segunda-feira, 27 de abril de 2015

Vísceras poéticas de um analfabeto

"Oi, moça, eu num sô ladrão, não. Só tô pedinumajuda, prá compretá um dinheirinho pralmoçá.
Num vô falá que num bebo, mazé difícil agüentá morá na rua, sabe? Eu..." - vuuuuoooosh.
 Ou:
"Boa tarde, sinhô, tudo bem? Cê mi vê assim dessi jeitu,  maeu num sô vagabundu, não. É quieu tô cum fome mesmu, e pedí é mió qui robá. Num tem nem uma moedinha aí? Só preu podê cumê alguma coisa. Num vô mentí, eu gostu duma cachacinha, sim... Maeu tô cum fomi mesmu - tlintlin. Ôoo, brigado! Deus abençoe!"

Geralmenti era assim quieu consiguia meu dinhero na rua. Meus colegas falavam preu pará di falá di bebida, mazé meu jeitu, sempri prifiri sê sincero. Num funciona com todo mundu, mas há quem visse quieu falavà verdadi, i sintia mais vontadi di mi dá aqueli trocadu - que num faz diferença nenhuma pra eli no fim do dia, mas que transformava meu dia, e me davisperança di vivê!

Mas comocês num são bobo, devem tê percebidu quieu só tô falando "fazia, falava, pedia"... tudu qui num façu mais. I agora tão pensando, pelo modo comua história tá contada, que si não faço mais, devu tê achadum bilheti premiadu da lotu. Quem dera. Iessa volta toda qui tô danu... tem genti qui chama distilo, né? Nu meu cazé frescuriosadia! Explicaqui: frescura purquieu pudia sê mais diretu, sem ficá inuivoltanu, toda hora; i ousadia porquieu tô nazúltimas, i posso morrê antes disso terminá. Intão, anotaissaí, ìscrevi depois, purquieu achu qui mereçu. Comeu sô frescurentu, anota du jeitu quieu tô contanu... vô resumí, qui tapertanaqui.

Olhaqui, pru chãu. Esse líquidu é valiosu, só prá mim. Pruzômi ele num tem valô ninhum! É meu sangui! É minha vida! Sempri fui pobrìanalfabetu, i minha vida semprìncomodou uzôtu. Mas agora, eu decidi mi abrí, e fiz issu... - tuuf tuf. Tava morrenu di fomi. Fomi, dum jeitu qui vocês num sabi do quieu tô falanu - haam huum. Eu quirìscrevê um livru... Vivi tanta coisa. I a fomi.

Ninguém mi matô. Eu qui abri minha barriga. Na unha. Quis mostrá prá velha... ela divia tê minhidadi... quiria mostrá prá ela quieu tava ca barriga vazia mesmu, num era mintira. I vô morrê, ca barriga mais vazia ainda. Olhaqui, minhas tripa tudu inuimbora nessi mar vermelhu - haam thaaam. 

Sei lá, surtei. A fomi, comu eu dissi, aquela qui vocês nem sabi uquié... intãu, pode fazê a genti fazê essas coisassim. Meti minhazunha na minha barriga i fui abrindu ela. Eu tavolhanu pra minha barriga, aí quandu abriu, senti uma felicidadi por tê conseguidu abrí, antis di sentí a dor... eu tavaté sorrinu quandolhei prá velha. Sabi aqueli sorrisu qui cê dá antes di percebê a merda qui tá fazenu, qui num vai tê volta? Essi sorrisu mesmo. Maizolha, quandeu olhei prá velha- haaam thuuuf... cês tinham qui vê a cara di horror dela! I di todu mundu pur pertu! Foi um choqui prá mim, qui ainda tava feliz - tahaam huuf - pur tê consiguidu abrí minha barriga na unha, i mostrá prá ela qui tava vazia, mesmu! Achei quìa ganhá um trocadu. Só quandeu vi a cara di todu mundé qui caiu a ficha. Vi a merda quieu fiz. Aí já era.

I miapareci um malucaplaudinu, gritanu "qui linda perfómanci!". Perfómancéu caralhu! Eu mistribuchanu ieli achanu quié brincadeira!

Agoreu tô aqui, mixpus mais qui puta di dia, tô sangranaté morrê... i vô ficá mais vaziu qui antis.

Mas. Sô analfabetu. Publiquessistórin um livru - haaam thuum.

A cena das minhas tripas grudada nazunha...
Mininu. Publiquinlivru não. Uzôtu qui nem eu num vão podê vê... Faizum filmi. Eu gostava muito di cinema.

Gostava. Cesintenderam purquieu tô falando tudassim, né? - haam thuuum.

U Zé du Caixãu iàdorá vê issu. Pedi prele fazê - haam... haaaaaaam...

Huuf.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Aventuras Urbanas de Flock

Flock estava no ônibus, ouvindo alguma música, no seu aparelho reprodutor de músicas - não interessa se era um walkman, um mp3 player, ou um iPhone, que teoricamente, é um mp3 player, mas o departamento judicial da vida diz que quando uma marca é muito cara, você deve usar o nome que a marca deu ao produto, não o nome utilizado normalmente na sociedade. Estava de cabeça baixa, olhos fechados, pés batendo no ritmo da música - ao menos era o que ele achava, que estava no ritmo... Levantou a cabeça, abriu os olhos e virou para o lado: uma garota linda estava sentada no banco do outro lado do ônibus. Não sabe nada sobre ela, mas sabe que suas sardas o deixam meio confuso e feliz. Abre um sorriso de canto de boca, desajeitado. Olha fixamente para ela. Chega a esticar um pouco o pescoço, para ver se assim é notado. Dá certo.
A garota olha para ele agora. Ele desvia o olhar, fixando-o no chão. Volta lentamente o olhar para a menina. Ela está olhando para a frente, mas volta a olhar para ele. Ele, como o Dengoso dos sete anões, disfarça, virando rapidamente para o lado da sua janela. Pronto. Sabia que agora o contato visual estava estabelecido. Flock volta seu olhar novamente para a menina de sardas. Ela se vira para ele e dá um sorriso. Era o que faltava! Contato visual estabelecido, e agora, uma timidez recíproca.
Tomou coragem, mexeu na mochila, arrumou-se sentado no banco e tomou a decisão: iria falar com ela! Pegou a mochila mais uma vez, balançou-a, e levantou-se. Flock chegou ao lado da garota, com o olhar entre o chão e o rosto dela, e um sorriso meio bobo. A menina ajeitou-se, sentou-se uns dois centímetros mais para o lado, com um sorriso leve e uma mão na nuca, que mexia em seus fios de cabelo sem objetivo nenhum. Flock parou em pé em frente ao banco da menina, em uma posição que ele ficava de frente para o ombro dela, e abaixou-se. Enquanto ele abaixava, ela sorria e olhava para ele, fingindo uma surpresa. Flock disse:
"Tu roubaste tamancos?"
O sorriso da menina sambou, sua testa franziu. Parecia confusa.
"O quê?", disse, aturdida, a pobre garota.
"Brrrrrllllllll!", fez Flock, soprando sua língua em seus lábios, uma brincadeira que sempre gostou de fazer, desde criança, que inclusive, deixou algumas gotas de saliva no rosto e no cabelo da garota sardenta.
Flock puxou a corda para o ônibus parar, e caminhou rumo à porta de saída do ônibus, com a cabeça virada para a garota, que olhava atônita para ele, que estava com um sorrisinho no rosto e acenava muito levemente um sim com a cabeça. A garota ainda olhava assustada para Flock e para os lados, procurando algum cúmplice entre os passageiros para afirmar que aquele garoto era completamente retardado. Em vão, todos estavam mexendo em seus celulares, ninguém presenciou aquela cena. Quando o ônibus parou, ele, o corpo virado para a saída, mas o pescoço e o rosto virados para a menina, soltou um "Hmmmm", enquanto acenava ainda com a cabeça, em sinal afirmativo, e desceu do ônibus.
 Flock sabia como mudar a vida das pessoas. Sabia como mudar a sua vida a cada dia.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Giovanna e ética

Levando Giovanna pro cinema. Vou de trem e metrô, o que dá a ela a impressão que estamos LONGE PACARALHO de casa. Então, no caminho do metrô para o shopping, onde ficava o cinema, ela vira e manda:
"Haha essas pessoas aqui na rua, ninguém conhece meu pai nem minha mãe! A gente pode fazer bagunça, né, titio? Vamos fazer bagunça?"
Eu olho para ela, e ela começa a andar pulando e chutando o ar com o calcanhar, da esquerda para a direita, ocupando praticamente toda a calçada.
"Olha, eu posso fazer essa bagunça. Ninguém me conhece, ninguém está olhando pra mim!"
Ela continua pulando de um lado para o outro. Penso se vale a pena dizer que esse pensamento pode... Foda-se. Pulei junto com ela e ficamos "fazendo bagunça" até chegar no shopping.

-----------------------
Antes, no metrô, anunciei pra ela que ia ver o Faith No More no Rock In Rio (e ela ama "Falling to Pieces"). Falei:"Vou ver 'baaaaack and foooorth I sway with the wiiiind...'".
Ela fez uma cara de surpresa e desespero, e falou, toda imperativa "Eu VOU!!! Você vai me levar nesse show!!!" Aí eu: "Eu falei pra sua mãe comprar ingresso pra você ir, Giovanna, mas ela não comprou!" Ela: "Então você vai ter que me levar!!! Eu vou com você!" Eu: "Mas como, se não tem ingresso? Já sei... vou te levar dentro da minha mochila!" Ela: "Ei, tá doido? Mas como eu vou ver o show de dentro da mochila?" Eu:" Não, eu te tiro da mochila lá dentro...". Ela: "Não, você me coloca dentro da sua camisa, e se te perguntarem, você fala que comeu uma melancia inteira! Aí depois eu vejo o show lá dentro! Tá bom?"
 Dá vontade de levar mesmo... pena que ela não ia agüentar o pique do dia inteiro...

Como fingir que não trabalha...

Alguns passos para você fazer os outros pensarem que você NÃO ESTÁ trabalhando, só de bobeira.
1- Você precisa estar trabalhando;
2- Você resolve que é um ser humano, e precisa beber alguma coisa;
3- No caminho para a geladeira, sua cabeça pensa "Karma-karma-karma-karma-karma-karmeleon...";
4- Um pensamento idiota atropela a música da sua cabeça: "karma-karma... parece um caipira falando 'calma, calma'";
5- Sua mente rebate o pensamento, mais rápido ainda, como se estivesse fazendo algo genial: "caipira, Chico Bento! Haha! Qual a música que o Chico Bento cantou pro lagarto?"
6- Ria disso enquanto prepara seu suco;
7- Poste isso no Facebook.
Tcharaaaaaaaan!!!

OBS: Se postado a qualquer horário da madrugada, aumenta em 400% as chances das pessoas te verem como vagabundo. 

terça-feira, 7 de abril de 2015

Criatividade

Por que desenvolvi tanto a criatividade?
Creio que a resposta para isso está na infância.
Creio que tem a ver com o difícil acesso a pornografia.
Apenas crianças que não tiveram fácil acesso a pornografia sabem da importância da criatividade.
Para uma estátua de porcelana de uma mulher com meio bico do peito de fora virar uma fantasia sexual, era necessário exercitar muito a mente!

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Páscoa

Nunca curti ovo de páscoa.
Não ligo muito pra chocolate,
Muito menos para ovo.
Sempre preferi ovário.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Deus e Problema

Não diga a Deus que você tem um grande problema.
Diga que você não tem problemas. Nem Deus.