Foi em uma sexta-feira.
Acordei inspirado: estava apaixonado (It's friday, I'm in love!)! Mas
sabe, quando a pessoa tá tão boba de amor que fica realmente
idiota? Pois é. Pra completar a merda, olhei minha carteira: tava
com dinheiro. Puta que pariu, fodeu! Podia ter acordado cheio de amor
assim no final do mês, mas não... tava com dinheiro. Apaixonado e
com dinheiro, coisa boa não acontece.
Pois é. Saí de casa,
passei em frente a um estúdio de tatuagens. Entrei.
- Aí, quero fazer uma
tattoo (falei assim mesmo, “uma tatu”... mó mongolice, uma
intimidade inexistente com tatuagens... e menor ainda com agulhas).
A mulher me olhou de cima
a baixo.
- Primeira vez?
Fiz que sim com a cabeça
e abri um sorrisão.
- Trouxe desenho?
Parei, abri o maior
sorriso que podia, olhei pra ela.
- Não, não. Vou tatuar
o nome da minha amada. Tá vendo aqui, quero que feche do cotovelo
até o punho!
A mulher deu um suspiro,
que fez eu me achar muito idiota, mas como eu tava idiota mesmo,
pensei que não era um suspiro que ia me tirar o foco dessa linda
homenagem. Ela veio com um papo de “olha, tatuar o nome da pessoa é
bom você ter certeza, porque tatuagem não sai, você tem que saber
se é com isso que você quer marcar o seu corpo pra sempre,
blablabla” e eu fiquei, firme e forte. QUERO TATUAR O MEU BRAÇO
(ou antebraço, nunca sei) COM O NOME DELA. Ok. Ela concordou,
perguntou qual era o nome.
- Luciana.
- Com ípsilon?
- Não, com “I”
mesmo...
- Com dois enes?
- Não, um “N” só...
A mulher parou. Ela olhou
pra mim, olhou para cima, pensativa. Olhou para minha cara de novo
(agora eu estava espantado com ela).
- Não entendi. Tem “H”
depois do “U”, ou depois do “A”?
- Não, não... É
LUCIANA. L-U-C-I-A-N-A. Normal.
A mulher contraiu os
lábios, balançou a cabeça para os lados, em tom de reprovação.
- Desculpa, senhor... Se
não tem “Y”, “K” ou “W”, a gente até aceita fazer se
tem letra repetida. Se não tiver nenhum desses, a gente ainda abre
exceção para nomes com acento no lugar errado, ou “H”
desnecessário... mas sem nenhuma exceção, não tem como tatuar um
nome desses pra você.
Diante da minha cara de
total espanto, procurando a câmera escondida do Silvio Santos em
algum lugar naquela espelunca, ela ainda completou.
- O senhor já viu
tatuado por aí “Mariana”, ou “Letícia”?
Na minha cabeça, só
vinham flashes do trem na Central do Brasil, “Waldynéya”, “Anny
Cleyde”.
- Luciana, só posso
tatuar se for pelo menos com dois “N”... ou com “Y”!
Fiquei atordoado, levantei da cadeira, saí. Respirei fundo e percebi a merda que ia fazer. Saí com dinheiro no bolso ainda, com o braço limpo. Passei na Citycol e comprei um vestidinho pra ela. FELIZÃO!