domingo, 27 de dezembro de 2015

8:49

Foi apenas um minuto. Mas, sem querer ser clichê, sendo: pareceu uma eternidade. Rio de Janeiro, zona norte, subúrbio, braz de pina, um quartinho onde o sol faz questão de bater todas as manhãs, sem folga, na parede, tornando-a uma frigideira em potencial. Eram 8:49, horário para qualquer ser normal estar dormindo, e era o que fazia nosso amigo F., mesmo com um calor escroto, combatido apenas com um ventilador. Ao menos o mantinha vivo. Mas, como eu disse, eram 8:49, e ninguém saberia que eram 8:49 se todos continuassem dormindo; viraria 8:50, 9:00, e foda-se, vários minutos que nunca tive consciência da existência em minha vida; mas esse minuto, não; esse marcou.
Às 8:49 faltou luz. O ventilador parou. A respiração veio com dificuldade, parecia estar em uma fornalha. Nosso amigo F. pegou instintivamente o celular (porque, né, vai que tem o aplicativo daquela porra começar a girar e virar um ventilador) e foi aí que ele viu a maldita hora: 8:49. Praguejou e percebeu que havia faltado luz. Tentou virar pra cima, pra ver se deixava de derreter na cama; não adiantava. E então, uns vinte segundos após o ventilador parar, deu um estalo que trouxe a expressão do desespero para aquele recém-acordado (e então totalmente lerdo devido ao sono e ao calor) F.. Apenas agora ele percebia o horror daquela falta de luz: o ventilador parar apenas o faria levantar mais cedo, ficar de mau humor, mas mau humor era seu sobrenome mesmo, então nada que ficar na sombra tentando achar onde o vento bate mais não resolvesse. Mas tinha algo que parecia perdido, e o desespero aumentava, o que parecia aumentar-lhe o calor também; seu corpo parecia que iria explodir.
Então, lembrou-se da solução - ele estava lerdo, tinha acabado de acordar, relevem... - e a decisão estava em suas mãos: usar ou não usar o trunfo? Pensou um pouco e viu: dessa vez era necessário. Já usara tantas vezes por motivos menos nobres, porque regularia agora?
Pegou o celular. Ele já marcava 8:50. Foi em Ajustes; Celular. Olhou para o botão que conectaria o 3G; aguardou por um milagre. Fechou os olhos e direcionou o dedo para conectar. Ia pagar os R$ 0,99 que a Claro cobrava por aquela internet de merda. Decidiu-se, é emergência. E... Vruuuuuu... O ventilador voltou! A luz voltou! O dedo quase conectando voltou! O wi-fi voltou!!!
Pronto, agora ele poderia reclamar no facebook da falta de luz, do calor, do plano da Light de matar os cariocas, em complô com a CEDAE, fazendo faltar água num dia, luz no outro. Enfim. Foda-se o calor. O negócio é poder reclamar no Facebook!!

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