco. Não era tão bacana quanto Daniela imaginava, mas a noite ainda podia ser salva: Marcelo estava lá. Sempre com a mesma camisa do Motörhead, o garoto conversava com amigos, segurando uma lata de cerveja na mão - um símbolo de maturidade, já que aos 19 anos não pega bem ficar só bebendo vinho vagabundo.
Daniela ficou disfarçadamente observando o garoto, esperando o momento certo para se aproximar. Teve que dispensar diversos jovens (meninos e meninas), meio bêbados (ou fingindo-se de), que chegavam querendo ficar com ela. Não podia ser vista pelo crush beijando outra pessoa, ou ficaria tudo mais difícil para concretizar seu plano.
A garota circulava em uma pequena área, chutava o ar, os olhos sempre em Marcelo,; bebericava o copo de vinho, os olhos em Marcelo, e ele sempre no meio dos amigos. Quando poderia aproximar-se e encenar um esbarrão ocasional, dizer "e aí, veio curtir o show?" Já tinha pensado nas falas, em todas as possibilidade de respostas que ele daria, e em suas tréplicas para prendê-lo na conversa. Em sua cabeça rolava um papo hipotético desses quando olhou e percebeu que o garoto estava sozinho. Havia começado a banda que faria cover de Slipknot, essa era sua chance.
Subiu um pouco a saia para o umbigo e dobrou-a para baixo, para ficar um pouco mais curta; virou o copo de vinho que estava inteiro, quente, em sua mão há mais de uma hora; passou as mãos no cabelo, endireitando-o, e saiu em direção a Marcelo.
Chegando perto, desistiu de esbarrar, e preferiu uma abordagem mais comum, embora o álcool marcasse presença no arrastar da fala de Daniela.
- E aí, Marcelo! Você por aqui?
O garoto parou o gole na cerveja e virou-se para ver quem falava com ele.
- Fala... Daniela, né? É... vim mais pra falar com o pessoal, nem gosto dessas bandas aí não.
Os beijos trocados traziam bons sentimentos a Daniela, de olhos fechados e sob o efeito do vinho em pessoas que não costumam beber.
- É... É... eu vim pra... pra ver os shows...
Daniela balançava a cabeça, em negativa; tanto treino para isso?
-... pra ver... você...
Ela riu, corou instantaneamente e olhou para os lados, desviando o olhar de Marcelo. Ele riu e mandou a cerveja pra dentro, inspirando e inflando o peito.
- Dani, eu já tava de saída. Não curto esses new metal e a galera foi toda ver esse cover oficial, com máscaras dos caras e tal...
Os olhos de Marcelo percorriam o corpo de Daniela, e a garota sorria, voltando a encará-lo.
- ... se você não for ficar pra assistir, a gente podia dar uma volta, conversar, sei lá.
- Claro! Nem gosto de Slipknot mesmo... Podemos conversar sim!
Marcelo insinuou o caminho para fora do ambiente, e ao cruzar o portão, colocou o braço sobre os ombros de Daniela.

III - Alívio romântico

A lua cheia brilhava como um refletor. Daniela e Marcelo comiam uma batata frita na praça em frente ao show. Marcelo ofereceu também uma cerveja a Daniela.
- Não, não... já tô meio assim só com o vinho...
- Ah, mas também, beber essas sangrias nesse calor... Olha só como você está suando!
Marcelo passou a mão no rosto de Daniela, limpando uma gota de suor da garota. Depois desceu a mão para a barriga à mostra dela, mas ela rapidamente tirou sua mão de lá.
- Calma... só ia mostrar que a barriga também tá suada...
O rapaz sorriu para Daniela, que desviou o olhar para o chão e franziu um pouco a testa.
- Bom, se você quiser, posso te dar uma carona pra casa. É perto, mas pelo menos dá pra ficar uns cinco minutos no ar condicionado do carro...
- É... acho que já estou cansada por hoje mesmo. E cinco minutos de ar condicionado, acho que vale a pena.
A menina voltou a sorrir, olhou para Marcelo, que estava sorrindo, e levantou, limpando as mãos sujas de gordura da batata na saia.
- Vamos?
Marcelo sorriu e levantou-se, pegando a chave do carro.

IV - Poderia ser uma história de amor, mas um babaca estragou tudo

O carro de Marcelo estava a duas quadras da casa de Daniela, quando ele encostou em um ponto escuro da rua. Com as luzes todas apagadas, Marcelo passou os dedos suavemente no rosto de Daniela, que cruzou os braços e colocou a bolsa em cima das pernas, sem perceber o que fazia.
- ... Marcelo... Minha casa é mais na frente...
- Eu sei, mas você pode fingir que ainda está no show, né?
Os dedos do garoto desciam pelo pescoço de Daniela, que apertou ainda mais a bolsa contra seu colo. O braço direito da menina conseguiu libertar-se do movimento instintivo e barrou o movimento descendente da mão de Marcelo.
- Eu podia, mas a gente pode se ver outro dia...
- Você falou que foi para me ver... Foi de saia... Saiu do show pra conversar comigo... Quis pegar um ar condicionado no meu carro... Qual é... Vai dizer que não tá querendo?
A mão do garoto forçou para continuar o movimento, e era muito mais forte do que o braço de Daniela conseguia resistir. Ela usou então as duas mãos para afastar a mão dele de seu corpo. Franzindo a testa, o garoto recuou.
- Marcelo... Eu tava querendo te conhecer. A gente se conheceu, conversou na praça... eu só quero ir pra casa e depois a gente marca outro dia.
Clanc!
Marcelo ativou as travas e as portas se fecharam. Abriu um sorriso e com as duas mãos em forma de gancho avançou lentamente em direção ao torso de Daniela.
- Ah, não... Me provocou, vai me dar pelo menos uma provinha...

V - O Efeito Borboleta

Teve início uma pequena luta corporal, e um dos lados viu-se surpreendido pela violência de quem não se espera. Um entra e sai frenético começava, fazendo com que gemidos de dor abafados morressem dentro do carro. O ambiente agora começava a aquecer, mesmo com o ar condicionado ligado; uma respiração ofegante ressoava como um pedido de clemência, friamente negado. Seguiram-se várias estocadas; estocadas curtas e rápidas no início, e quanto menos havia resistência, tornavam-se mais profundas e lentas, incluindo penetrações com giros e outras firulas internas. Em poucos segundos, fluidos corporais já melavam as roupas e os corpos dos dois.
As estocadas cessaram.
Daniela empurrou Marcelo de volta para o banco do motorista. Ela procurou o botão para destravar as portas, e apertou. Abriu a porta e, antes de sair, deu uma cuspida no rosto de Marcelo, cujo corpo jazia, tombado com a cabeça no vidro.
Ela limpou o sangue de sua faca borboleta, guardou-a na bolsa e seguiu a pé para casa, assobiando "Girls just wanna have fun". 

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Hit Combo

Referente ao dia 5 de janeiro de 2018, um dia que ficará marcado em minha vida.

Qual o maior "Hit Combo" que você lembra?
Pensou em Street Fighter? Tekken? The King Of Fighters? Marvel vs Capcom?
"Fabiano, eu um dia apelei com aquela velhinha no flipper e dei 52 hit combo!"
Esquece.
É sobre bebês mas começa parecendo Mr Catra.
3:30 da madrugada, "hora da mamada".
E você sabe, não se nega uma "mamada" a ning... Digo, a um neném.
Beleza, a mãe dá o mamá, e pra ser justo, eu boto pra arrotar.
Já são 3:55, já arrotou, já ficou o tempinho pra fazer uma digestão... Mas na hora de botar na caminha, hmmm... Esse pesinho, esse cheirinho... Tá cagado. Vou trocar, tranqüilo.
Tirei a fralda, passei o lencinho umedecido, e é aí que começa o MAIOR HIT COMBO da história (e com tentativas de defesa inúteis):
Edgar começa a mijar, tento botar o lenço para bloquear, ele mija no trocador, começa a cagar no trocador, golfa, caga no meu dedo quando eu já tava passando a pomada, mete a mão na merda (nesse ponto acordei a mãe, minha dupla contra esse apelão), mija no trocador de novo e na própria roupa, caga na fralda nova ainda aberta, golfa de novo, caga no trocador de novo, encosta as costas na merda.
Acho que foi isso. E tudo numa serenidade incrível, enquanto eu estava em total desespero. Foi um Perfect; Flawless Victory.
É, essa foi a madrugada de hoje. Edgar veio com tudo.
E agora ele fica me olhando de rabo de olho, com um meio sorriso de vez em quando, como se me desafiasse "consegue sozinho ou vai chamar a mamãe?".
Tô já me preparando pra hoje como nunca me preparei pra flipper nenhum...