segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Meu dia com o Veríssimo


Escrevo para geralmente fugir da minha realidade. Mas não dessa vez. Dessa vez escrevo para agarrar-me a uma realidade que nenhum alzheimer (espero eu) poderá destruir! E sim, tive meu dia de fã sem vergonha. Quer dizer, um pouco envergonhado, sim, já que não consegui sequer dizer o que queria para o velhinho sentado à minha frente, cujos livros antigos me incentivaram (E MUITO) a escrever um monte de besteira! E há um feito no dia de ontem que quero eternizar através de meus relatos.
Veríssimo, em um papo com Zuenir Ventura e Marcelo Dunlop (jornalista que catalogou frases dele - Veríssimo -, que saíram no livro "Veríssimas"), muito contido, pouco falou, e o que disse foi naquele tom sereno, do velhinho tímido que pareceu mais animado apenas nos momentos em que falou de suas merdas da juventude e, não necessariamente animado, mas com vontade de falar, quando o assunto foi o seu Internacional. Ok, foi bacana, mas foi meio corrido, com o Zuenir tomando conta do papo, falando muito mais do que ele. Mas... fim do papo, e corre-se para o canto dos autógrafos, onde Veríssimo estaria autografando seus livros, e o Zuenir também - confesso rapidamente que nunca li a Cidade Partida, nem o livro da série Pecados Capitais dele, a Inveja... Enfim, estão na minha eterna lista de livros a se ler, e pretendo ler um dia... mas fui pra ver o Veríssimo mesmo.
Eis que lá estava à venda o novo livro, o "Veríssimas", e a grande maioria estava comprando o livro ao lado do canto do autógrafo, para ter o que ele autografar. No entanto, do alto de seus 80 anos, após o susto que deu em todos no início do ano, o bom velhinho (foda-se o Papai Noel!) para enfrentar a bateria de autógrafos que teria que dar, sabiamente preparou 3 carimbos de autógrafos, onde um deles era apenas um desenho. Fiquei um pouco amuado, pois aquele cara é realmente importante pra caralho na minha vida literária: comecei lendo suas crônicas que saíam no jornal, depois as tirinhas das Cobras, e depois procurei os textos do Analista de Bagé, e outros personagens fodas que ele criou. Quando eu lia os livros dos contos do Analista, ou do Velhinha de Taubaté e outros contos, eu pensava comigo mesmo: como é que aquele velhinho na dele, com aquele sorriso sereno, podia escrever aquelas grosserias - que me davam raiva por não conseguir expressar as mesmas idéias com a mesma genialidade, mas ao mesmo tempo me deixava feliz pra caralho de conhecer tal literatura, genialmente boa!-? Como eu queria gritar pra todo mundo "O Veríssimo que vocês adoram, e compartilham só frases idiotas que nem são dele na internet, tem um ogro por dentro e já escreveu frases que deixariam vocês com vergonha, seus merdas!", para todos os amantes da falsa literatura. "É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata..." é mi verga, carajo!!! Como já dei bronca em sogro e pai no Whatsapp por compartilhar texto nada a ver (alguns anti-PT inclusive) como se fosse de autoria dele...
Mas eu estava falando dos carimbos. Pois tinha que me contentar com o que havia, e se o autógrafo era carimbo, carimbo seria! Pois na hora de entregar os livros, entreguei "A Velhinha de Taubaté", um livro antigo que comprei num sebo, e que é bruto feito gaúcho, "tchê!", e a antologia das Cobras. Quando botei o "Velhinha de Taubaté" na mesa, o tal Marcelo, que fez a compilação dos aforismos dele pra esse livro, e deve ter lido a porra toda, ainda botou uma pilha: "Nossa, esse é raridade, hein!"; mas o Veríssimo apenas sorriu ao ver, e carimbou a antigüidade. Quando pegou a antologia das Cobras, veio a surpresa. Pegou um carimbo, mas pediu ao Marcelo, que estava ao lado dele:
- Me arruma uma caneta...
Eu queria falar com ele, mas havia uma fila de pessoas, e minha timidez também não deixou. Queria falar exatamente dos textos grosseiros, tchê; do rosto sereno de velhinho simpático, daqueles que não dá nem para reclamar quando estamos há duas horas no banco, esperando, e mal ele entra é atendido na hora... Que aparecia na propaganda do Globo, falando tão lentamente, numa calma tão zen, que parecia um bicho preguiça. Aquele velhinho já foi um jovem que deixou os mais velhos "de cabelo em pé", na época em que até as bucetas ficavam de cabelo em pé, pois ainda tinham cabelos. Mas não disse nada. Mas fiquei em êxtase ao vê-lo pegando a caneta, puxando um balãozinho na primeira página das Cobras, e escreveu, meio tremido, um "Oi!". Eu poderia ter aproveitado aquele momento, onde com um gesto, ele mostrou que havia um mínimo de cumplicidade entre ele, o bom velhinho, e aquele rapaz estranho com uma camisa com o Papa Bento XVI com uma montagem tomando ecstasy. Mas eu preferi eternizar o momento com uma foto e deixando-o em paz, sem falar besteiras para o escritor que deve estar cansado de ouvir que foi inspiração para tantos pseudo-escritores.  E ao terminar de escrever, devolveu a caneta ao Marcelo.
E assim terminei um dia feliz! Luciana pegou autógrafo (carimbo) com um livro meu de contos do Veríssimo, que emprestei a ela há tempos para pegar gosto por leitura, todo mundo levou carimbadas. Luciana foi ao banheiro, eu fiquei ali, ao lado, vigiando se ele ia assinar mais algum com caneta. Não pediu mais a companheira azul... apenas carimbos. Apenas eu tive algo escrito do Veríssimo a caneta naquele dia. Só eu recebi um "Oi!". Fiquei ao lado, olhando os outros tietes; eu feito a mulher ciumenta, vendo se o escritor vai fazer graça com outra pessoa. Ninguém; apenas carimbadas.
Sim, texto fútil, idiota, de fã mesmo. Mas respeitem, é Veríssimo. E ESCRITO A CANETA, PORRA!!!!

Prova de que ele usou a caneta em meu livro e minha cara de "YEAH, PORRA!!!"
O autógrafo a mão!!

Nenhum comentário: