quinta-feira, 23 de abril de 2015

Aventuras Urbanas de Flock

Flock estava no ônibus, ouvindo alguma música, no seu aparelho reprodutor de músicas - não interessa se era um walkman, um mp3 player, ou um iPhone, que teoricamente, é um mp3 player, mas o departamento judicial da vida diz que quando uma marca é muito cara, você deve usar o nome que a marca deu ao produto, não o nome utilizado normalmente na sociedade. Estava de cabeça baixa, olhos fechados, pés batendo no ritmo da música - ao menos era o que ele achava, que estava no ritmo... Levantou a cabeça, abriu os olhos e virou para o lado: uma garota linda estava sentada no banco do outro lado do ônibus. Não sabe nada sobre ela, mas sabe que suas sardas o deixam meio confuso e feliz. Abre um sorriso de canto de boca, desajeitado. Olha fixamente para ela. Chega a esticar um pouco o pescoço, para ver se assim é notado. Dá certo.
A garota olha para ele agora. Ele desvia o olhar, fixando-o no chão. Volta lentamente o olhar para a menina. Ela está olhando para a frente, mas volta a olhar para ele. Ele, como o Dengoso dos sete anões, disfarça, virando rapidamente para o lado da sua janela. Pronto. Sabia que agora o contato visual estava estabelecido. Flock volta seu olhar novamente para a menina de sardas. Ela se vira para ele e dá um sorriso. Era o que faltava! Contato visual estabelecido, e agora, uma timidez recíproca.
Tomou coragem, mexeu na mochila, arrumou-se sentado no banco e tomou a decisão: iria falar com ela! Pegou a mochila mais uma vez, balançou-a, e levantou-se. Flock chegou ao lado da garota, com o olhar entre o chão e o rosto dela, e um sorriso meio bobo. A menina ajeitou-se, sentou-se uns dois centímetros mais para o lado, com um sorriso leve e uma mão na nuca, que mexia em seus fios de cabelo sem objetivo nenhum. Flock parou em pé em frente ao banco da menina, em uma posição que ele ficava de frente para o ombro dela, e abaixou-se. Enquanto ele abaixava, ela sorria e olhava para ele, fingindo uma surpresa. Flock disse:
"Tu roubaste tamancos?"
O sorriso da menina sambou, sua testa franziu. Parecia confusa.
"O quê?", disse, aturdida, a pobre garota.
"Brrrrrllllllll!", fez Flock, soprando sua língua em seus lábios, uma brincadeira que sempre gostou de fazer, desde criança, que inclusive, deixou algumas gotas de saliva no rosto e no cabelo da garota sardenta.
Flock puxou a corda para o ônibus parar, e caminhou rumo à porta de saída do ônibus, com a cabeça virada para a garota, que olhava atônita para ele, que estava com um sorrisinho no rosto e acenava muito levemente um sim com a cabeça. A garota ainda olhava assustada para Flock e para os lados, procurando algum cúmplice entre os passageiros para afirmar que aquele garoto era completamente retardado. Em vão, todos estavam mexendo em seus celulares, ninguém presenciou aquela cena. Quando o ônibus parou, ele, o corpo virado para a saída, mas o pescoço e o rosto virados para a menina, soltou um "Hmmmm", enquanto acenava ainda com a cabeça, em sinal afirmativo, e desceu do ônibus.
 Flock sabia como mudar a vida das pessoas. Sabia como mudar a sua vida a cada dia.

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