quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Ouça o Ozzy...

Um dia o mundo se privou de um ser interessante. Isso aconteceu cerca de nove meses antes de nascer o personagem dessa história. É... e pensar que poderia ser qualquer um de milhões... E foi ele.
O tempo passa, e sua única façanha ainda é a de ter fecundado o óvulo. Mas por quê? Ele não gosta de ser especial... tem um medo terrível de se destacar por ser bom. E realmente, medo infundado; infelizmente não é comum psicólogos tratarem as pessoas dizendo a realidade, ou então ele já saberia que não passa de um merda. Lamentável...
Mas de uns tempos para cá, surpreendeu a muitos, e a si mesmo: alcançou pequenas conquistas, e combateu a vergonha de ser o autor. Sentiu-se feliz até, o que não gostou muito, pois sabia que logo, logo estaria novamente sendo apenas um ser anônimo, fugindo da multidão. Mas aproveitou seus segundos.
Cheio de projetos, via-se pela primeira vez na vida sem tempo para ficar se destruindo mentalmente; apenas construía.
Tudo ia bem, até perceber que perdia sua independência. Ahh... sua independência: a única coisa que realmente o deixava tranqüilo. Embora não fizesse planos, pois não sabia sequer se teria futuro, uma coisa tinha certeza: esses espiritualistas de merda, ao menos, reservam aos independentes como ele uma ilha isolada, além do céu e inferno, e que todos desprezam mais do que o inferno. A possibilidade de causar ódio aos que ficavam, em um sentido contrário ao endeusamento usual, fazia-lhe brotar um sorriso confiante, meio de lado, escondido.
Embora não acreditasse em planos espirituais, ficava feliz porque os outros acreditavam, e certamente seria unânime a opinião de que ele fora um grande burro e, conseqüentemente, dariam razão ao seu pensamento, de que seria bem melhor se outro viesse à vida, que não ele.
Entrava precocemente em uma crise de meia-idade; não agüentava mais estar com coisas boas, e nem arcar com responsabilidades. Foi ao supermercado e comprou uma garrafa de cachaça. Chegou em casa, abriu a geladeira: nada que o agradasse para uma boa refeição. Foi ao CD Player, colocou um CD do Radiohead e programou para repetir aquela que considerava a sua música: Creepy. Foi para o banheiro. Não... muito clichê. Voltou para a cozinha, deu com a garrafa na pia, quebrando-a em dois pedaços principais: um ficou em sua mão, a parte de cima da garrafa, e o segundo caiu no chão, partindo-se em diversos outros pedaços. Sorriu de lado, triunfante. Bateu delicadamente a parte de cima da garrafa, que estava em sua mão direita, para que se formassem cacos parecidos com seus caninos. Perfeito!
Não desistiu, porém, de deixar uma mensagem artística: após cravar a metade da garrafa em seu pescoço, perfurando-lhe a garganta, apertou os ferimentos com a mão esquerda e tentou desenhar, na parede, um boneco. Quando fazia a cabeça, os olhos turvaram-se e caiu no chão, formando uma bela poça de sangue, misturada às batatas, óleo de cozinha e cacos de vidro que estavam no chão.
Magnífico!

Infernum Samambaiis - 17/09/2008

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