segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Leituras horripilantes

Texto iniciado em 25/01/2017

Estava há um tempo tirando o atraso de leituras. A vida corrida das metrópoles sempre faz com que as pessoas distanciem-se daquilo que as dá prazer, e podemos dizer que a leitura estava cada vez menos presente em sua vida: um livro a cada quatro, cinco meses... Resolveu voltar ao ritmo que lhe agradava e estava devorando livros como antigamente. Robustos livros eram lidos em dias, dependendo do ritmo no trabalho, o que lhe diminuía o tempo, em semanas. Mas certamente havia voltado. Encarou seguidamente quatro do Saramago, um Huxley, um Fausto Wolff, até confrontou-se com um antigo preconceito, leu a Ópera do Malandro, do Chico Buarque ("do Chico" é o caralho... é menstruação...), e foi para dois livros de um autor que adorava desde adolescente: Stephen King.
O primeiro livro, "Thinner", leu rápido, pois estava operado e com tempo suficiente na cama sem ter o que fazer além de contemplar o teto, lembrar dos momentos horríveis no hospital e beber água. Beber muita água e chás (de salsa, de quebra-pedra, do diabo a quatro das ervas). Uma maldita pedra no ureter esquerdo o fez aprender na marra aquilo que os pais sempre o disseram (e ele sempre ignorou, como fazemos com quase todos os avisos vindos dos pais): se não beber água pode acabar com pedra nos rins. Sentiu o gosto da diversão novamente naquelas palavras de medo e horror, daquele que era considerado um mestre do gênero. Terminado o livro, olhou para a estante - aquela pilha de livros que ainda não leu: mais Saramago, mais Huxley, quadrinhos do Adão Iturrusgarai, o novo do Allan Sieber com o pai dele, Veríssimo... E mais um do Stephen King, "Sombras da Noite", um livro de contos.
Como o gosto pelo terror sempre foi preferência, e aquele estilo de escrita havia o colocado em uma espécie de retorno à adolescência, aquela leitura divertida ao descrever medos e angústias, resolveu dar continuidade, e pegou mais um do mestre do horror. Já haviam passado quase duas semanas desde a operação, e Stephen King caía bem para as leituras relaxadas de tardes no sofá que não acabavam.
Leu contos que falavam sobre uma cidade fantasma onde criaturas abissais e missas satânicas enlouqueciam pessoas; pessoas que viravam gosmas nojentas; gripes que acabavam com a humanidade; ratos malignos e gigantes; caminhões assassinos; máquinas de passar roupa possuídas por demônios. Enfim, uma infinidade de assuntos carregados de terror e fantasia, buscando um absurdo que apesar de tudo, não o fazia cair na gargalhada, mas brincava em despertar o medo que seu subconsciente tenta esconder que você tem desde que passa à fase adulta. E alguns desses contos o remetiam a outros autores que gostava, como Poe e Lovecraft.
Ah, como divertia-se com as terríveis histórias de crueldade e morte que lia; de seres monstruosos; de uma morbidez crua e, ao mesmo tempo, bonita. Lendo Stephen King o fez pensar em todo esse estilo, nas frases clichês que tentavam injetar ao leitor um pouco de terror induzido. Mas quando havia passado da metade do livro, voltou ao hospital para pegar o resultado de uma tomografia: um exame tranqüilo, sem nenhuma infusão de agulha invadindo-lhe inconvenientemente seu corpo. Levou o livro de contos, para caso precisasse aguardar, o que realmente aconteceu, e estava divertindo-se com todo aquele clima sombrio do livro. No entanto, ao pegar o resultado, ainda com o livro de Stephen King em mãos, foi quando o universo deu um giro e ele compreendeu, da pior forma possível, que aqueles clichês de "um arrepio gélido percorreu-lhe a espinha", ou "sentiu os nervos congelarem embaixo da pele", ou qualquer outra fase que pareça de efeito, realmente acontece. A pedra continuava lá, diminuíra apenas um milímetro. O horror fazia-se presente, e qualquer história do Stephen King pareceria apenas uma boba diversão; sim, uma pedra com milímetros pode ser mais assustadora que qualquer conto genial desse autor, se colocada no seu ureter esquerdo. Perdido no espaço-tempo, pensou na nova operação que teria que fazer; nas agulhas que iriam perfurar-lhe sem consentimento verdadeiro; no cheiro de morte que todo hospital tem; e na sonda no piru. A sonda era certamente a pior parte de tudo.
E sim, minha espinha enregelou-se. Minha face contorceu-se no mais puro pavor, demonstrando uma fobia jamais sentida antes na humanidade.
Essas frases fazem sentido para mim, não só como frases de efeito, mas como demonstradoras do mais puro horror.

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