quinta-feira, 18 de maio de 2017

Desejos

No mesmo lugar de sempre. Ele terminou sua refeição, e agora, como já é usual, procura por ela. Comeu como um touro, e o encontro com ela passou a fazer parte do que o próprio chama de terapia: alguns minutos com ela e ele já estaria disposto a voltar ao batente; quando ela não estava, ele voltava à mesa do almoço, permanecia por horas a fio, olhando para algum ponto qualquer, sem olhar nada.
Ela não estava lá, mas havia uma outra. Mais nova. Hesitou. Fez a aproximação mais cuidadosa, e esbarrando levemente nela, sentiu-a: era firme, possuía uma rigidez no lugar da flacidez da outra. Aquilo não ajudava.
Ele já estava acostumado à flexibilidade da outra; a facilidade com que ficava molhada por inteiro; o modo como ela encaixava-se suavemente em suas mãos e deslizava por onde ele passava. Mas tentou. Pegou de mal jeito, e percebeu que realmente, ela era toda dura. Não caiu-lhe perfeitamente na mão. Mas tentou, mesmo assim.
Após algum tempo, ela não estava molhada por inteiro, mantinha-se meio seca, se é que era possível isso. Ou apenas era um bloqueio de sua mente. Mas assim é a vida. Provavelmente nunca mais encontraria a outra (a essa hora, onde estaria? Talvez jogada em algum lixo por aí); e afinal de contas, a "outra" havia substituído uma outra anterior a ela... E é assim que o mundo gira.
Foi horrível, mas ele sabia que com o passar do tempo, essa nova acabaria ficando mais maleável, exatamente como era a esponja velha.
Ele odiava lavar a louça, ainda mais quando trocavam por uma esponja nova.

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