terça-feira, 1 de setembro de 2015

Prazer

Sete e meia da manhã. Faltam ainda trinta minutos pra porra do mercado abrir. Passo lentamente em frente ao mercado, no passo das sete e meia da manhã, e vejo muitos deles, a grande maioria é de velhos, amontoando-se em frente ao portão, fechado ainda. Dá para acreditar em uma sociedade onde as pessoas formam filas para entrar no mercado uma hora antes de o mesmo abrir? Romero estava certo.
Como estava a caminho de casa, pensando em bater uma punheta para relaxar, e quem sabe, dormir, ou trabalhar, depende de como a gozada vai me fazer sentir, comecei a pensar se tem algum sentido essa fila para entrar primeiro no supermercado. Não é possível, tem que ter alguma compensação. Os produtos não fogem das prateleiras. Não vai acabar tudo no mercado. Tem que haver alguma recompensa para o primeiro, ou os primeiros a entrar no supermercado. E como o ser humano é complexo, e quase sempre hedonista, mesmo que não se reconheça como tal, assim como existe prazer bebendo mijo, comendo merda, lambendo meia-calça, vai que entrar primeiro no supermercado dê um tipo de orgasmo que nem os asiáticos malandrões do Kama Sutra descobriram?
Esse pensamento veio acompanhando, é óbvio, pela lógica: muitos velhos ou pessoas que você julga serem feias (ok, opinião minha, mas passe em frente ao supermercado; mesmo beleza sendo relativo, haverá um consenso). Ou seja, pessoas que não devem transar. A velhinha, coitada, ninguém procura mais pra tocar aquela siririca nervosa dos idos tempos, da aurora da vida. O velhinho não consegue mais fazer o pau subir nem pela buceta (ou nem pelo caralho, dependendo da opção sexual do idoso). Pessoas feias transam quando querem. Mas vai que são religiosas... aí tem que esperar a pessoa certa, e pluft. Morre sem foder.
Então, para essas pessoas, cujo prazer não é comumente obtido via sexual (sim, pessoas feias transam, eu sei; viagra existe pros velhinhos, eu sei; e velhinhas podem se tocar, eu sei. Falaremos de um modo grosseiramente clichê, e este é o contrato que eu e você, caro leitor, temos - se não gostou, foda-se), a reunião antes do mercado abrir pode significar alguma coisa.
Uma primeira opção seria algo místico, tipo: abre-se o portal do prazer às 8 da manhã em ponto, que se encontra exatamente no portão do Guanabara, e o primeiro que entrar sente tanto prazer que acaba gozando, ou pelo menos sentindo aquela dormência meio cócegas, gostosa, levando ao cérebro a idéia de êxtase, e a pessoa fica feliz, relaxada.
A segunda opção é que o supermercado geralmente é um lugar grande pra caralho. Se a pessoa entrar em um horário comum, entra, faz suas compras, caminha normalmente pelo supermercado e sai. No entanto, chegando meia hora antes, ficam ali, todos próximos ao portão, aglomerando-se, com pequenos movimentos que visam a preencher mais a frente ou melhorar a ergonomia de suas posições. Esses pequenos movimentos acabam gerando uma histeria roçativa, e o roçar dos corpos pode ir causando aquela subida de ânimo pelas entranhas. Quando abre o portão, os corpos roçam-se com maior animação, e a freqüência dos movimentos aumenta, e quando todos estão tão grudados que não sabe-se mais o que é mão de um, calça de outro, o êxtase ocorre e aquela multidão tem uma descarga de prazer ao entrar no mercado.
Acho que isso poderia ser usado como slogan: "Hoje o supermercado abre mais tarde, às 9 horas. Você, que acorda tarde, terá a oportunidade de ser um dos primeiros a entrar no mercado! Chegue cedo e garanta seu orgasmo! Prazer garantido ou seu dinheiro de volta!" Sei lá, alguma merda do tipo.
Enfim, acho que enquanto meu pau estiver subindo, e meus dedos não caírem de lepra, e minha língua continuar fuçadeira, mercado, pra mim, só depois de já aberto. Mas quem quiser testar a teoria, só chegar, no Guanabara mais próximo da sua casa.

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