quinta-feira, 22 de março de 2012

Eles Esperam você pôr as botas

Nove e meia. A porra do celular desperta. Você senta na cama, olha para os lados, sente um calor filho da puta. Mas o calor é para os fracos, e a responsabilidade também. Embora sinta que dormiu bem, e está disposto, você programa para tocar daqui a 15 minutos.
Nove e quarenta e cinco. O celular, novamente. Agora vai. Senta na cama, desliga o celular. Olha para o ventilador... esse vento é o que salva nesse calor escroto. Deita com o celular no peito, apenas para fechar os olhos por 3 segundos e levantar, totalmente disposto (pois percebeu que às nove e meia você parecia estar mais disposto do que agora, estranhamente).
Dez e dezenove. Você acorda, olha a hora no celular, e sai levantando para não ficar nessa enrolação até meio-dia. Afinal de contas, a merda do sol já está tornando seu quarto uma estufa. É melhor tomar um banho - você pensa, e assim faz. A sua objetividade às vezes espanta, já que assumidamente é um desorganizado, descompromissado e totalmente aéreo, mas parece friamente calculista em seus pequenos atos. O banho acaba e você olha no espelho a barba; foda-se a barba, o que importa é a cueca e a bermuda. E o desodorante.
Já são quase onze horas. Checar e-mail e ver se alguma coisa de interessante surgiu no facebook... Meio-dia e você ficou só vendo coisinhas engraçadas, leu uma ou duas matérias sobre vacilos religiosos e o tempo passou demais. Hora de almoçar. Sem pressa. Continua com a sua aparente frieza. Eles sabem disso.
Você almoça. Coloca um som no computador, para relaxar depois do almoço. Não necessariamente a música seja relaxante, pelo contrário, mas faz você relaxar... na verdade, então é relaxante - você pensa que inventou um paradoxo. Idiota.
Bebe um suco, vai escolher uma camisa - e com "escolher", você quer dizer pegar a primeira que aparecer que não esteja totalmente amassada. É de botão - merda! Mais trabalho...
Você termina de abotoar. Já está quase pronto, e eles sabem disso. Desde que acordou, e mesmo depois de sair do banho, colocar a bermuda, o tempo todo você estava de chinelos. Eles observam. Você deixou aquela tarefa por último - a mais chata, a mais escrota: botar o tênis. Uma merda de um ritual: meia esquerda, meia direita, tênis esquerdo, tênis direito, cadarço direito (ou então "nozinho-laço-laço-faz-a-borboleta-aê!-direito") e cadarço esquerdo (ou "nozinho-laço-laço-faz-a-borboleta-aê!-esquerdo"). Pronto. Você está pronto!
Dá uma checada nas suas paradas, de bobeira, e vai se despedir de quem quer que seja. Nisso você sai de casa, olha para trás. Ninguém. Sente uma pontada. Continua andando, acreditando que não se trata de nada grave. Segunda pontada. Acelera o passo, já está próximo ao portão de casa. Terceira pontada e uma gota de suor surge na testa. Sua mão falha ao tentar abrir o portão. O braço desarma. Renda-se.
Você volta. Abre a porta de casa, corre para o banheiro. Tira a porra da camisa de botão, que parece agora um casaco de pele, fazendo-o suar feito um porco. Chuta os filhos da puta dos tênis, de qualquer jeito. Tira a bermuda e caga.
Poderia ser antes do banho. Poderia ser logo depois do banho. Qualquer hora que você ainda estivesse de chinelos... mas eles esperam você colocar o tênis! Eles esperam você colocar o tênis, porque fica mais difícil tirar a bermuda, a cueca... tem que tirar o tênis para se lavar... cagar de tênis é algo ridículo. Eles sabem disso. Eles aguardam você colocar o tênis!

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