sexta-feira, 26 de maio de 2017

Gotas

Não importa se a rotina é lasciva ou tediosa. Ela sempre acaba instaurando-se na vida do casal. Esse modelo "casa / trabalho / casa" em que se vive é um grande parceiro dela. Começa agora uma história corriqueira, dessas que acontecem em diversas casas no Brasil e no mundo; mas contada através de pequenas gotas.


Gotas de Saliva

O último que chega em casa dá um beijo, conversam sobre o dia no trabalho ( problemas e situações estressantes que não levam nenhum assunto a um final feliz). Entre afazeres domésticos, gasta-se saliva falando do que não foi legal; vez ou outra surge a lembrança de algo inusitado, engraçado, e há um vigor maior para contar esses acontecimentos. No mais, o tom é sempre morno ou exaltado para o negativo.
De alguma forma, nesse ambiente sombrio, uma mudança súbita no ar, ou um cheirinho de tempero que pegou o vento certo, ou um som que surge do nada, uma música, qualquer elemento que traz à tona a paixão entre os dois, sem explicação, faz mãos deslizarem e os corpos encaixam-se, com certo pudor, entre si. Pescoços se roçam, a barriga dele encosta na sinuosidade das costas dela, e a saliva, antes gasta com a fala, passa a ter outro valor no silêncio, e é trocada entre línguas famintas.

Gotas de Lubrificação


As mãos mexiam-se em um movimento menos frenético do que as línguas, mas não com menos sensibilidade e uma coordenação digna de um balé russo: uma delas penetra por baixo da blusa, na barriga, e sobe até o mamilo dela; no movimento oposto, a mão dela desce, por cima da camisa dele, e entra na calça, segurando a base do pau dele com a mão para baixo; a outra mão dele já vai tentando chegar à calcinha, para desviá-la do caminho, e todos esses movimentos que o corpo naturalmente segue, sem muito raciocínio, evidenciando o instinto animal do ser humano.
A saliva continua sendo gasta, mas espalhando-se ao longo dos corpos. Nucas, mamilos, pernas, pau, buceta, cu. Ela mistura-se com os fluidos lubrificantes naturais; a boca dele agora recebe um pouco da baba salgada da sagrada caverna; ela puxa um fio de gosma de uns 15 centímetros, que estende-se de sua língua ao pau dele. Impossível discernir, nesses fluidos, o que é lubrificação dos órgãos genitais e o que é saliva. Mas é possível ver muita vontade.

Gotas de Suor

A temperatura média do corpo humano varia entre 35,5 e 37º C, mas com os atritos pacíficos entre os corpos parece estar mais de 40 graus. Os dois começam a suar. O gosto salgado do suor mistura-se às respectivas babas genitais, tanto na sua origem quanto nas bocas a que destinaram-se. O sexo afirma-se sempre como prato principal (porque se fosse sobremesa, seria doce).
Embolam-se completamente formando um corpo disforme. Quebram a lei da física, de que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço: ela preenche seu amor oco com a vara que oprime tantas vidas há séculos, mas que nesse momento dá vazão aos desejos mais animalescos que há dentro dos dois.
Embora agora estejam mais juntos do que em qualquer momento anterior, com um dentro do outro, não há mais atrito; a lubrificação mútua faz os movimentos deslizarem suaves, mesmo que os dois estejam forçando contato. Está tudo tão molhado que ameniza o impacto, e ele acaba sempre deslizando para o interior.

Gotas de Porra

A constância dos movimentos, o ritmo, o rebolado dela. Aquele invólucro de gosma na pele, que facilita os movimentos e vai aumentando o prazer. Os dedos dele pressionam e escorregam e voltam a pressionar a campânula acima da entrada, enquanto uma parte dele entra e finge sair e entra novamente. Ela ainda agüenta um pouco mais. Ele está explodindo.
Ela mexe de um jeito que enlouquece os dois, evocando talvez dons ancestrais escondidos pelo superego; ela gosta cada vez mais dos esbarrões em toda a sua buceta; ele precisa segurar-se um pouco mais para ela poder transcender. Os movimentos dela estão em progressão geométrica de alternância e pareceu atingir um nível máximo de poder. Ele tentou, mas não dá mais para segurar. Ele sente sua mente indo ao ponto mais extremo do universo, quando tudo fica confuso e escuro, e o caminho até lá começa pela base do seu saco, e vem crescendo junto com a viagem astral, explodindo em um mar de porra dentro do buraco feminino, que coincide com a sua volta ao mundo real.
O movimento dela não para mas ele diminui levemente com as mãos a freqüência dela, e vai diminuindo assim o ritmo de entra e finge que sai e entra de novo. Ela sente a enxurrada que está dentro de si, e agora o movimento mais lento, mas ainda contínuo, vai transformando a porra líquida em pedaços mais gosmentos e mais sólidos. Ele tira um pouco da pressão que seu dedo fazia ao redor do grelo, inconscientemente. Seu corpo está relaxando aos poucos. Ela sente o fim do momento e dá uma sentada derradeira no colo dele, colocando todo o pau para dentro, o máximo que pode, e deixando escorrer os blocos de sêmen solidificados, aos poucos. Voltam a trocar beijos.

Gotas de Água

Para que a porra não respingasse a parte líquida que eventualmente escorresse,  os dois correm, satisfeitos (talvez mais ele do que ela, afinal, alcançou o nirvana animalesco), para o banheiro. Ela entra no box, e começa a lavar-se. Placas de porra escorrem em suas pernas, tornando-se estranhamente uma espécie de gelatina quando entram em contato com a água. Ele para em pé, na pia, bota para fora a cabeça do pau, toda melada, e começa a lavar; gelatina também. Ela enquanto se lava percebe que também está tirando muito da sua baba natural.
Ele entra no chuveiro com ela. Tomam banho juntos e aquelas gotas de água morna os traz de volta à normalidade: nem falar de trabalho, nem transar como animais; olhar o outro como um par que escolheu para viver junto. Não há nada mais humano do que a tentativa de racionalizar o sexo e criar emoções ligadas a isso. Os toques das mãos agora não geram mais tanta lascívia, mas um carinho especial. Uma sensação de estar sendo amado e de ser entendido por alguém no meio de milhões. As gotas de água do chuveiro tiram todo o estresse cotidiano do corpo e o leva para o ralo, enquanto o casal abraça-se debaixo do chuveiro.

Gotas de Iogurte

A rotina continua, mas já tem data para ser quebrada: 1º de abril. Não se trata de uma inversão do dia pela brincadeira do dia da mentira, mas de uma viagem para o Nordeste, com a família dele. Passam-se dias e o instinto vampiresco de ver sangue não é saciado; mas o casal, um pouco desregrado e distraído pelas férias, não presta atenção às regras, literalmente. E assim passam-se semanas.
Voltam para o lar, e a vida a seguir seu ciclo, com a companheira rotina sempre descansando por cima do teto. Mas uma mudança faz a rotina ficar abalada: o café da manhã, sempre preparado por ele, passa a não ser consumido por inteiro. O pão fica pela metade e é levado por ela para comer mais tarde; o iogurte sobra quase metade no copo. Ela alega não estar conseguindo comer tudo, está embrulhada.

Gotas de Mijo

Todo dia o café pela metade. Ele já estava meio de saco cheio, parecia desfeita: acordar às seis e pouca da manhã, horário totalmente inadequado para alguém estar com os olhos abertos, ele fazendo sanduíches com recheios deliciosos, e ela sempre com aquela cara de desgosto ao comer. Desanima, mas ele continuou fazendo.
Ela apareceu gripada, e quando foram ao mercado, ela decidiu passar na farmácia para comprar remédio. Ele foi junto, mas enquanto ela pegava o dinheiro para comprar o antigripal da vida, ele foi e pediu ao farmacêutico um teste de gravidez instantâneo. Ela olhou para ele, estranhando; "ih, você tá curioso...". Ela pagou o remédio, ele pagou o teste e foram embora para casa.
Era véspera do aniversário dele, 11 de maio. Leram com atenção as instruções do teste na mesa da cozinha. Subiram, ela mijou no potinho e ele colocou o palito do teste dentro. Nenhuma tira vermelha significaria resultado inconclusivo. Uma tira significaria que não está grávida. Duas tiras, grávida.
Duas tiras.
- Pô, você podia ter deixado para me dar esse resultado amanhã, como presente! - exclamou ele.
- Mas foi você que fez o exame! - ela devolveu.
Ficaram felizes mas não tinham certeza. Podia ser alguma alteração da urina, e o exame indica "apenas" 99,9% de certeza.

Gotas de Sangue

No dia 12 de maio ficaram quietos, almoçaram com a família dele. O aniversariante morria de vontade de ter certeza, mas não podia falar nada. O dia passou e procuraram saber sobre exame de sangue para confirmar gravidez. O horário de coleta já tinha acabado em todos os laboratórios. O resultado podia sair no mesmo dia no sábado, dia 13, véspera de dia das mães. Tinham que tentar.
Acordaram às 7 horas da manhã no dia seguinte e foram ao laboratório para que ela tirasse sangue. Ela tirou e o resultado ficaria pronto na segunda-feira ou às 19 horas do sábado, se desse. Torceram.
Já tinham marcado com familiares e padrinhos um almoço para comemorar o aniversário dos dois. Fizeram comida para um batalhão e encheram a casa. Comeram e divertiram-se com o pessoal. Às 19 horas ele entrou no site para verificar se o resultado havia saído. Não. Apenas segunda-feira. Acabou a festa, e a euforia junto.

Gotas de Lágrimas

Depois de arrumar um pouco da bagunça, ele resolve checar de novo. Já são quase oito horas da noite.  O resultado saiu:
>25.000 positivo;
<25 .000="" b="" negativo.="">


Resultado: 128.663

A rotina estava quebrada. Conteve-se, pois ainda tinha visita em casa, e queria ter o momento deles. Avisou discretamente a ela. Levaram a última visita em casa. Voltaram no carro conversando normal. A ficha ainda não tinha caído. Voltaram para casa e viram o diagnóstico juntos. Choraram de alegria. Sabiam que a vida ganharia um nível de dificuldade, mas viam que a rotina seria quebrada por um pequeno ser que simbolizava algo especial para eles.Um ser surgido de cuspe, baba de buceta e porra, do que há de mais animal no homem; mas que estranhamente começaria como uma coisa pura e inocente.
Depois que a ficha caiu, as lágrimas de alegria seguiram o mesmo fluxo e não pararam mais de cair. 
E a rotina certamente foi quebrada.

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Nota do autor: foi a PRIMEIRA VIAGEM que fiz com a Luciana em que ela não ficou menstruada durante algum momento. True story.

Um comentário:

Luciana Almeida disse...

Nossa história!! E que agora percebo que só está começando... <3