Giovanna passeando hoje comigo pelo Centro, viu um mendigo dormindo na rua, todo coberto.
- Ali, titio, essa pessoa mora na rua. Ela não tem casa!! E todo mundo
passa, ninguém pega ela pra levar pra casa... Como é que pode, morar na
rua, na rua, titio!
Eu, com a carcaça um pouco dura de ser uma
dessas pessoas que não levam as que dormem na rua para casa, concordei,
por ser um assunto que me dói...
- É, Giovanna... isso devia ser proibido, né, a pessoa não ter uma casa pra morar...
- Tadinhas delas, titio! Elas não tem casa pra morar! Imagina se fosse
eu, morando NA RUA, sem nada pra comer, passando fome... Tadinhas delas,
titio...
E eu percebendo que ela tem a mentalidade muito melhor do
que muita gente adulta, me calei, simplesmente, perguntando qual exemplo
eu poderia dar pra essa garota pra ela não perder esse senso de
humanidade. Ela se coloca na pele das pessoas, ela tem a capacidade de
saber que é errado porque ela não deseja isso pra ela, ela não vê como
monstros por estarem com roupas maltrapilhas, o que é um ótimo começo.
Mas ela cortou meus pensamentos, quase com uma resposta:
- Titio, um dia quero ajudar essas pessoas, vamos?
Eu chorei (veio a lágrima, não pisquei o olho pra não escorrer, e
deixei o vento secar... mas eu sei que chorei...), e me sinto inútil.
Fora comprar salgados para muleques que pedem quando estou em
lanchonetes, ou preparar marmitas quando pedem em casa, nunca soube
direito como ajudar as pessoas, e hoje simplesmente fui forçado a ver o
como estou com essa camada fria de quem vê vários mendigos no centro e
acabou se acostumando. E entro em parafuso, sem mensagem bonita, eu não
ajudei ninguém hoje na frente dela. Preciso fazer algo para que essa
vontade dela nunca morra. Pessoas morando na rua não deveria ser algo
normal. Subvida não deveria ser algo normal. Eu vou dormir com esse peso
hoje...
ROBOTS 5.2 : 1985-1989
Há 2 meses
Nenhum comentário:
Postar um comentário