sexta-feira, 8 de março de 2013

Banho de água fria (ou Sobre a Finitude)

Você nasce chorando, de olhos contraídos, quando abre, você é uma criança, pulando e brincando; você pisca os olhos, e então é um adolescente, cheio de amor para dar e ódio para distribuir; outra piscada e vira um adulto, matando-se pelo trabalho e/ou dedicando-se aos filhos; tira um cochilo e já está velho, talvez com netos para paparicar, ou rabugento por todas as limitações que a velhice dá... e depois desse cochilo, se conseguir acordar depois do "só mais 5 minutinhos", já está naquela fase mais debilitada, quando tudo cansa, você já tenha bisnetos, ou esteja abandonado, um peixe fora d'água perto de todas as tecnologias que lhe cercam. E chega a hora de deitar pra dormir. Incrível como a morte de uma pessoa querida provoca esse choque de pensamentos, e você lembra (sim, porque você já SABE) que tudo acaba, o tempo passa rápido, todo mundo morre. Há pouco tempo atrás, eu era criança e minha mãe era a minha mãe, uma pessoa meio velha (em relação à minha percepção da época), mas não tão velha quanto minha avó. Agora minha avó já estava velhinha, cansada, quase não andava mais... e ela já não era só minha avó, ela também era bisavó de uma nova geração da família. E nisso você se dá conta, que bisavós não duram muito, essa é a sua experiência de vida, mas avós... avós duram muito! Mas... epa... eu já estou com 26 anos, e isso é muito!!! Então você se dá conta de que meio que foi no "tempo certo". E... seguindo a lógica, minha mãe já é avó! E eu, que só ouvia música e ia pra shows, e saia com os amigos, agora está difícil de marcar uma saída, pois todos têm horários diferentes, trabalhos... E a vida vai-se consumindo e você não percebe o tempo passar. A finitude sempre aparece na minha cabeça viajante como uma pedra, nesses momentos tristes. Mas para mim, o importante é lembrar dos bons momentos em vida, a morte sendo apenas um ponto final de uma história foda. Bom, esse texto vai em homenagem a meus dois avós maternos, Armando e Dalva; ela, que morreu agora, 6/3/2013, mesmo dia que meu irmão completou 28 anos. Abaixo, os textos que escrevi para distribuir pela morte dos dois. E por eu achar que a morte deve ser apenas o ponto final, prefiro falar com um certo humor das vidas deles, pois acho que isso é o que vale. Dalva Lourenço - 27/05/1931 a 06/03/2013 "Você nasce, pisca o olho e é adolescente, outra piscada e é mãe, tira um cochilo, vira avó, e se der sorte, consegue ter mais cinco minutinhos de sono, e quando acorda, vira "bisa". Pois é, Dalva chegou a esse estágio, em seus quase 82 anos. Não pode-se dizer 100% lúcida, mas com um senso de humor estranho, que a permitia brincar inclusive com sua pequena confusão mental. Fã de Silvio Santos e Coca-Cola (seu sangue, como costumava dizer), não abandonou nenhum dos dois até o final, mas estranhamente, foi perdendo a vontade diária de beber Coca-Cola nos últimos meses. "Tudo bem, dona Dalva?", "Tudo bom, nada presta!". E com essa mistura de reclamação e bom-humor ela levava a vida. Bom, os médicos podem até dizer que faltou ar, mas eu sei bem o que faltou... foi Coca-Cola!" Armando Lourenço - 30/10/1930 a 07/07/2007 "Sempre brincalhão, o 'Vovô Miau' mexia com quem passava na rua, mesmo sem conhecer. Algumas brincadeiras, mesmo inconvenientes, acabavam virando gargalhadas, pois todos conheciam seu jeito infantil. A rua perde seu pedágio de balas e as brincadeiras; a família perde um pouco da alegria. Mas histórias suas serão para sempre lembradas, e trarão felicidade. A tristeza não tem vez com o 'Miau'!"

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