terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Sobre criança, consciência e mendigo

Giovanna passeando hoje comigo pelo Centro, viu um mendigo dormindo na rua, todo coberto.
- Ali, titio, essa pessoa mora na rua. Ela não tem casa!! E todo mundo passa, ninguém pega ela pra levar pra casa... Como é que pode, morar na rua, na rua, titio!
Eu, com a carcaça um pouco dura de ser uma dessas pessoas que não levam as que dormem na rua para casa, concordei, por ser um assunto que me dói...
- É, Giovanna... isso devia ser proibido, né, a pessoa não ter uma casa pra morar...
- Tadinhas delas, titio! Elas não tem casa pra morar! Imagina se fosse eu, morando NA RUA, sem nada pra comer, passando fome... Tadinhas delas, titio...
E eu percebendo que ela tem a mentalidade muito melhor do que muita gente adulta, me calei, simplesmente, perguntando qual exemplo eu poderia dar pra essa garota pra ela não perder esse senso de humanidade. Ela se coloca na pele das pessoas, ela tem a capacidade de saber que é errado porque ela não deseja isso pra ela, ela não vê como monstros por estarem com roupas maltrapilhas, o que é um ótimo começo. Mas ela cortou meus pensamentos, quase com uma resposta:
- Titio, um dia quero ajudar essas pessoas, vamos?
Eu chorei (veio a lágrima, não pisquei o olho pra não escorrer, e deixei o vento secar... mas eu sei que chorei...), e me sinto inútil. Fora comprar salgados para muleques que pedem quando estou em lanchonetes, ou preparar marmitas quando pedem em casa, nunca soube direito como ajudar as pessoas, e hoje simplesmente fui forçado a ver o como estou com essa camada fria de quem vê vários mendigos no centro e acabou se acostumando. E entro em parafuso, sem mensagem bonita, eu não ajudei ninguém hoje na frente dela. Preciso fazer algo para que essa vontade dela nunca morra. Pessoas morando na rua não deveria ser algo normal. Subvida não deveria ser algo normal. Eu vou dormir com esse peso hoje...

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