sexta-feira, 3 de março de 2017

Tipos de pessoa

Existem dois tipos de pessoa: um que eu me identifico e outro que não. E isso vai ao infinito, e dois tipos é o caralho, sejamos francos: "dois tipos de pessoa: o tipo que chupa buceta com vontade e o que tem nojinho..."; "o que chupa picolé e o que morde o picolé...", etc. Enfim. Vou falar de dois tipos específicos: os que jogam o alimento que caiu no chão fora e os que assopram e utilizam.
Confissão - e sim, se você comeu ou bebeu na minha casa, provavelmente algo deve ter caído no chão, porque "existem dois tipos de pessoa: os que não são estabanados e os que são como eu". Bom, geralmente eu penso que o chão deve estar mais limpo do que os de restaurantes que eu já fui, e às vezes pago caro até por isso, então, não vejo problema, mesmo. Mas certas coisas, até o mais fresco dos frescos devem me dar razão.
Deixei cair um pote de amoras. Sabe, a frutinha roxa gostosa a beça, que geralmente a gente pegava na rua? Pois é, essa merda é cara pra caralho! Comprei um potinho porque tinha tempos que não comia amora (a última vez, parei em frente a uma amoreira carregada, que fugia do quintal onde estava plantada para a calçada da rua; no que colhi as primeiras amoras, um carro sobe a calçada, e a mulher entra na casa, me deixando totalmente sem graça, tipo um Chico Bento roubando frutas do pomar alheio). Um potINHO, bem pequeno: R$ 6,99. É muita vontade de comer amora. E essa merda, quando fui pegar da geladeira, me cai no chão, espalhando todas as amoras, cada amorinha daquele plástico maldito (que abriu-se como uma vagina sedenta de ser devorada) jogadas pelo chão da cozinha. Óbvio que pensei "calma, é só lavar...", mas um outro pensamento me veio, ao mesmo tempo. Algo tranqüilizador, de certa forma; minha memória puxou uma saída recente, a um bar legalzinho, que já até apoiou um curta meu. Eu e Luciana fomos almoçar, ela pediu salgadinhos de petisco; ela queria salgadinhos variados para experimentar, o garçom falou que não podia, pois era pacote fechado com a quantidade certa. Ok. Um bolinho veio refrito. Quantidade certa, meu ovo. Ela fez questão de encrencar. Eu quis comer aquilo refrito mesmo; ela separou e pediu pro garçom trocar. Ele tentou argumentar que não dava, mas ela não mudou uma vírgula da reclamação. Voltou um outro salgadinho, mais bonito, certamente. Ela não comeu, ia pedir para embrulhar para a viagem. Eu sabia que o bolinho tinha sido passado nas axilas e nas partes íntimas de quem fritou. Tomei coragem, respirei... torci pra cozinheira ser mulher: antes um bolinho passado na buceta do que um passado no saco. Comi aquilo. Antes comer um bolinho zoado apenas uma vez, do que saber que o bolinho voltou para a cozinha, com o garçom dizendo: "Aí, a mesa que pediu para voltar o bolinho refrito não comeu esse que você fritou e pediu para botar pra viagem. Embala com carinho, só não deixa pentelho visível, beleza?".
E a amora, nesse chão limpinho, quem vai reclamar? Tem nem cheiro de bunda ali... Sou do tipo que pega, assopra, no máximo passa uma água e manda ver.
Mas existem dois tipos de pessoa: as que sabem que a cozinha de restaurante já tem suas nojeiras em quantidades satisfatórias, e as que mandam a comida voltar pra darem uma temperada com suor de saco. Sou das primeiras.