quarta-feira, 26 de abril de 2017

Homicídio

Hora de matar.
Você agüentou por muito tempo essa convivência escrota, absurda, apenas por um puro moralismo. Sim, uma fraqueza moral, para dizer a verdade: não conseguia aceitar a idéia de matar. Mas passam-se os anos, a convivência diária vai ficando insuportável, e você percebe que ela merece ser morta.
Bateu o martelo, finalmente, seu frouxo! O negócio agora é decidir "como". Bom, minha opinião, você sabe: evitar o uso de armas de fogo; muita bagunça para pouca criatividade. Machado é sempre uma boa pedida, senhor. Sim, sim. Brutal, primitivo, sem muita firula. Mas é necessária habilidade e frieza para MATAR; não basta aleijar ou causar danos. Facão, ok também. Cortes são bonitos, chocam e permitem os mais diversos ataques, aos pontos mais variados do corpo. Acertando um letal, tudo certo.
Ah, o convívio com ela começou cedo, não? Quanto tempo faz? 20 anos? Pouco mais? Enfim... ela começou chegando-se, inocente, e foi crescendo em importância na sua vida. Quantas coisas você fez por causa dela? Tudo o que ela lhe inspirou... Surgiram coisas bonitas, de verdade. Mas quando chega a hora, não tem jeito.
Vá lá. Mate-a.

Eu sempre adoro quando chega a hora de matá-la.
Ela.
A vontade de suicidar-se.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Covardia (ou cordel antihomofobia)

Marcelo era  garoto
Desses, sem nenhum arreio
Diz-se livre, leve e solto
Quando bêbado, sem freio

Jogava-se, quase voando
Aos corpos de umas meninas
Vivia sempre amando
Mas triste era sua sina

Os meninos não escapavam
Das voadas do menino
Tocando-se, apalpavam
Descobriam o grosso e o fino

Respeitava a rejeição:
Não querendo seu pau ou o cu
Ele pegava um vento sul
Partia em nova direção

Queria rodar o mundo
Voando, vista cerrada
Mas um pensamento imundo
Fez a coisa dar errada

Esbarrou-se, então, com Pedro
E sua turma do mal
Este negava o desejo
Mas enrijecera-lhe o pau

Não sabendo como agir
Por pura homofobia
Pedro resolveu punir
Marcelo na covardia

Fez jus à fama de mau
E o garoto foi espancado
Chamaram-lhe de viado
E pintaram de colorau

Um violento bacanal
Deu triste fim a um erro
Por medo do prazer anal
Hoje temos um enterro.